Crítica – Ameaça no Ar
Sempre que vejo filmes em que, cidadãos comuns ou com nenhuma experiência como pilotos são obrigados a assumirem um manche de um avião, devido à falta do titular, me vem à cabeça o clássico da comédia besteirol, Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu. No filme, uma indigestão dos pilotos obriga a aeromoça, interpretada por Julie Hagerty, a assumir o comando enquanto convence o traumatizado ex-piloto, em atuação de Robert Hayes, a domar o avião abandonado. E dessa vez quem obriga uma oficial federal a assumir um avião, já que o piloto é um psicopata, é Mel Gibson, no seu trilher aéreo Ameaça no Ar (Flight Risk, 2025), estreia eletrizante (parece clichê publicitário) da semana nos cinemas.
A trama do filme é simples. Winston, um contador de um grande figurão do crime, é preso no Alasca. O FBI o orienta a ser testemunha contra o ex-chefe em troca de livrar sua pele. Para isso é conduzido em um voo pela oficial Madelyn Harris para ser escoltado até Nova Iorque. O avião designado pela missão é de pequeno porte e é pilotado por Darryl Booth. Aos poucos, o que seria uma viagem tranquila até o continente se torna um pesadelo, já que o piloto é um assassino profissional com ares de psicopata, que a mando do mafioso, tem que matar o caguete. Nisso, a agente Harris e Darryl passam horas num embate dentro do minúsculo avião, enquanto Winton, algemado, só quer continuar vivo.
Ameaça no Ar é aquele filme perfeito para passar na TV aberta. Um suspense nas alturas com cara de Domingo Maior, Tela Quente e outros menos cotados. Mel Gibson, mesmo longe de sua melhor forma, consegue, apenas com três personagens e como cenário uma pequena aeronave, prender o espectador num jogo de gato e rato entre a calejada pelo passado oficial Harris e o sádico Darryl. Com 90 minutos e um orçamento enxugado para os padrões de Hollywood, Gibson entrega o que um filme de ação tem que nos mostrar. Muito suspense, reviravoltas de situações e pancadaria, num avião por hora descontrolado, já que a oficial ao imobilizar o bandido é obrigada a assumir a aeronave, num misto de Duro de Matar e Velocidade Máxima, recebendo coordenadas por um piloto via rádio.
O filme funciona muito pelo trio de atores. Mark Wahlberg, com uma careca incomum, está ótimo como o desalmado assassino Darryl. Ele provoca os dois passageiros o tempo todo com torturas psicológicas e físicas com uma frieza assustadora. Topher Grace, nosso eterno Eric Forman, de That ’70s Show, dá o tom mais leve e cômico à película como o contador falcatrua do mafioso, passando quase todo o filme acorrentado, sofre tanto nas mãos da oficial quanto do maníaco piloto, sem nunca perder o bom humor. Mas quem está ótima no papel é a britânica Michelle Dockery como a oficial Harris. Com uma culpa nas costas por ter fracassado em uma missão no passado, ela convence com altas doses de realismo a história. Ela bate, apanha, sofre, se irrita com os dois “colegas” de avião e não faz o tipo de super agente, é gente como a gente e não perde a calma quando obrigada a conduzir um avião naquelas circunstâncias, com um olho no peixe, outro no gato e outro no horizonte.
Ameaça no Ar é entretenimento puro. Sem firulas, grandes questionamentos ou muita lógica, ficamos por uma hora e meia embarcados junto com o inusitado trio por uma trama claustrofóbica, regada a pânico, violência e suspense, com três personagens distintos entre si lutando por suas vidas e suas missões. Nada de novo no front cinematográfico, cinema à moda antiga, que pode agradar aos mais saudosos por produções do tipo, e acredito que a tendência será de fazer mais sucesso nos streamings da vida, com o chamarisco de Mark Wahlberg nos enunciados, mas talvez tapando a inusitada careca.