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CRÍTICAS

Crítica: O Conde de Monte Cristo

Crítica: O Conde de Monte Cristo
  • Publicado em: dezembro 2, 2024

Uma história boa, se bem contada, deve ser repetida quantas vezes se for necessário, ainda mais se houver qualidade nela. E com O Conde de Monte Cristo, clássico universal, publicado em 1846 por Alexandre Dumas, acredito que quanto mais reedições, séries e filmes sobre essa obra, para provocar curiosidade nas novas gerações sobre um épico dessa magnitude, é mais um serviço cultural que qualquer coisa. Em 2024, com banca de filme francês mais caro do ano e exibido em mostra não competitiva de Cannes, os diretores Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte apresentam ao mundo sua adaptação do clássico do século 19, O Conde de Monte Cristo (Le Comte de Monte-Cristo, 2024), que chega aos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, com três horas de duração.

A história é conhecida. Edmond Dantes é um jovem e corajoso marinheiro, que após salvar uma moça de um naufrágio, ganha uma promoção na sua companhia marítima, tornando-se capitão. Feliz da vida, se apaixona por Mercedes Herrera. Mas no dia do seu casamento, devido a uma carta dessa tal naufraga, é vítima de uma cilada e acusado de ser um traidor da pátria. É jogado na prisão El Castillo de If, em pleno alto-mar, só lhe resta esperar a morte chegar. Mas por lá conhece o Abade de Faria, um culto religioso, que além de fazer companhia para o rapaz, promete que se conseguirem fugir, uma fortuna os espera na ilha de Monte Cristo. Edmund um dia consegue fugir, parte para tal ilha e acaba achando a fortuna. Rico se torna o Conde de Monte Cristo e anos depois, arquiteta um plano de vingança calculista contra os três conspiradores que o fizeram ser preso.

Le Patellière e Delporte andam fazendo jus ao grande Alexandre Dumas nas telonas. Pela primeira vez, o cinema do país natal do escritor, através dos dois, está investindo em produções suntuosas dignas dos seus clássicos. Juntos já nos apresentaram como  roteiristas os dois filmes dos Os Três Mosqueteiros, em 2022 e 2023, dirigidos por Martin Bourboulon, adaptações de grande sucesso, não só na França quanto no mundo todo, e agora assumindo também a direção, resolvem adaptar o fantástico O Conde de Monte Cristo nas telonas. Mesmo sem ousar em grandes novidades narrativas, o enredo do livro só já fala por si, a dupla que assina o roteiro adaptado dá um tom de épico novelesco de prender a atenção para a incrível jornada de vingança do homem que passou anos preso e conseguiu voltar para dar o troco nos seus algozes.

Um show de imagens, reconstituição histórica, fotografia que abusa de planos abertos e monumentais, luz no tom certo e que impressiona na grande tela. Também o filme acerta em dar um tom mais fantasioso que realista ao filme. Ao contrário de um filme, mais sujo e com tintas de realidade, O Conde de Monte Cristo é quase um aceno teatral, limpo e perfeito, para agradar plateias atrás de filmes de fantasia. O tom mais introspectivo, com menos ação e cenas frenéticas, um incrível plano meticuloso, cheio de mistérios e reviravoltas, em que o Conde conta com dois cúmplices jovens, também sedentos por vingança, e a sua solidão amargurada para chegar ao seu intento, dá um ar de vilão elegante ao personagem, quase um psicopata com seus jogos mentais, que com seu charme, poder e astúcia, ludibria sutilmente  seus inimigos.

Pierre Niney dá vida ao grande personagem. Que de tanto sofrer só tem ódio no coração. Um papel físico, desde as tomadas em alto-mar, ao seu sofrimento nas masmorras até chegar ao auge como o enigmático Conde de Monte Cristo, que pouco tinha do humano Dantes. Bastien Bouillon esbanja cinismo e arrogância como Fernando Mondego, que por ciúme traiu o amigo para ficar com Anais Demoustier, Mercedes Herrera, paixão de Dantes, que ao perder o amor da vida, buscou conforto nos braços do desgraçado que acabou com seu marido. Todo o elenco brilha, com personagens fortes que formam o intrincado quebra-cabeça da trama.

O Conde de Monte Cristo é um grande épico, que faz juz à dimensão do clássico de Alexandre Dumas, uma reparação histórica dos conterrâneos que resolveram dar o verdadeiro valor em imagens ao texto de Dumas. Uma história de traição, amor, amargura e, principalmente, vingança banhada em ódio, que atravessa gerações, com algozes e vítimas definidos. Um novelão de primeira, com imagens magistrais, boas atuações e um enredo de primeira. Além de ser uma bússola para as novas gerações conheceram Dumas, e quem sabe, se interessar por suas obras literárias atemporais. E em tempos que filmes de duas horas poderiam ser podados para menos de 90 minutos, tamanha falta de roteiro, inventividade, ou seja, uma verdadeira encheção de linguiça, O Conde de Monte Cristo, com seus 180 minutos, ainda parecem poucos, de tamanho enredo, nesta superprodução francesa com ares de modernidade e uma aula de como adaptar uma história para as telonas sem perder o teor e prender a atenção de uma geração tão desatenta.

Written By
Lauro Roth