Crítica – Anônimo 2
E Bob Odenkirk está de volta. Depois do inusitado sucesso de Anônimo (Nobody, 2021), que mesmo em época de pandemia e com distribuição limitada, conseguiu bons números no cinema, mas foi no streaming que o personagem de Hutch Mansell conquistou a simpatia dos fãs. Anônimo 2 (Nobody 2, 2025), o segundo filme de Mansell, uma espécie de John Wick atrapalhado, ex-matador que empilha corpos de desafetos que perturbam o seu caminho, mas que no fundo queria apenas comer lasanha com a família, estreia nesta quinta nos cinemas, e conta, dessa vez, com a direção de Timo Tjahjanto.
Passados uns quatro anos dos acontecimentos do primeiro filme, Mansell está endividado com a máfia russa até o pescoço. Para pagar suas dívidas, por ter queimado o dinheiro dos russos no passado, tem que se dobrar em missões arriscadas contra os mais diversos desafetos e conciliar com a família. Sua esposa, Becca, pede que pegue leve no trabalho e para que tirem umas férias. Mansell então resolve levar a família para Plummerville, onde no passado passou ótimas férias num parque aquático. Chegando lá, o parque não existe mais, mas no primeiro dia Mansell já se mete em apuros com fanfarrões locais e acaba descobrindo que por trás deles tem uma violenta contrabandista de nome Lendina, o que faz nosso heroi, literalmente, estragar as férias e ter que enfrentar a cidade inteira.

Se no primeiro filme, a trama procurou dar certa profundidade aos fantasmas pessoais de Mansell, mostrando passo a passo da metamorfose do pacato pai de família para a máquina de matar que era, em Anônimo 2, o roteiro e qualquer tentativa de criar algo novo na história, é praticamente zero. Timo Tjahjanto usa todas as armas que deram certo no primeiro, bom humor, uma trilha sonora com ótimas canções pontuando momentos chave do filme em grandes tiradas, lutas muito bem coreografadas, câmera lenta, tiroteio, explosões, muita pancadaria e sangue. E fim. O filme tem um roteiro risível, em que o pretexto é vermos Mansell enchendo um monte de gente de porrada, dando tiros e fazendo os desafetos voarem com inúmeras explosões. Além de apanhar bastante, característica desde o primeiro filme, um heroi vulnerável, pai de família e com o casamento balançado. Se no primeiro filme as cenas de ação ainda impressionam pela crueza e violência, na sequência a galhofa toma conta e quase como num parque de diversões de mortes (inclusive o cenário da matança final), vemos Mansell em divertidas e surreais passagens em um filme que nunca se leva a sério.

Ajuda muito que a trama decorre em menos de 90 minutos, por que mais que isso seria muito difícil encher linguiça com humor bobo e extrema violência sustentar um filme. Bob Odenkirk está mais solto e apostando no humor, mais uma vez como Mansell, o perturbado matador que só queria outra vida e curtir as férias com sua família, mas o interessante personagem do primeiro filme se evapora num vazio total, em que apenas a ação e o absurdo tomam conta, porém devido ao talento do ator, é sempre um grande barato vê-lo atuar. Connie Nielsen também está discreta, mantendo pouco protagonismo como Becca, apesar de ser importante no ato final, e Christopher Lloyd tem um papel maior que no primeiro filme, como o pai de Hutch. Sharon Stone dá as caras na trama como a cruel e ambiciosa Lendina, usando e abusando da caricatura de uma malévola vilã, apesar de que é sempre bom ver a atriz atuando e se divertindo na telona.

A continuação Anônimo 2 serve apenas como mais um canal para vermos o grande Bob Odenkirk atuando, e mesmo que baixando e muito a régua em relação ao bom e criativo filme de 2021, cumpre seu dever com sua diversão escapista de uma hora e meia, em que Hutch, nosso genérico e mais realista John Wick, já que além de enfrentar uma penca de pessoas querendo acabar com ele, ainda tem que ser um exemplar chefe de família, o que vamos combinar, é uma motivação mais nobre e respeitável que sair matando às ganhas para vingar a morte de seu cachorro…
