Crítica: Morando com o crush | História com cara de fanfic água com açúcar

Hsu Chien é um diretor que, apesar de não ser brasileiro de nascença, está mais que familiarizado pelo tempo que vive aqui e pela quantidade de obras audiovisuais em que já trabalhou. Somente esse ano, o diretor esteve à frente de Licença Para Enlouquecer, De Repente, Miss, que estreou no mesmo dia que Morando Com o Crush (o foco dessa crítica).  

Mas, antes de falarmos mais sobre Morando Com o Crush, vamos continuar falando sobre a direção de Hsu Chien, pois o diretor está sempre à frente de filmes que tem, mais ou menos, o mesmo perfil: comédias genéricas com a presença de atores globais ou rostos conhecidos do mainstream.  

Isso pode ocorrer pelo currículo do diretor, talvez seja a especialidade dele,  o seu carisma que combine com o gênero, mas uma coisa é certa: todos os seus filmes são extremamente superficiais. Pois, não é porque trata-se de uma comédia que não podemos ter camadas, aprofundamento, desenvolvimento dos seus personagens até porque isso é o que se espera de qualquer filme bom, seja do gênero que for. 

São exemplos de filmes com a descrição acima Um Dia Cinco Estrelas (2023) e Desapega! (2022), o primeiro é sobre um homem que começa a trabalhar como motorista de aplicativo e vive um dia apocalíptico com o carro que tinha sido do pai. O segundo, é sobre uma mulher compulsiva, que começa a fazer terapia e como solução do seu problema faz um bazar com todas as coisas que comprou compulsivamente. Eu resumindo já soa superficial, mas assistindo a coisa pode ser pior e isso quase acontece com Morando Com o Crush. 

Confira o trailer de ‘Morando Com o Crush’

Qual o diferencial do filme teen diante de tantas obras bobas e superficiais? 

Morando Com o Crush, que tem a direção de Hsu Chien e conta com o roteiro de Sylvio Gonçalves (Ricos de Amor, 2020) chegou aos cinemas na última quinta-feira (23). Ele conta a história de Luana (Giulia Benite) e Hugo (Vitor Figueiredo) que são colegas de escola e estão apaixonados um pelo outro. Mas, os dois serão pegos de surpresa quando descobrirem que seus pais estão juntos e ainda vão morar juntos em outra cidade. 

O pai de Luana é Fábio (Marcos Pasquim) e a mãe de Hugo é Antônia (Carina Sacchelli), os dois trabalham na mesma empresa de tecnologia e por obra do destino foram transferidos para outra filial da empresa, que fica localizada em uma cidade do interior. Portanto, além da surpresa, vai ser uma mudança radical na vida dos quatro, principalmente, para os adolescentes. 

Na cidade, existe uma cultura forte de irmãos, planejamento familiar para que todas as famílias tenham mais de um filho e todos tenham pelo menos um irmão. Como argumento para se adaptarem ao local e como pré-requisito para entrarem na melhor escola da cidade, os pais de Luana e Hugo inventam que os garotos são irmãos biológicos para que garantam suas vagas na escola e sejam mais bem aceitos.   

Os dois se deparam com uma situação cada vez mais complicada e difícil de lidar, mas compram a mentira dos pais, porque apesar dos sentimentos que nutrem um pelo outro, eles prezam muito pelo bem-estar dos pais e a harmonia da família.  Até porque eles percebem que os dois estão muito felizes e apaixonados.  

Entretanto com a hiperconvivência e os sentimentos que já possuem, resistir as emoções vai ficar difícil e então os dois vão se render a paixão. Mas em segredo, pois além de esconder dos pais, precisam esconder da cidade que pensam que os dois são irmãos biológicos.  

Uma história que tem cara de fanfic água com açúcar

Há pouco tempo atrás, chegou no catálogo da Prime Video um filme chamado Minha Culpa, o longa-metragem é uma adaptação de livro e o primeiro de uma trilogia. Em resumo, a história é a seguinte, a mãe da menina protagonista se casa novamente, o padrasto da menina tem um filho, mais ou menos, da mesma idade que ela. Só que ele faz o estilo bad boy, os dois começam a viver um romance tórrido, mas em segredo por causa dos pais. 

É ou não é praticamente a mesma premissa? A resposta é óbvia, sim.  Não apenas de Minha Culpa e Morando Com o Crush, mas de dezenas de outras fanfics. Isso parece quase um fetiche popular, um envolvimento entre parentes que não sejam de sangue, mas que vivem sob o mesmo teto e tem o lance de ser “proibido”. 

A diferença entre os dois filmes é que Minha Culpa o foco é totalmente na relação dos jovens e, quando os pais descobrem, são contra o relacionamento e essa é a premissa para a sequência. Em Morando Com o Crush, como eles criaram outros conflitos, por mais bobos que sejam, são mais suaves e não é à toa que a classificação do longa-metragem é de 10 anos.  

Porque o foco dele é totalmente esses espectadores, pré-adolescentes. O filme explora, aborda e tem uma linguagem bem pré-adolescentes parecendo que foi feita por um. O que não é negativo, na verdade esse é o ponto mais positivo do filme, ele dialoga perfeitamente bem com o seu público-alvo.  

Mas, peca no que pontuei no início da crítica: a superficialidade. Visto que como pais, eles deviam ao menos conversar com seus filhos, perceberem que os filhos estão tendo algum tipo de envolvimento e ao descobrirem fazer alguma coisa, embora fosse conversar e ver a melhor maneira de lidar com a situação. Mas eles simplesmente deixam para lá, pois estão mais preocupados com os seus próprios sentimentos, ou seja, são pais omissos. Tudo é tratado com tom de comédia e superficialidade, realmente o único problema do filme. Além de algumas atuações bem forçadas, como é o caso de Cledir (Ed Gama) e Priscilla (Júlia Olliver).    

Nota:3/5 

Ficha Técnica

Título Original: Morando Com o Crush

Direção: Hsu Chien

Duração: 90 minutos

Elenco: Giulia Benite, Vitor Figueiredo, Marcos Pasquim, Carina Sacchelli, Juliana Alves, Ed Gama, Júlia Olliver

Sinopse: Morando com o Crush é uma hilariante comédia romântica dirigida por Hsu Chien Hsin, que narra as atribulações de Luana (Giulia Benite) e Hugo (Vitor Figueiredo), dois colegas de escola que secretamente nutrem uma paixão um pelo outro. No entanto, manter seus sentimentos escondidos torna-se uma tarefa desafiadora quando Antônia (Carina Sacchelli), mãe de Hugo, e Fábio (Marcos Pasquim), pai de Luana, decidem iniciar um relacionamento e morar juntos. A vida amorosa de Antônia e Fábio compartilha uma curiosa semelhança: ambos têm lutado com a sorte no amor desde que a esposa de Fábio faleceu. A partir desse ponto, Luana e Hugo são obrigados a dividir o mesmo teto, enquanto tentam lidar com a presença constante de seus pais e o crescente interesse romântico um pelo outro. Com uma mistura de situações cômicas e momentos de doçura, Morando com o Crush promete arrancar risadas enquanto mostra que o amor pode florescer nos lugares mais inesperados.

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