Crítica | O Grito

No fim dos anos 1990 e início desse século dois filmes de horror japoneses praticamente abriram caminho para um novo estilo de terror ser cultuado no mundo inteiro. Esses dois filmes eram Ringu(1998) de Hideo Nakata e o Ju On( 2002) de Takashi Shimizu. O sucesso deles provocou uma febre de refilmagens americanas e franquias inspiradas nos dois e uma busca frenética para encontrar influências do J- Horror para realizar novos filmes usando as temáticas dos orientais. Surgiram também grandes filmes coreanos, tailandeses, enfim o terror asiático tomou de assalto o ocidente.

Das refilmagens, O Chamado (The ring,2002) é o que mais brilhou, dirigido por Gore Verbinski o filme norte-americano foi o que mais conseguiu transferir a atmosfera do filme original fazendo uma refilmagem digna. Já a refilmagem norte-americana de o Grito foi feita pelo mesmo diretor japonês do original, Takashi Shimizu, em um filme sem grandes destaques aproveitando pouco a ideia da maldição, ou em palavras mais brasileiras ‘’encosto’’ que as pessoas que passavam pela casa levavam para si. Em 2020 novamente com a produção do genial Sam Raimi (responsável pela produção da primeira refilmagem e suas dispensáveis sequências) e direção do novato Nicolas Pesce, O Grito (The Grudge) a maldição japonesa volta as telonas.

O filme gira em torno de uma casa, mais precisamente o número 44 da Reyburn Drive,em uma cidade pequena da Pensilvânia . Uma casa cercada de tragédias familiares e mortes inexplicáveis que ocorreram entre 2004 e 2006.Uma policial recém viúva e seu filho se mudam para essa localidade e ela passa a investigar e juntar o quebra-cabeça que liga tantas tragédias a esse endereço. Aos poucos vai descobrindo que algo muito sinistro habita aquela casa que se alimenta através de ódio e mortes quem ousa habitá-la ou apenas entra em contato com ela.

Aquela pergunta básica: Sam Raimi é claro tem créditos suficientes para fazer o que quiser, mas qual a necessidade de em 2020 termos um reebot de O Grito? Confesso que não merecíamos mais esse encosto e a resposta está nesse irregular filme dirigido por Nicolas Pesce com o apadrinhamento de Raimi. Se no início dos anos 2000, maldições, seres esbranquiçados com longos cabelos negros no rosto davam um ar de novidade ao cinema de terror, buscando na Ásia esse novo frescor para o gênero, em 2020, confesso que o mais do mesmo não funciona. O Grito é um filme fraco, bem dirigido sim, com câmeras chacoalhantes (marca do produtor) e uma fotografia até sinistra dando um ar de arrepio a casa mal assombrada.

Mas os sustos são previsíveis, o roteiro que até tenta ser interessante contando uma a uma das histórias relacionadas as pessoas amaldiçoadas pela casa, se perde um pouco na edição ligeira, provocando lacunas quando precisávamos de mais respostas e perdendo muito tempo em determinadas situações desprezíveis. O roteiro tem todos os clichês possíveis: desde crianças caladas e sofridas, idosos perturbados, portas que se abrem e fecham sem sentido, alucinações, dramas pessoais se confundindo com a trama fantasmagórica e assombrações loucas por sustos fáceis , gritos e pulos na tela, além é claro uma trilha sonora pavorosa e pouco criativa.

Uma pena desperdiçar tanta gente boa em um filme tão previsível. Desde Andrea Riseboroug, como a sofrida detetive Muldoon que tenta vida nova com seu filho na cidade, tem uma atuação extremamente fria e apática, que surpreende vindo da grande atriz que ela é. Somam se ao elenco nomes como Demian Bichir, Jacki Weaver outrora indicados ao Oscar , além de John Cho, Betty Glipin e Frankie Faison, excelentes atores que de suas atuações nada abrilhantam a apagada trama.

Pode ser que para uma plateia sedenta por histórias repetidas( nesse caso pela terceira vez em 20 anos), que gosta de sustos fáceis e uma boa dose de sangue ( sim o filme tem bastante gore e muito bem feitos, talvez um dos poucos acertos da obra ),o filme vai vingar e produzir uma boa bilheteria. Mas repito sempre: em tempos de grandes filmes de terror e uma safra de roteiristas e diretores querendo dar um novo gás criativo a esse gênero tão apreciado e cansado do mais do mesmo, O Grito, com o perdão do trocadilho, não chega a ser nem um pequeno gemido que nada acrescenta ao gênero e aos verdadeiros

Duração: 1h 34min

Direção: Nicolas Pesce

Elenco: Andrea Riseborough, Demian Bichir, John Cho

Sinopse: Em uma casa, uma maldição nasce após uma pessoa morrer em um momento de terrível terror e tristeza. Voraz, a entidade maligna não perdoa ninguém, fazendo vítima atrás de vítima e passando a maldição adiante.

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