Crítica – Nas Terras Perdidas

Bem-vindos a um mundo com bruxas, lobisomens, princesas, fanáticos religiosos, cobras de duas cabeças, destruição, sombras e pouco sol. Enfim, esse é o mundo criado por George R. R. Martin no seu livro Nas Terras Perdidas, autor da cultuada série de livros das Crônicas de Gelo e Fogo, leia-se Game of Thrones. Esse mundo foi transportado para as telonas através de Paul W. S. Anderson e tem estreia no Brasil essa semana nos cinemas como Nas Terras Perdidas (In The Lost Lands, 2025).
Em uma distópica realidade, a Terra hoje em dia é um grande deserto, cercado por destruição, com pouca luz solar, quase que vivendo um limbo entre dia e noite. Quem dá as cartas é um moribundo, Overload, espécie de monarca, casado com a Rainha Rhaenyra, que só espera o velho morrer para tomar o poder. Ao mesmo tempo, uma igreja fanática com ares de tempos da cruzadas mantém na base da coação e medo a sofrida população. Certa feita, a Rainha procura ajuda de Gray Alys, uma bruxa que desafia a igreja, para nas Terras perdidas, buscar um lobisomem, matar o monstro e dar o poder para ela. Para essa empreitada, Gray busca Boyce, um aventureiro nômade, com uma cobra de duas cabeças como arma, para ajudá-la na grande aventura pelas terras inóspitas e abandonadas. Mas a vida deles não será fácil, já que a igreja, sedenta por vingança, porque Gray fugiu da força imposta por ela, vai ficar no encalço dos dois numa ávida perseguição.

Paul W. S. Anderson revive com Milla Jovovich a sua parceria da série de filmes Resident Evil e Monster Hunter, em mais um filme que mistura distopia, um mundo apocalíptico e muita ação. Inspirado no livro de George R. R. Martin, com roteiro do próprio Anderson, juntamente com Constantin Weber, o diretor nos apresenta quase um faroeste de ficção científica, com Dave Bautista como um cavaleiro solitário guiando a bruxa; Milla, no papel de Gray, enfrentando um mundo cheio de ruínas e um séquito grupo de fanáticos religiosos tentando impedir os anti-herois atrás de um lobisomem. Essa miscelânea de western, com fanatismo religioso, tensões da realeza à la Game of Thrones e cenário com cara de Mad Max, funcionaria bem se tivéssemos um roteiro mais elaborado. O filme em poucos momentos mostra uma seriedade nas motivações dos personagens, as traições palacianas são fúteis e rasas, a igreja que representa o poder é de uma caricatura que chega a incomodar e o vazio dos diálogos do filme causam aborrecimento. O personagem Boyce passa o filme inteiro falando frases e pensamentos que já vimos em diversos filmes e a bruxa Gray parece que não tem motivação clara para tamanho confronto, servindo apenas como estepe para as bem coreografadas cenas de ação e lutas, provando que a sintonia entre Milla e Anderson funciona muito bem.
Mas fora isso, o filme é uma fantasia que apesar de nos passar inúmeras informações e possíveis ubtramas não se aprofunda em nada, com personagens vazios que vão sendo eliminados (e não fazem falta nenhuma) um a um, além é claro, daquela pilha de corpos de figurantes capangas da igreja que vão sendo mortos sem dó o tempo inteiro.

Mais que efeitos especiais um tanto irregulares em CGI forçando a barra, talvez quem mais se destaque seja o diretor de fotografia Glen Macpherson. Abusando de tons sépia, dando uma impressão de calor constante, tomadas com planos aéreos mostrando ruínas, cidades destruídas e imensos desertos de pouca luz e sombras de uma outrora civilização, ele define a forma de como seria seu mundo imaginado depois de destruído. Inspiradas também são as desaceleradas tomadas de câmeras em lutas de Milla e Bautista contra os inimigos e uma cena do abismo numa cidade destruída tendo um ônibus escolar antigo como um teleférico com uma fenda entre um prédio e outro.
Os já citados Milla Jovovich e Dave Bautista comandam o filme. Milla faz o papel de sempre, uma solitária guerreira na luta contra tudo e todos, em brilhantes cenas de ação, é prejudicada por roteiros frívolos das produções em que atua. Dave Bautista, o ex-lutador de WWE, apesar de ter um personagem de puro estereótipo, manda bem no que sabe, que é descer o sarrafo nos outros, além de divagar frases prontas para dar um ar de profundidade ao seu vazio personagem. Mas mesmo assim não leva a sério e convence.

Nas Terras Perdidas, usando um infeliz trocadilho, não é uma perda de tempo total. É um filme visualmente bem feito, com uma história que é pintada como complexa, mas é de um vazio até proposital e de fácil entendimento. Uma fantasia com aqueles elementos fantásticos que citei no início da crítica, para entreter com um emaranhado de referências e inspirações, em um história pouco original, mas que serve como um passatempo para quem gosta de cenas de ação, distopias e dos filmes do Paul W. S. Anderson com a Milla. Se você procura algo complexo, robusto e rico, na linha de Game of Thrones, você está no filme errado.
