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CRÍTICAS

Crítica: Não Solte

Crítica: Não Solte
  • Publicado em: outubro 30, 2024

Existem filmes que são verdadeiras montanhas-russas. Às vezes começam bem, mas acabam diminuindo o ritmo, depois ficam bem melhores e por último, ou dão uma guinada ou simplesmente seguem lomba abaixo. Confesso que é melhor um filme assim, que um que é ruim o tempo inteiro, e no caso de Não Solte (Never Let Go, 2024), terror psicológico de Alexandre Aja, que estreia neste Halloween, é bem assim. Por vezes te aborrece e outras horas não te faz piscar na poltrona.

Momma e seus dois filhos, Sam e Nolan, moram numa abandonada casa de madeira no meio de uma floresta. Segundo a matriarca, o mundo exterior foi dominado por forças do mal e os três só sobrevivem se tiverem fé e jamais saírem sem estar amarrados a uma corda presa a casa. Numa penúria e penumbra total, caçam o que der, desde sapos, cobras e até cascas de árvores para poderem se alimentar. Nolan começa aos poucos a questionar essa tal existência do mal e quer romper essa corda de proteção que a mãe tanto zela, provocando um terrível embate familiar.

Com direção de Alexandre Aja e roteiro de KC Coughlin e Ryan Grassby, Não Solte, como disse na introdução, é um filme de extremos. No cômputo geral, acerta mais que erra, mas algumas decisões perdem totalmente o fôlego que conseguiu criar na metade do filme. Aquelas velhas fórmulas básicas do terror psicológico, em que nem tudo é o que parece ser, acabam se esvaindo no confuso e frustrante final. Mas quando explora temas como superproteção da mãe leoa, fanatismo religioso, necessidade de isolamento (provavelmente inspirado na pandemia de Covid-19) e sugestão de horror, nos apresenta um belo exemplar do gênero, criando uma atmosfera angustiante em alguns momentos. No momento em que os meninos tem que se virar sozinhos, com Nolan e suas dúvidas e Sam seguindo à risca a crença do mal, o embate entre os dois irmãos chega a provocar desconforto, de tão pesado e dramático que fica o clima na cabana de madeira.

Claro que o filme também usa como subterfúgios para dar susto alguns jump scares, seres bizarros que não sabemos se são imaginários ou reais, o próprio clima tétrico da cabana e da floresta amaldiçoada, todos elementos clichês de produções similares, que por incrível que pareça funcionam bem em Não Solte.

O que realmente incomoda no filme são as reviravoltas para o pior do roteiro. Ou seja, quando tínhamos tudo para ter um final chocante e realista, o diretor e os roteiristas simplesmente estragam tudo e todas as possíveis interpretações do filme acabam ficando reféns de uma imagem. Sim, uma imagem que não posso falar muito pra não dar spoiler.

Halle Berry está ótima como a mãe super protetora, que lembra uma fanática religiosa que pretende expurgar seu passado obscuro, livrando os filhos do mal que ela deixou para trás na sua vida pregressa, mas que hoje acabou se tornando uma alucinação apocalíptica e que só a defesa dos filhos num laço perpétuo pode vencer. Mas quem realmente dá um show são os meninos. Tanto Percy Daggs IV, como o desconfiado Nolan, quanto Anthony B. Jenkins, como o firme Sam, dão uma aula de atuação, criando os melhores momentos de tensão no filme, numa espécie de ruptura familiar e briga ideológica, principalmente no segundo ato, quando o filme realmente assusta e prende a atenção.

Mesmo com algumas decisões equivocadas do diretor e derrapadas na história, Não Solte é um instigante filme que nos atiça e provoca uma discussão atual num mundo tão dividido: quem está certo na sua crença ou na propagação de sua verdade? Pena que o irregular roteiro, ou a montanha-russa, em que o filme nos é apresentando, com subidas empolgantes e descidas frustrantes, e o pior, simplificando a discussão com um final decepcionante, nos deixando mais certezas que questionamentos, o que prejudica demais um filme que tinha tudo para ser marcante, mas acaba sendo apenas mais um na prateleira do mais do mesmo… 

Written By
Lauro Roth