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CRÍTICAS

Crítica – O Contador 2

Crítica – O Contador 2
  • Publishedabril 24, 2025

Se tem alguma coisa que ninguém quer ver nem pintado a ouro, ainda mais nessas épocas de prestar contas ao leão da receita federal, são os contadores. E o que dizer de um filme sobre um contador? Mas é claro que se esse contador for o Ben Affleck, um autista com super poderes intelectuais, com uma força e habilidade para lutas incrível, além de ser um exímio atirador, aí sim. Só que nas horas vagas, ele desvia milhões de dólares de empresas com negócios escusos, de mafiosos malvados e figurões do crime. Essa era a premissa de O Contador (The Accountant, 2016), que fez um bom sucesso há quase uma década. Neste ano, Gavin O’Connor traz de volta nosso anti-herói dos números e dos tiros em O Contador 2 (The Accountant 2), sequência que estreia nacionalmente nesta semana.

Oito anos dos eventos do primeiro filme, logo somos surpreendidos pelo assassinato do ex-agente do tesouro federal estadunidense Ray King. Com poucas pistas, sua ex-companheira de labuta, Marybeth Medina, apenas tem como uma luz que no braço de Ray estava escrito “Procure o contador”. Com isso, a agente federal tem que encontrar o misterioso fora da lei, que continua fazendo seus golpes milionários e morando num motor home em algum lugar da América. Unindo as forças, os dois tem também uma foto de uma família como bússola para enfrentar uma terrível assassina e uma rede de matadores que querem acabar com todas as pistas da morte de Ray. Christian Woolf, então, decide pedir ajuda ao seu irmão Brax, que também vive como matador de aluguel e segurança de luxo de grandes bandidos.

Até que demorou, um filme que arrecadou mais de 100 milhões de dólares de lucro, com um personagem com Ben Affleck capitaneando, uma sequência vir 9 anos depois foi uma eternidade. Mas que também ajuda o povo que pouco se lembrava do primeiro, a se entregar mais para essa sequência. Com a direção do mesmo Gavin O’Connor e roteiro de Bill Dubuque, repetindo a dobradinha, O Contador 2 praticamente repete a fórmula do primeiro, com a exceção de que acrescenta doses de humor (ou tentativas) e dá protagonismo ao irmão do contador, Brax. Quando digo que tenta provocar risadas é porque é tudo muito forçado, desde as tentativas de Christian se soltar hackeando sites de encontros, a sua dança country num bar caipira em Los Angeles, além de certa profundidade que não chegaria ao joelho de uma perna se compararmos com uma piscina, no relacionamento dos irmãos. Se no primeiro filme, Christian era apenas um obcecado por números e sistemas e uma máquina de matar, na sequência, o roteiro nos ensina que ele tem sentimentos, ou melhor, quer aprender a socializar. No resto do filme, além de um intrincado mistério, concluído com uma surreal e pífia descoberta, temos o que realmente interessa: muita pancadaria, explosões, tiros, corpos sendo empilhados em ao menos bem coreografadas e exímias cenas de ação, que farão os entusiastas se divertirem. 

Claro que temos os famosos estereótipos das crianças atípicas, quando a equipe, que nos bastidores com muita tecnologia, ajuda os herois no instituto Harbour, instituição mantida pelas falcatruas de Christian. Lá, um grupo de crianças e adolescentes, munidos de computadores turbinados, pode descobrir coisas que nem o FBI, CIA e o Pentágono conseguem, claro, porque são autistas super dotados com um hiperfoco incrível nas missões do colega Chris. Ou seja, o filme mais uma vez sugere que atípicos são todos gênios incríveis e que a única “esquisitice” é comer o mesmo tipo de refeição ou não saber falar. Mas voltando ao filme, confesso que achei o primeiro realmente fraco. Desperdiça o bom elenco num roteiro inverossímil e se perde em se levar a sério demais. Em O Contador 2, ao menos a produção chutou o balde e viu que Chrsitian Woollf é quase um Batman (piada idiota) enfrentando, juntamente com seu irmão (Robin, ou melhor Justiceiro…), uma legião de assassinos, tendo a agente do tesouro como a única a saber a indetidade dos fora da lei do bem.

Ben Affleck mais uma vez convence no papel de Woolf, dessa vez menos rígido e mais sociável, se permitindo a sair para beber, procurar dates, dançar e bem passos na noite, mas jamais perdendo a frieza assassina de um Rambo inteligente. Jon Bernthal está bem também como mano Brax, sempre carente, buscando o afeto do irmão (que por sua condição é quase impossível da forma como entendemos). É responsável pelos momentos mais divertidos do filme, se permite a ter um pet, mas sempre deixando um caminhão de cadáveres pelo caminho, principalmente de mexicanos ou russos… Cynthia Addai-Robinson é mais atuante como a incansável Marybeth tentando elucidar a morte do ex-colega. Daniella Pineda também não decepciona como a misteriosa assassina que não deixa rastros por onde passa.

O Contador 2 pouco acrescenta ao primeiro filme, aliás nem sei se teríamos necessidade de ter essa sequência, mas ganhar dinheiro é sempre uma necessidade. Típico do filme que poderia ser picotado em meia hora tranquilamente. Das duas horas de duração, uns trinta minutos servem apenas para colocar o sono em dia. Tem tudo para agradar os fãs de Ben Affleck, com todos os artifícios do gênero brucutu moderno, um roteiro com uma reviravolta das boas, mas com uma explicação patética, pitadas de humor sem graça, tecnologia dominada por jovens especiais que poderiam provocar uma terceira guerra mundial e um relacionamento de irmãos que com muita boa vontade podemos até encontrar um grau leve de entrosamento dos dois, ou como se diz com os atípicos, química de nível 1.

Written By
Lauro Roth