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CRÍTICAS

Crítica – Invencível

Crítica – Invencível
  • Publishedmaio 6, 2025

O diretor Jon Gunn é um cara especialista em filmes com temáticas edificantes e abusa das pinceladas religiosas nas suas obras. Em Defesa de Cristo (2017), Movimento de Jesus (2023) e Uma Vida de Esperança (2024) são alguns deles, que baseados em histórias reais, mostram que com fé e boas ações, problemas de família e conflitos pessoais podem levar as pessoas a chegar à redenção. Na sua nova empreitada, produz e dirige Invencível (The Unbreakable Boy, 2025), que conta a história de um menino autista que também tem uma síndrome rara que faz seus ossos serem extremamente frágeis. Estreia dessa semana nos cinemas brasileiros.

Austin LeRette é filho de Teresa e Scott. Tem um irmão mais novo chamado Logan. Gosta de uma coisa que meninos de 13 anos gostam, sempre vê o lado bom das coisas, fala pelos cotovelos, ama seus pais. Austin nasceu com um síndrome rara nos ossos, que a mãe também possui, em que é suscetível facilmente a inúmeras fraturas desde pequeno, além de ser autista. Cada dia é um dia na família LeRette, e junto com o irmão e os pais, têm que enfrentar os problemas, tanto de sua condição especial, quanto às brigas familiares e o alcoolismo do pai, mas mesmo assim o menino sempre procura fazer de cada dia que vive o melhor dia de sua vida.

Jon Gunn adaptou ele mesmo o livro The Unbreakable Boy: a Father’s Fear, a Son’s Courage, and a Story of Unconditional Love, de Scott e Suzy LeRette. Na obra, o casal conta seus dramas familiares e de superação, tendo Austin como a joia rara e inspiradora para superar as barras da vida. E Jon Gunn tenta fugir um pouco dos clichês banais de obras do gênero e nos apresenta uma história honesta e tocante sobre a família LeRette. O casal, através de muito amor incondicional e doação, faz de tudo para Austin ter uma vida melhor e digna. 

Não faltam os percalços de sempre, falta de dinheiro, preconceito na escola, distanciamento familiar, o filho mais novo se sentindo rejeitado pela dedicação dos pais ao irmão especial, o alcoolismo de Scott e as dúvidas existenciais de qualquer pai sobre estar fazendo o papel certo em meio à cobrança da sociedade da perfeição na criação dos filhos. Talvez o erro do realizador seja o excesso de protagonismo e importância dado ao “chefe” de família, o que escanteia um pouco os outros três interessantes membros da família. Tanto Austin, que é a razão do filme, quanto Teresa, exímia gamer, a mãe que também teve que se sacrificar mesmo com a síndrome nos ossos para criar os filhos e o irmão Logan (Gavin Warren), que sofre tanto em casa, com certo descaso, quanto na na escola, onde sofre bullying. Um desperdício de três grandes papeis. 

Com isso, Gunn dá muita importância aos problemas de Scott e o ator Zachary Levi, por mais que tente, não consegue dar a profundidade necessária ao papel. Tanto o alcoolismo, que se resume a algumas cenas esparsas de consumo de álcool, até as constrangedoras cenas em que pede conselhos e ajuda do amigo imaginário (Drew Powell) para superar a insegurança dele, tudo é tão vazio quanto uma conta corrente normal de um brasileiro no fim do mês. Já a questão do espectro autista, fora alguns chavões de sempre, como um super QI e sintomas que lembram mais TOC, o diretor consegue dar um retrato digno à condição de Austin, com descontroles característicos, repetição, e no caso dele, o jeito tagarela de ser, em que o rapaz sufoca com tanta informação e foco no mesmo assunto. E o ator Jakob Laval, que não é autista (o que não tem problema nenhum), representa com muito esmero e muita vida  ao menino Austin, com seus desafios diários para ser aceito, sempre vendo o lado bom das coisas e tendo os pais e o irmão como seu porto seguro.

Meghann Fahy é Teresa, a mãe e esposa, com seus traumas familiares e de relacionamento, que tenta de tudo para salvar a família, mesmo que atitudes radicais sejam necessárias. Milagrosamente (amém), o diretor não abusa muito da pregação da palavra de Deus, tendo apenas a presença do pastor como amigo da família e reuniões do AA onde é citado o nome Jesus. Ao contrário, procura passar uma mensagem mais humanista, em que o perdão serve como mote para guiar nossas vidas e que as adversidades, por mais difíceis que sejam, estão aí para serem superadas. Invencível, mesmo com algumas derrapadas toleráveis, não deve desapontar o seu público e tem como ponto positivo, por mais que tente, jamais cair no excesso de melodrama. Talvez devido à presença risonha e cativante de Austin, que provoca mais conforto que lágrimas, o que não deixa de ser um gigante acerto. A mensagem mais inspiradora é que todos nós somos frágeis e inseguros, mas jamais devemos nos entregar aos tombos que levamos da vida. E que ao contrário do que imaginamos, não criamos os filhos à nossa imagem e sim somos moldados diariamente por eles. Deixando o ego de lado e abrindo o coração, essa criação fica um pouco mais fácil.

Written By
Lauro Roth