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CRÍTICAS

Crítica – M3gan 2.0

Crítica – M3gan 2.0
  • Publishedjunho 26, 2025

Em 2023, um inventivo filme de terror, que soube misturar com maestria elementos do gênero que marcaram os anos 1980, como um personagem marcante, crianças e pré-adolescentes, subúrbios, ficção científica caseira e uma dose certeira de humor. Esse filme foi M3gan, que contava a história de uma boneca criada para ser uma companheira perfeita e mandada pela sua dona, mas que acaba se tornando incontrolável e tomando vida própria, abusando da violência para defendê-la. Uma pérola com cara dos anos 1980 que fez bastante sucesso, com direito à dancinha da personagem que virou um clássico. Lógico que uma sequência era questão de tempo, e uma versão mais turbinada da boneca inteligente e boa de briga desembarca nas telonas essa semana, com direção de Gerard Johnstone, M3gan 2.0 (idem, 2025).

Dois anos depois dos acontecimentos, a tia Gemma, a criadora da boneca aloprada, hoje vive escrevendo livros sobre a responsabilidade do uso da inteligência artificial, não abandonando pesquisas de robótica. Sua sobrinha Cady, cada vez mais interessada pelo tema da profissão da tia, ainda sente saudades dos pais, da sua ex-boneca e passa o tempo entre aulas de aikido, idolatria por Steven Segal e querendo seguir o caminho da tia. Enquanto isso, o governo dos Estados Unidos aposta alto em robôs espiões que se transformam em máquinas de matar para serem precisos nas suas incursões mundo afora. Só que uma das suas bonecas espiãs, de nome Amelia, acaba se rebelando contra seus chefes e pode se tornar uma terrível arma que pode controlar o mundo. Ao mesmo tempo, um empresário do ramo de tecnologia, Christian, pretende desenvolver esses protótipos de segurança com inteligência  artificial segura, mas aos poucos vamos notando que existem interesses inescrupulosos atrás dele. Resta a Gemma e a Cady mais uma vez reconstruir M3gan, dando um upgrade na boneca, para com sua expertise e força, conseguir domar a sua rival robótica, a perigosa e violenta Amelia.

Com direção do mesmo Johnstone e com roteiro dele, o diretor consegue literalmente arruinar uma grande ideia. A continuação de M3gan é um dos filmes mais chatos e sem sentido do ano. Uma decepção, pois eu era um dos fãs do primeiro filme. A nova trama se afasta totalmente do terror e do humor sutil do primeiro para nos envolver numa confusa e nonsense história envolvendo tecnologia, espionagem, inteligência artificial, empresários inescrupulosos, agentes do FBI patetas, ficção científica e puxa demais pro lado do humor, daqueles que não tem graça alguma. 

Se o primeiro M3gan, por mais inverossímil que fosse criar uma robô boneca na garagem de casa, tinha aquele ar pueril de filme de terror do passado, esse cria uma história mirabolante, que empilha corpos de guardas que só servem pra isso, tem uma violência visual comedida (para não comprometer a classificação etária) e cenas que, se eram pra rir com tiradas rápidas, esqueceram de avisar o roteirista (que é o próprio diretor) que ainda estamos procurando a graça. Um filme que começa uma bagunça, com ares de filmes de guerra e espionagem, depois dá um ar de documentário e acaba mais de uma hora numa empresa de robótica onde esses 60 minutos se parecem uma eternidade. Fora as inúmeras explicações que não explicam nada, perdendo tempo em diálogos recheados de papo furado que nos entendiam, que só queríamos ver a M3gan aprontar algumas com as suas vinganças inventivas. O filme lembra a tamanha decepção, a continuação de Coringa, na semelhança que os dois diretores simplesmente arruinaram suas originais obras em sequências tacanhas.

Nem a volta dos atores do primeiro filme salvam o desastre. Mesmo a talentosa Allison Williams, repetindo o papel de Gemma, e Brian Jordan Alvarez como Cole, e as meninas Violet Mcgraw como Cady e Amy Donald como nossa boneca dançarina e assassina M3gan, salvam a trama, que tem um quê de Scooby-Doo com 007, com direito à vilão descoberto no final e planos malignos para dominar o mundo, descambando para um confronto de dois super robôs, tudo isso num preguiçoso e pouco envolvente roteiro.

M3gan 2.0, infelizmente, nessa ânsia de criar um debate (no caso vazio) sobre inteligência artificial, enterra de vez a aura charmosa do primeiro filme, numa obra que não se define no que vai entregar, tentando explorar mais a ação e a ficção científica e esquecendo o terror que tanto nos agradou no primeiro. Mais um caso em que o diretor, não contente em manter o básico que fez sucesso, só atualizando pelas beiradas as ideias, nos entrega uma história sem pé nem cabeça, onde as duas horas se transformam numa tortura, ajudando de vez a apagarmos da memória um personagem que tinha tudo para se transformar num ícone do gênero do horror.

Written By
Lauro Roth