Crítica – O Esquema Fenício

Se existe uma certeza sobre um cineasta e o que vai ser apresentado em tela, é que Wes Anderson vai nos apresentar um filme visualmente bonito, com sua estética que já é uma marca registrada. Mas como às vezes apenas o bonito na arte cinematográfica não é necessariamente a segurança de termos um bom filme, o nosso projeto do diretor dos tons pasteis e a perfeita simetria, que estreia essa semana nos cinemas, confirma essa máxima, que beleza não é tudo se não temos conteúdo. Falo de O Esquema Fenício (The Phoenician Scheme, 2025).
O Esquema Fenício se passa nos anos 1950 e conta a história de um inescrupuloso bilionário, Zsa Zsa Korda. Além de fazer negócios que sempre lhe dão muita vantagem, provoca a ira de empresários sanguessugas, terroristas e assassinos profissionais. Depois que sofre mais uma tentativa de assassinato, ao ver seu assessor explodir com uma bomba num avião e ele sobreviver à queda, Korda resolve pensar nos seus herdeiros. Tem muitos filhos menores de idade, mas encontra a salvação em sua filha, Irmã Liesl, uma noviça, quase freira, que faz cara feia à exploração sem limites do pai, mas acaba aceitando a herança de tocar os negócios dele para frente. Juntos, então, têm que enfrentar os tubarões do capitalismo, a anistia do pai que não hesita em procurar mão-de-obra escrava para seus projetos, e é claro, mais tentativas de assassinato. Como Korda é um sujeito intelectual, leva sempre à tiracolo o professor Lund, especialista em insetos, para nas horas vagas, ensinar ao magnata sobre a complexa vida deles.

Como defesa do diretor, não posso negar a ousadia dele de falar sobre aqueles planos estáticos com rigorosa profundidade, uma violenta explosão de bomba, com direito a corpos dilacerados num avião. Wes realmente ousou, saindo do lugar comum dos seus filmes com uma cena violenta com toques de comicidade. Mas essa ousadia ficou restrita por aí mesmo, com algumas nuances como os oníricos questionamentos de Korda e suas visões do céu, interpretadas por atores como Bill Murray, como Deus, e Willem Dafoe, como um anjo. Em suma, Anderson faz um filme com maior teor de ação de sua vida, dá tempero especial à história de espionagem, agentes secretos, conflitos de guerrilha, terrorismo, tudo com sua perfeição, com seus enquadramentos precisos, com exatidão das formas e cores características. E aqui, tenta de tudo para que O Esquema Fenício seja um filme engraçado, mas não consegue sustentar por muito tempo o humor que beira à repetição e monotonia.

Temos, claro, momentos de diversão, piadas certeiras, algumas beirando o nonsense, mas na maioria das vezes, apenas ensaiamos algumas gargalhadas comedidas. Mas com todas essas novidades, infelizmente mal inseridas no filme, Wes Anderson não consegue fugir da prisão estética e repetição constante das suas obras. O Esquema Fenício é mais um deles. E nesse, como se leva pouco a sério, nem a pseudo profundidade de alguns dos seus filmes anteriores se faz presente, tudo é em tom quase cartunesco, com cenas, às vezes, constrangedoras e humor que provoca mais bocejos que risos. Mais um lindíssimo espetáculo visual, onde uma pia de lavar os pés de um banheiro é magistralmente filmada, mas o vazio do roteiro provoca cansaço, que faz uma hora e meia de projeção durar uma eternidade.
O trio de atores principais que consegue segurar a trama. Mesmo usando vários personagens prolixos como de costume nas suas produções, dessa vez concentra nos três principais. Benicio del Toro, ótimo como o milionário Korda, com seu cinismo escancarado e vazio existencial gritante, Mia Threapleton, como a sua filha Liesl, que mesmo com aquele jeito apático da personagem serve como contraponto moral à falta total de ética do pai, e conforme a trama vai avançando, vai crescendo o personagem, e Michael Cera, como o professor Lund, também está ótimo, como um personagem típico do Wes Anderson, cheio de maneirismos, quase uma caricatura, e várias vezes lembra o saudoso Gene Wilder na aparência. E ainda temos Tom Hanks no filme, com uma participação curta, mas sempre bem-vinda.

O Esquema Fenício é aquele quadro que o cara consegue admirar por alguns minutos depois larga de mão, e no caso, como se trata de um filme, esses minutos se tornam mais de uma hora de prisão artística. Esse excesso de perfeição cinematográfica que chega a cansar os olhos, aliado ao raso roteiro de uma história que não acrescenta nada, mesmo que dessa vez com recursos mais corajosos utilizados pelo diretor, que por alguns instantes saiu da pasmaceira de sempre. Mas no cômputo geral o filme é aquele sanduíche bonito, bem montado, que salivamos ao observar, mas quando experimentamos é sem gosto, insosso e difícil de terminar, e no caso do Wes Anderson, a cada dois anos ainda insistimos em experimentar esse sanduíche, que quanto mais bonito está ficando é cada vez mais indigesto.
