Crítica – Frankie e os Monstros
Em um mundo infanto-juvenil dominado por telas de celulares, jogos como Minecraft, Roblox, Fortnite e similares, milhares de criaturas do universo Pokémon espalhadas por cartazes e jogos, refilmagem de filmes de mais de 20 anos com alienígena azuis, fica difícil acreditar que uma animação com inspiração em literatura e terror gótico pode agradar a molecada. Mas essa foi a aposta do diretor inglês Steve Hudson no simpático Frankie e os Monstros (Stitch Head, 2025), filme que estreia essa semana nos cinemas com a árdua missão de levar as crianças às salas de cinema.
Em um vilarejo europeu com ares de século 19, a chegada de um circo de aberrações movimenta a população, comandado por um manipulador e insistente apresentador, que tenta vender suas assombrosas “criaturas” para os matutos da região. Só que o povo de lá não tem medo de mulher barbada e homem que contorce o corpo. No alto de uma montanha existe o castelo Grotescal, que segundo os aldeões, está repleto de monstros, esses sim que assustam os moradores. No castelo temos um cientista maluco, que passa seus dias dando vida, como um Dr. Frankenstein, a estranhas criaturas. Seu escudeiro é Frankie, sua primeira criação, um ser todo costurado. Sua missão é ajudar as criaturas que vão surgindo, avisá-las que os seres humanos são perigosos e podem acabar com elas. Mas Frankie tem mais sonhos e pretende um dia sair do castelo. O dono do circo, vendo possível potencial financeiro nos monstros, um dia consegue sequestrar Frankie de lá para exibi-lo no seu circo. O garoto cheio de costuras fica famoso, quase uma celebridade, mas um dos seus amigos monstros, a Criatura, resolve tomar coragem e resgatar o amigo, ainda mais que o tal dono do circo não passa de um cara ganancioso que só quer explorar os monstros.

Frankie e os Monstros, com direção e roteiro de Steve Hudson, é uma adaptação do livro infantil com ares de terror vitoriano de Guy Bas, Stitch Head. O livro de 2001 foi um sucesso de vendas e o que podemos dizer da animação de Hudson é que temos uma pueril e simpática história. À sombra de exemplos como Hotel Transylvania que elevaram a régua das animações envolvendo monstros bem acima, faz qualquer novidade ter que correr atrás, mas no caso aqui, Frankie e os Monstros não tem pretensão de concorrer com ninguém. O traço dos personagens funciona perfeitamente e as criaturas, por mais que sejam experiências audaciosas e teriam que ser horripilantes, são fofas e simpáticas. E não tem como não se encantar com Frankie. O menino costurado que apenas quer conhecer novos ares, se enturmar com humanos e ficar famoso, é com certeza, o personagem mais gracioso do filme. Os outros nomes, como a Criatura, o cientista maluco, o dono do circo, especialista em criaturas estranhas, e a própria Arabella, a menina da aldeia que se torna amiga do Frankie, são bons personagens, mas seguem aquele clichê básico das animações.

O filme também explora temas sensíveis para a criançada, como superar os medos, buscar aceitação, amizades verdadeiras e também brinca com a tentação, que é gritante nos dias de hoje com as redes sociais, como a busca da fama ou a ilusão de que ser popular é sinal de ser feliz. Tudo isso tratado de uma maneira bem humorada, lúdica e quase ingênua, o que talvez limite para nove ou no máximo 10 anos o público-alvo do filme. A ausência de um humor mais debochado, que faça todas as idades rirem também pode aborrecer os pais, o que serviria de estepe para levar a criançada ao cinema.
Frankie os Monstros é uma bonita animação, que se não traz muitas novidades nos traços e cores da película, ao menos é uma bela homenagem ao clássico Frankenstein, com toda a sua atmosfera de vilarejo, castelos e criaturas e nos provando que o pior mal não sãos aos monstros e sim o ser humano e sua eterna ganância. Ao contrário de alguns filmes recentes, onde a família toda pode se divertir junto, o foco mesmo são os pequenos, que podem se encantar com o meigo Frankie e sua turma de monstros medrosos, e se ao menos por uma hora e meia as crianças se entreterem por uma história rica em referências e com tom lúdico, deixando os celulares e os gráficos quadrados de lado, já é uma boa vitória.
