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CRÍTICAS

Crítica – Elio

Crítica – Elio
  • Publishedjunho 18, 2025

Em um mundo cinematográfico em que a preguiça de criar acaba apostando no mais do mesmo com velhos personagens e fórmulas para não assumir riscos financeiros, é louvável quando uma empresa como a Pixar, resolve criar algo novo. Entre aliens azuis serelepes e dragões domados, temos o lançamento de Elio (idem, 2025), uma singela história de um menino órfão que realmente não queria viver com os pés e a cabeça no planeta Terra. Com direção tripla de Domee Shi, Adrian Molina e Madeline Sharafian, a animação tem estreia marcada para essa quinta nos cinemas.

Elio é um menino que acredita não pertencer apenas à Terra. Órfão de pai e mãe, ele é adotado por sua tia Olga, uma militar que trabalha num centro de pesquisas espaciais e que não tem muita paciência com o garoto, mas sabe que sua missão é criar o menino. Ele passa o dia lendo publicações sobre vida alienígena, extraterrestres e tenta de todas maneiras comunicação através de rádios e transmissores com algum ser interplanetário. Seu sonho é ser abduzido por uma nave espacial.

E como às vezes temos que ter cuidado com o que desejamos, Elio acaba sendo transportado para o Communiverso. O local tem todas as espécies extraterrestres possíveis, de tudo que é aparência, uma fauna de criaturas de diversas cores e personalidades. O menino, como não é bobo, lança banca que é o líder da Terra para ganhar respeito. Com isso tem que encarar perrengues, como brigas de poder na federação de planetas, egos inflados dos líderes alienígenas, faz amizade com uma criatura que não quer seguir os passos de líder severo do pai e precisa também se decidir qual é o papel dele no seu próprio mundo, que é o planeta Terra.

Com direção de 6 mãos, a Pixar, com a distribuição da Disney, resolveu mais uma vez explorar o espaço para encontrar a molecada. Ao invés de utilizar novamente seu velho personagem, cria uma nova história com roteiro de Julia Cho, Mark Hammer e Mike Jones. Não é que Elio seja um filme ruim, mas ele está muito aquém do melhor que a empresa já produziu. Uma das características da Pixar era nos entregar histórias comoventes e cativantes, e por mais que a triste história do garoto órfão que busca no espaço seu lugar para enfrentar a solidão na Terra seja um mote em tanto, o filme carece realmente disso, de entrar a fundo nos reais problemas de Elio. O filme então acaba sendo apenas um belíssimo espetáculo de imagens, usando a tecnologia 3D e seus clássicos óculos, em que viajamos pelo espaço de maneira realista com o moleque e somos apresentados a um diverso mundo de alienígenas que fogem do convencional de sempre. Aí que também me deixou encasquetado, por mais que essa miscelânea de espécies hiper coloridas e esquisitas sejam interessantes, as criaturas não tem carisma e dificilmente vão encantar o público-alvo da película, crianças entre 4 até 10 anos. Sim, a história leve e por vezes bobinha, com pouca profundidade emocional, apesar da tentativa e correta premissa, ao contrário de outras produções da Pixar, não consegue furar a bolha de idade, pais serão meros acompanhantes da diversão infantil dos filhos que é o filme Elio.

A pouca exploração dos personagens terrenos, a própria tia Olga, que mais atrapalha que ajuda, e o garoto Elio, apesar de representar toda aquela curiosidade e mundo interior da maioria dos pré-adolescentes, ávidos por descobertas ou por algum lugar no espaço (não necessariamente o sideral), também não cativa e emociona como se projetava, um personagem bem intencionado mas sem muito recheio, nem humorístico, nem emocional.

Senti algumas referências óbvias como ET – O Extraterrestre (1982) na amizade do garoto com a criatura Glordon, e também a um filmaço meio esquecido mas que encantou minha geração na Sessão da Tarde, Viagem ao Mundo dos Sonhos (1985) de Joe Dante, o que ajuda a enriquecer um pouco a trama, mas que não garante o estofo necessário para sairmos comovidos e marcados com a película. O filme também aborda temas atuais como inteligência artificial, clonagem e as brigas entres os federados não diferem muito do caos terreno que leva nossa vida, dando um ar realista e atual para a trama, o que pode chamar a atenção do público.

Mas mesmo sendo um filme menor, do grandioso universo da Pixar, trabalha bem temas universais como amizade, respeito às diferenças e a busca por um lugar ao sol em um mundo novo. Drama que todas as crianças em fase de pré-adolescência sofrem. Um espetáculo visual caprichado, sensível e por vezes ingênuo, mas que salvo uma barrigada histórica do crítico aqui, vai ser facilmente esquecido e não terá um grande lugar de fala no meio dessas super produções que resgatam histórias já manjadas e que farão companhia ao garoto Elio nas salas de exibição.

Written By
Lauro Roth