Close
CRÍTICAS

Crítica – Lilo e Stitch

Crítica – Lilo e Stitch
  • Publishedmaio 20, 2025

Há 23 anos, uma mistura de coala, coelho e cachorro ou um Sansão da Mônica de Chernobyl, de nome Stitch, foi um dos maiores sucessos de animação da Disney. Além de ter vendido mochilas, lancheiras, camisas e pelúcias daquele alienígena outrora malvado, mas como nosso ET de Spielberg, só queria ser aceito e ter uma Ohana, leia-se uma família com a menina havaiana Lilo. Como ideias novas gastam o cérebro e podem dar prejuízo, a Disney, duas décadas depois, resolveu revitalizar o alien azul numa versão do filme em live action. Com uma poderosa ação de marketing antecipada, onde já vemos Stitch em tudo que é vitrine, o filme Lilo Stitch (idem, 2025), de Dean Fleischer Camp é a estreia mais popular da semana (e vai lotar a maioria das salas de cinema do Brasil).

A história pouco difere do clássico da animação de 2002. Stitch, uma criatura do espaço com vocação pra destruição e condenado pela federação espacial ao exílio, acaba roubando uma nave que pára na Terra. O cientista que o criou, Jumba, e um alienígena especialista no planeta azul, Pleakley, são enviados para cá para capturar a criatura. O ser acaba conhecendo uma menina órfã, Lilo, que mora no Hawaii. Ela vive com a irmã Nani, que acaba fazendo de tudo para não perder a guarda da irmã, procurando empregos e recebendo visitas de assistentes sociais. Mas a chegada de Stitch bagunça a família e faz Lilo se sentir feliz com seu “cachorro” companheiro, mas a paz das irmãs e do monstrinho azul é ameaçada, tanto com a perseguição dos alienígenas quanto pela CIA, que quer abafar o caso.

Como falei antes, quando as ideias não surgem, resta reciclarmos o que deu certo, mas no caso, a Disney consegue dar uma repaginada digna na história do Experimento 626 com fome de destruição, mais conhecido como Stitch. A criatura, por mais terrível que fosse, sempre teve como característica ser fofa e fez muito sucesso com a molecada. Ficávamos em dúvida como seria a recriação dele num live action. Com grata surpresa, ele está ótimo, mantendo o espírito bagunceiro e brincalhão e sua fofura característica, casando muito bem com a menina Maia Kealoha, como Lilo. Os dois funcionam muito bem na telona, jamais perdendo a essência do filme original, em que a busca por uma amizade verdadeira e um conceito de família eram o mote da trama. 

O filme pega leve um pouco com a questão da violência. Se em 2002 Stitch era destruidor, quase um Gremlin descontrolado, aqui ele é mais bagunceiro mesmo, não tão violento com humanos (no desenho ele socava pessoas e as jogava longe de forma deliberada), no live action acaba mais destruidor de coisas materiais. E o filme dá um recheio mais robusto para a história das meninas. Nani (Sydney Agudong), por exemplo, tem como sonho cursar biologia marinha, do que a criação da mana Lilo a faz desistir. Ao invés de termos como assistente social apenas Bubbles, nesse filme ele é um agente da CIA, e Tia Carrera (que dublou Nani na animação original) fez o papel da assistente do governo Kekoa, muito mais humana e ciente dos problemas de Nani com Lilo. Se Stitch está ótimo como criação de CGI, a dupla Jumba e Pleakley ficam um tanto fora de contexto na Terra. A solução usada foi eles se disfarçarem como humanos (Zach Galifianakis e Billy Magnussen, respectivamente). Jumbo, no live action, está mais psicótico, louco, malvado mesmo, diferente do paspalho do primeiro filme, em uma alteração da característica do personagem que não me agradou. Mas de resto tudo está no mesmo lugar que em 2002.

Com uma história mais atualizada, mais longa que a original e mais completa, Lilo e Stitch mantém a essência do seu original. A história de amizade entre Lilo e Stitch, conceitos de solidariedade e da importância de uma família, qualquer que seja, se mantém como características fundamentais do filme. Uma história simples tendo o Hawaii e suas ondas como cenário, muito Elvis Presley na trilha sonora (com direito a uma versão de Burning Love de Bruno Mars) e a busca por Ohana (família), termo que ficou famoso graças ao filme. Se não tivemos grandes novidades no roteiro, apenas algumas adaptações pontuais para funcionar melhor no esquema da live action, ou melhor, time que está ganhando não se mexe, a Disney acertou em cheio em retomar a história de sucesso de 2002. Além de caprichar no que mexe mais com quem assiste, os efeitos visuais, que no filme são super convincentes e agradáveis.

Podemos esperar mais uma geração consumindo muitos produtos do filme, tanto os oficiais quanto os made in camelôs. Mas o consolo é que dessa vez a campanha de marketing incisiva, além de ter ajudado, foi ajudada por um divertido filme, perfeito para famílias irem ao cinema, e mesmo com a pegada mais infantil da trama, Lilo e Stitch tem o poder de encantar todas as idades, num raro recente acerto da empresa do rato centenário.

Written By
Lauro Roth