Crítica – Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor

Imagina a situação: um cara que é apaixonado por uma amiga, com a qual já teve um caso no passado, é convidado por ela, juntamente com uma menina que esta conheceu num bar, para terem um sexo a três no apartamento dele. Só que depois do prazer, as duas acabam grávidas. Essa é a premissa de Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor (The Threesome, 2025), com direção de Chad Hartigan.

O filme conta a história de Connor, um engenheiro de som que é apaixonado pela instável e divertida Olivia. Só que depois do tal ménage à trois com a delicada e conservadora Jenny, os três têm a vida virada de cabeça pra baixo. Ainda mais no momento em que o casal parecia que ia engatar um namoro sério, a gravidez simultânea das duas acaba abalando tudo, já que Connor precisa dar atenção às duas futuras mães e ainda tem dificuldade de abrir o jogo para a família de Jenny, que tudo surgiu de um sexo a três.

O nome em inglês, Threesome, tem tudo para sugerir quem for ao cinema que teremos uma comédia com temática sexual, muitas cenas picantes, em uma divertida relação de um trisal. Mas o diretor Chad Hartigan, com roteiro de Ethan Ogilby, nos apresenta uma trama madura, onde três pessoas, depois dessa experiência, tem que lidar com as consequências de seu ato. E toda essa montanha-russa que acaba se tornando a vida dos protagonistas, os obriga a criar maturidade e responsabilidade extra para enfrentar a inusitada situação. Desde os sonhos se rompendo, afinal Connor e Olivia estavam pela primeira vez se amando mesmo, fazendo planos com a maternidade e a chegada da notícia da gravidez de Jenny abalou de vez qualquer clima e perspectiva do casal, mesmo sabendo que a  filha deles está vindo aí. Jenny, estudante que ainda mora com os pais, parece ainda estar anestesiada com a situação, mas em nenhum momento exige mais que apenas a mínima obrigação de que o pai assuma de maneira digna o filho. Já Olivia, aquela garota cheia de vida, brincalhona e que parecia bem resolvida, têm dificuldades de controlar os ciúmes, ficando com raiva e desespero. E o mais incrível é que toda essa situação não advém de uma traição, de uma escapada irresponsável e sim de um ato natural e consentido do trisal de uma noite.

O diretor também acerta até na cena que gera toda essa revolução na vida deles, a cena do tal sexo à três é de uma sensibilidade rara, com muita sugestão e pequenes detalhes, jamais descambando pro explícito. A construção dos personagens é muito bem elaborada e o trio de atores tem uma convincente liga com destaque às atrizes Zoey Deutch, que rouba o filme como Olivia, e Ruby Cruz, que mesmo ofuscada por Zoey, brilha pelas beiradas num difícil papel. Jonah Hauer-King, que é o Connor, é o mais fraco dos três, mas segue uma crescente de atuação e brilha muito no final da trama, quando o caos domina a sua vida.  E até coadjuvantes, como o amigo gay deles, Greg (Jaboukie Young-White), que tenta equilibrar a balança emocional de Connor e Olivia, além de servir como bússola para Jenny, seu personagem é um escape de humor em uma situação tão séria. A própria mãe de Connor, interpretada por Julia Sweeney, também tem papel importante na trama na defesa do filho, assim como os pais de Jenny e a irmã de Olivia. Temas como aborto, gravidez e a própria fantasia que gerou o furdunço todo são todos tratados com muita maturidade, humor na medida certa e uma cativante sensibilidade, fazendo de um filme que tinha tudo para ser mais um despretensioso filme de pessoas brancas e seus problemas mundanos, numa tocante película.

Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor (um título patético para um filme desses) até não precisava ser uma tradução literal do original, mas com esse nome o que sugere é uma comédia romântica daquelas bem descompromissadas. Título que pode afastar o público de um filme muito bem acabado com ótimas atuações e uma das barras mais complicadas que já tinho visto no cinema, um drama pessoal que acaba envolvendo não três pessoas, e sim cinco, e de como o que poderia ser apenas uma noitada prazerosa pode mudar para sempre a vida dos envolvidos.