Crítica: Aterrorizante (Terrifier 3)
Em 2016, o diretor Damien Leone, longe de inventar a roda, conseguiu dar luz a um dos personagens mais sádicos, perversos e sarcásticos do terror moderno. O palhaço Art. Com seu filme Terrifier, o diretor conseguiu levar ao mainstream novamente a ultraviolência, com mortes explícitas, muito gore e, para a grande maioria, um extremo mau gosto. O boca a boca ajudou em Terrifier 2, conseguiu um grande sucesso comercial, com a continuação, mais bem produzida e mais visceral (leia-se banalização da morte regada a muito sangue). Lógico que teríamos uma continuação e esta estreia no dia das bruxas no Brasil, falo de Aterrorizante (Terrifier 3, 2024), aguardada com muita ansiedade pelos fãs do gênero.
A história do filme (se é que existe uma) é que cinco anos após os últimos massacres do arlequim perverso, o casal de irmãos sobreviventes ainda carrega chagas físicas e psicológicas do episódio. Sienna passou por diversas internações para tratar o trauma e seu irmão Jonathan segue uma carreira na faculdade. Acabamos descobrindo que o palhaço Art, mais uma vez dominado por um espírito maligno, literalmente recupera a cabeça e fica companheiro de uma de suas primeiras vítimas, a mutilada e possuída Vicky. Juntos, sem mais nem menos, começam uma matança desenfreada, só que não no Halloween e sim na época de Natal, com Art fantasiado de Papai Noel tocando o terror em quem cruza por sua frente. Sienna, já fora da clínica, sente que corre perigo, e com seus tios e sobrinha, tem que lutar para evitar o confronto com o bufão maligno, já que todos correm risco de vida.
Confesso uma coisa: eu não tenho estômago e paciência para filmes como Terrifier. Sei que existe uma legião de fãs de splatter, gore e slasher que tem verdadeiros orgasmos com as mais crueis mortes que o palhaço Art comete, mas para minha pessoa, tanto esse terceiro quanto qualquer filme da série tem relevância zero no cinema de terror, ou melhor, não acrescentaram nada em vida inteligente ao gênero. Aliás, a única relevância foi levar para o mainstream esse sadismo insuportável desse palhaço idiota. E falo como conhecedor e apreciador do gênero de terror, mas Terrifier 3, no caso, não tem nada de novo, a não ser mortes cada vez mais explícitas e sem sentido, num banho de sangue sem motivação e com um roteiro medonho de ruim.
Se Jason, Freddy Krueger, Michael Myers eram máquinas de matar, ao menos tinha uma história construída, uma aura e um passado que tenta explicar as injustificáveis matanças. Mas Art não tem passado, não tem presente, não tem nada (apesar de o filme tentar buscar umas pífias conexões com possessões e escambau), apenas com suas caras e bocas sinistras, seu saco de ferramentas e um humor sem graça, dilacera corpos com uma naturalidade de extremo mau gosto. Nesse filme ainda tem a companhia de uma ex-vítima, que dominada por tal espírito maligno acrescenta em quase nada para a trama, servindo apenas como escada para o bozo assassino. Claro que o filme tem novidades, as engenhocas mortíferas do palhaço estão cada vez mais criativas, com direito a nitrogênio congelante, tubos para entrar ratos goela abaixo, bombas em shopping centers e uma motosserra. Uma cena do banheiro, em que ele dá uma lição, ao melhor estilo Jason, em jovens que transam no chuveiro, irá causar delírio em amantes de carnificinas, tamanha a violência da cena. O que não posso negar é que são cenas sempre dirigidas com muita competência por Leone, que não tem medo de ultrapassar todos os limites do mau gosto.
Outro ponto negativo é ter mortes de crianças. Por menos explícito que seja no filme, no cinema maisntream, usar esse artifício é tão baixo, no caso da cena da bomba, que fico pensando que um idiota como esse diretor não deve saber o que está fazendo ou que não tenha filhos.
Quanto ao cast de atores, mais uma vez David Howard Thornton encara muito bem o palhaço, usando caras, bocas e muita mímica, caprichando na aura assustadora e debochada do personagem. Tirando Lauren LaVera, a heroína sobrevivente do segundo filme, que tenta dar dignidade ao limitado personagem de Sienna, e Samantha Scaffidi, como a deformada Vicky, que com seus trejeitos, um misto de bruxa e demônio, tenta criar um clima de medo no filme. O resto do elenco só serve como carne fresca para as incontáveis mortes provocadas por Art.Aterrorizante, ou Terrifier 3, não é um filme para todos. Tem seus fãs e não são poucos, que irão delirar com as cenas de tortura, esquartejamento com direito a muitas vísceras saindo para tudo que é lado. Uma prova que às vezes um filme de nicho surpreendentemente chega ao mainstream. São duas horas cansativas e desnecessárias de um completo vazio de história pintado de vermelho, numa banalidade da violência sem sentido algum. E é exatamente isso que me aborrece no filme, a ultraviolência e o jeito explícito que nos é apresentada não é o grande problema, e sim a total falta de conteúdo e sentido nessa matança do palhaço. E por mais que o Art já esteja no rol dos mais perversos vilões do cinema, uma lenda do terror do século 21, continua um personagem vazio, sem graça, em um filme desprezível e grotesco.