Close
CRÍTICAS

Crítica – Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes

Crítica – Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes
  • Publishedmaio 15, 2025

Desde que comecei a frequentar cabines de cinema e a publicar minhas críticas, sempre sigo o mantra de um dos maiores críticos de cinema do Brasil, o Goida, que diz que qualquer filme, mesmo pior que seja, a gente sempre aprende alguma coisa. Em suma, ser crítico de cinema é às vezes sair extremamente feliz por presenciar um grande filme ou às vezes desejar que aquela tortura acabe logo, tamanha chatice de um filme. Com Hurry Up Tomorrow – Além dos Holofotes (Hurry Up Tomorrow, 2025), do diretor Trey Edward Shults, que serve como complemento para o sexto álbum do cantor The Weeknd, confesso que fui muito profissional de não sair no meio da sessão.

O filme conta a história de um cantor em crise existencial, cansado, sofrendo de insônia e com dores na garganta que podem comprometer sua carreira. Ao mesmo tempo que tem que seguir firme sua tour, motivado pelo amigo faz tudo na sua vida artística, Lee. Abel Tesfaye, ou The Weeknd, ou ele mesmo, chora suas perdas amorosas, seus traumas e angústias e tem sua vida abalada quando conhece uma garota piromaníaca que o faz refletir de vez sua trajetória e os fantasmas que o atormentam.

Obviamente que ajuda muito o fato de um cara como eu não saber quase nada sobre a vida do The Weeknd. Falha minha, já que o cara realmente é bem famoso e canta razoavelmente bem. Mas nada justifica essa pretensiosa viagem existencial de um cara tão, digamos assim, vazio (ao menos no filme) como esse cantor. O diretor, usando como base o último disco do artista canadense, faz uma trip recheada de simbolismos, através de oníricos delírios, que mesmo não tendo obrigação de nos explicar nada, consegue fazer o filme ser mais chato que muitos filmes iranianos que alguns descolados adoram. 

E aí me pergunto: um cara pop como ele, com um bom número de sucessos construídos em 15 anos de carreira, acha que o público dele vai se encantar ou surfar na onda presunçosa de sua personalidade e nos medos mais escondidos de Abel Tesfaye (o nome do The Weeknd)? Mesmo tentando justificar tamanha profundidade em um jogo de imagens que todo diretor já fez para ilustrar em imagens traumas, como corredores sem fim, portas fechadas, ruas desertas, fogo e passado sombrio, com aquela fotografia que tenta passar qualidade mas é um déjà-vu padrão, tudo soa cansativo e exagerado. Mas enfim, eu não me encantaria com algo assim, nem se fosse com um filme com os devaneios de uma Madonna ou um Mick Jagger, quiçá eu me comover com os dramas tristonhos do Weeknd.

Se no palco ele até agrada, apesar de as cenas de palco do filmes serem pavorosas, mal filmadas e caricatas, o ator Abel tem uma atuação pálida, insonsa e rasa (mais ou menos como algumas das suas rimas…). Tenta ser audacioso demais ao invés de fazer um filme sobre sua carreira, mais acessível e direto. Acaba preferindo dificultar as coisas, num tremendo abacaxi sem pé nem cabeça. Barry Keoghan, como seu braço direito Lee, faz um personagem tão genérico e sem graça que em certos momentos não sentimos falta alguma da presença dele. Mas o mais incrível foi a talentosa Jenna Ortega ter entrado nessa barca furada. Ela faz o papel de Anima, uma fã obcecada por Weeknd, que acaba perturbando mais ainda a vida do já atormentado cantor. Com certeza Ortega deve ter ganho muito dinheiro para atuar nesse filme em um papel que dá vergonha alheia. As cenas em que tenta analisar a poesia das canções do cantor, fazendo coreografia, são patéticas.

Essa massagem no seu próprio ego teve origem num caso real da vida do The Weeknd, quando no ano de 2015, ele perdeu sua voz num show e resolveu rever a sua carreira. Maldita hora que isso aconteceu, talvez sem esse episódio traumático na vida de alguém que depende da voz para viver, teríamos sido poupados dessa bomba sem sentido que é Hurry Up Tomorrow. E se o The Weeknd matou seu nome artístico com o álbum homônimo e entrou numa nova fase musical, bem que poderia ter matado seu lado ator e nos poupado dessa bomba. Bons tempos que filmes ruins com cantores tinham músicas boas que valiam a sessão, como Moonwalker, com Michael Jackson, ou Purple Rain, com Prince. Filmes sem muita pretensão, apenas um veículo para divulgar a música pop e longe desse show de ego e atrevimento que presenciei hoje ao assistir essa esqucível película.

Written By
Lauro Roth