Crítica – Missão Impossível – Acerto Final

Em 2023, o diretor Christopher McQuarrie pensou em dar um fim para a aclamada série Missão Impossível. Mas como um filme de duas horas e meia é pouco para tantas peripécias de Tom Cruise, o diretor resolveu dividir em duas partes o tal final, fazendo Missão Impossível – Acerto de Contas Parte 1 (Mission Impossible – Dead Reckonings Part 1), e em 2025, a parte 2 iria concluir a saga do inquieto Ethan Hunt. Naquele ano, por mais sucesso que o filme tenha feito, foi varrido das memórias do cinema popular pelos fenômenos Oppenheimer e Barbie, em que só se falava deles por um bom tempo. McQuarrie, então, esse ano. volta com a conclusão do filme de 2023 (sem bonecas e bomba atômica pra encher o saco), sem utilizar uma parte de 2 e sim uma oitava parte, com Missão Impossível 8 – O Acerto Final (Mission Impossible – The Final Reckoning, 2025), com a tão aguardada conclusão da famosa franquia de quase 30 anos.

Dois meses depois dos acontecimentos do sétimo filme, o mundo anda em polvorosa com conflitos globais provocados por um inimigo chamado Entidade. A tal inteligência artificial quer que o mundo se renda a ela, tendo acesso ao arsenal nuclear dos países, provocando ataques hackers para ter o domínio sobre essas armas. A equipa da IMF, liderada por Ethan Hunt, precisa deter Gabriel, contato humano da Entidade, que precisa de Hunt para finalizar um plano de controle de seguranças dos sistemas globais de defesa. A turma do IMF, agora acrescida pela ex-ladra Grace e a assassina Paris, vai a locais como o Oceano Ártico e a África do Sul com o intuito de salvar a Terra da tal Entidade.

Uma das coisas que jamais pensei que aconteceria comigo ao assistir um filme da franquia Missão Impossível ocorreu na sessão de imprensa. Tive um belo de um sono, tamanha monotonia de quase uma hora de pasmaceira e enrolação da trama. Sim, o diretor Christopher McQuarrie tenta prestar uma homenagem à série enxertando imagens em flashback dos outros filmes, e através disso, tenta conectar os laços perdidos dos outros filmes, causando mais confusão que explicação. Se o problema dos filmes da Marvel é que o cara tem que ter visto quase todos os outros e lembrar de detalhes inúteis para entender a trama, o diretor McQuarrie, com roteiro dele e de Erik Jendresen, quis fazer um compêndio da evolução da série no filme. Só que esqueceu que em Missão Impossível a essência são as frenéticas e surreais cenas de ação, que fazem o povo ir ao cinema pra ver Tom Cruise fazendo mágica nas situações mais impossíveis.

Neste oitavo filme, além de um roteiro confuso, de difícil entendimento, MacGuffins em demasia, um inimigo difícil de engolir, mesmo com a Inteligência Artificial já tomando as rédeas de nossas vidas, o filme carece de seu propósito, que é entreter. Com essa emaranhado de referências, o espectador comum que não tem saco nem tempo para maratonar todos os filmes da série, vai ficar mais perdido que nunca tentando entender o intrincado quebra-cabeças proposto pelo diretor. Em determinado momento da trama, antes da chegada deles ao Oceano Ártico, o filme beira ao messianismo, com discursos vazios da ameaça da Entidade e como ela pode acabar com o mundo, tudo isso em quarenta minutos de diálogos modorrentos e complexos demais para quem quer ver o Ethan fazer suas peripécias. O filme tem um quê de Guerra Fria novamente, crise dos mísseis e de como tínhamos medo de alguma força incontrolável, que poderia apertar os botões e dizimar o mundo em segundos, lembrando alguns filmes apocalípticos dos anos 1980.

Mas para não dizer que o filme não tem bons momentos, o acréscimo de Grace (Hayley Atwell), como a ex mãos leve, hoje treinada pelo IMF e a assassina Paris (Pom Klementieff) na equipe, rendeu uma agradável sintonia ao time e até o esquecido William Donloe (Rolf Saxon), que não dava as caras desde o primeiro filme, está exilado no Alasca e tem papel importante na trama. Mas o que queremos ver é Tom Cruise, e mesmo num filme de duas horas e meia, que é econômico em cenas com adrenalina e tensão, ao menos em dois momentos elas são de causar frio na espinha. Quando Ethan tem que mergulhar no Oceano Ártico atrás do submarino Sevastopol para buscar um dispositivo que pode parar os ataques cibernéticos da entidade. Na cena, mergulha nas gélidas águas, sofre na volta para a superfície, se afoga, provocando descompressão. Mas, logicamente, sobrevive para em outra cena mais fantástica, nas paisagens da África do Sul, ter que buscar uma chave que contém um vírus para combater o programa do sistema da Entidade. Para buscar esse pen drive, rouba um avião e persegue o malvado Gabriel (Esai Morales) num combate aéreo com direito a nosso herói pular de um avião a outro e muita pancadaria nas alturas. E com a tensão que essa sua coragem pode salvar a vida na Terra, evitando uma guerra nuclear, com certeza essa cena por si só já vale o ingresso.

Missão Impossível 8 – O Acerto Final tem mais erros que acertos, tenta tardiamente prestar uma homenagem à franquia, mas tudo de uma maneira confusa e cansativa, tem um roteiro com detalhes minuciosos que requerem um conhecimento mais amplo da série, o que pode afastar o incauto que só quer diversão e não se lembra de nada dos outros filmes. O filme deixa de lado sua razão de existir, que são as incríveis cenas de ação constantes, e infelizmente não fecha de maneira inesquecível a tão aclamada franquia. Mesmo com um time afiado de atores e bons personagens, apenas a passagem do avião (que é excelente diga-se de passagem) e o excesso de nostalgia que abdicam da novidade para prender o espectador é muito pouco para nos saciarmos. Ainda mais uma série de filmes que transformou Tom Cruise em ícone de cenas impossíveis (e sem dublê) no alto de seus 63 anos e com muita lenha ainda para queimar.
