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CRÍTICAS

Crítica: Mufasa – O Rei Leão

Crítica: Mufasa – O Rei Leão
  • Publicado em: dezembro 24, 2024

Sou daqueles que pensam que qualquer remake no cinema é um grande desperdício. Ao invés de se criar uma história original recauchutam clássicos. Mas uma coisa que me deixa mais intrigado é qual a lógica de fazer prequel de um remake? Quando em 2019 a Disney resolveu recriar uma das histórias mais incríveis e amadas, O Rei Leão (1994), em uma refilmagem em live action, o tal remake dividiu críticas, já que mesmo com uma beleza visual impressionante, o filme não tinha o coração do desenho animado dos anos 1990 e pecou em dar verossimilidade a animais quase perfeitos em falar e cantar. Mas, voltando ao tal prelúdio, chegou às telonas de cinema recentemente Mufasa – O Rei Leão, contando com a direção de Barry Jenkins, onde conhecemos a origem do pai do Simba.

O mandril Rafiki, juntamente com Timão e Pumba, em uma noite, resolve contar à Kiara (filha de Simba e Nala) a incrível história do seu avô, o Rei Mufasa. Descobrimos que o leãozinho vivia com seus pais, até que um dia, uma enchente o separou de sua família o que o fez ganhar ajuda de outro filhote de leão, Taka. Mufasa é mal recebido por Tanaka, pai do seu salvador, mas graças à nova mãe e ao novo irmão, acaba sendo adotado pela família leonina. Passados alguns anos, a alcateia de Tanaka é atacada por um  furioso grupo de leões brancos, restando à Mufasa e Taka fugir e procurar Mileli, um suposto paraíso dos animais, mas para isso ambos terão uma longa jornada enfrentando perigos, traições e surpresas pelo caminho.

Mufasa – O Rei Leão tem a  direção de Barry Jenkins, indicado ao Oscar por Moonlight (o filme venceu) em 2017 e o roteiro de Jeff Nathanson. Essa dupla consagrada em Hollywood foi responsável por dar mais veracidade e afeto aos fatos que contam a história do Rei Mufasa. O filme tem um esmero visual fantástico, com um grau de realismo incrível, que muito mais que emular um documentário da vida animal, consegue dar feições mais naturais aos animais, principalmente quando dialogam entre si e nos inúmeros números musicais da película. Talvez a maior queixa do remake de 2019 era que de tão reais as imagens, ficava difícil entrar na onda de leões faladores e cantores. Ao menos em Mufasa os diálogos animais e as canções têm mais versatilidade.

E quanto ao roteiro, Jeff constroi toda aquela atmosfera que fez o sucesso do primeiro filme de 1994. Temos uma ruptura familiar, um órfão sofrido que precisa a todo momento mostrar seu valor, uma amizade fraterna e acolhedora, bom humor vindo dos contadores da história e do macaco Rafiki, e é claro, uma odisseia recheada de perigos por todos os lados. Uma aventura redentora, com direito a desafios a serem enfrentados para chegar ao objetivo. Logicamente que no meio de tanta ação, em cenários exuberantes e batalhas leoninas, temos tempo para bastante sentimentalismo. Mais uma vez a separação familiar é o mote central do filme, sentimos uma pena do leãozinho desgarrado e torcemos para que tenha sucesso na busca dos seus objetivos.

E como em toda a odisseia, os personagens que acompanham nosso heroi tem sua vasta importância.  Rafiki, o macaco xamã, que com sua sabedoria e bom humor conduz a jornada, o pássaro atrapalhado mas fundamental nas ações para despistar os leões brancos Zazu, dando aquele alívio cômico na trama e a leoa Sarabi, que acompanha os dois leões na caminhada rumo a Mileli. Mas talvez a transformação de Taka em Scar seja o ponto mais baixo do filme. Fica difícil acreditar que aquele leão acolhedor, quase irmão de Mufasa, tenha se tornado o malévolo Scar na história do Rei Leão apenas pelos motivos apresentados na trama. Toda a maldade do futuro Scar surgiu quase do nada, sendo que ambos tinham uma linda amizade e por diversas vezes Taka era tudo o que Mufasa tinha na vida. Enfim, difícil de engolir essa história toda. E outro ponto irregular do filme é a falta de músicas realmente empolgantes, não é sempre que tem alguém do quilate do Elton John fazendo canções, como em 1994, e as canções de Lin-Manuel Miranda são agradáveis, mas longe de empolgar.

Mufasa – O Rei Leão tem mais estofo visual que seu antecessor de 2019, com animais mais realistas e mais coerentes com um musical falado, tem imagens recriando paisagens lindas com muitos closes aéreos, panorâmicos em um realismo visual de cair o queixo e segue o feijão com arroz básico das histórias da Disney, com muito sentimentalismo, aventura, filosofia barata em alguns diálogos soltos, uma aventura edificante e um final harmonioso e lacrimejante. Uma tentativa de fechar algumas arestas na história original, mas explicando pouco e apressadamente alguns fatos. Um bom filme, extremamente competente em cativar tanto aos fãs de Simba e sua turma, quanto à plateia em geral em busca de um simples entretenimento, mas fica apenas por aí mesmo…

Written By
Lauro Roth