A Noite devorou o Mundo – Digerindo o Apocalipse Zumbi
Desde a estréia de A Noite dos Mortos Vivos de George Romero, a indústria do entretenimento tem feito filmes sobre cadáveres vivos sem consciência ou memórias de seu passado em busca de seres vivos para se alimentar e torna-los como seus iguais conhecidos como zumbis ou mortos-vivos. Eles têm povoado filmes, série de TV e teorias conspiratórias sobre o futuro. Não importando a criatividade do roteiro, clipe de música ou a data festiva para se fantasiar e andar pelas ruas da sua cidade, sempre haverá admiradores. E o cinema francês não estaria de fora dessa tendência. Não com esse longa dirigido e roteirizado por Dominique Rocher em co-autoria de Jérémie Guez e Guillaume Lemans.
Sam (Anders Danielsen Lie) vai ao apartamento de sua ex-namorada (Sigrid Bouaziz) onde acontece uma festa badalada, procura por suas fitas de áudio cassete, se isola no escritório e cai no sono. No dia seguinte, descobre sangue pelas paredes, moveis destruídos e a ex transformada em zumbi. A presença deles é no prédio e na rua ao redor. Qualquer presença humana gera atração de milhares deles e disputa por alimento. Essa epidemia dominou toda Paris, a França, o Mundo. Assim começa sua luta pela sobrevivência ao se isolar no prédio.
Com o passar dos dias, o racionamento dos poucos alimentos encontrados e o uso da água da chuva, dá lugar a tentativas fúteis de afugentar sua solidão. Ouve as fitas contendo toda a sua vida até a separação com a ex usando fone já que o barulho atrai os mortos-vivos. Faz sessões de terapia com o zumbi (Denis Lavant) trancando no elevador a quem chama de Alfred. Joga paintball usando as criaturas como alvo. Aguardando o fim daquela devastação ou a vinda de um grupo de humanos como ele.
O enredo inspirado no romance La nuit a dévoré le monde de Pit Agarmen tem premissa parecida com Exterminio de Danny Boyle e Eu sou a Lenda de Francis Lawrence. Porém, o foco não é a ação de estourar zumbis ou fugir da perseguição de centenas deles. O drama é centrado no suposto “último homem da Terra”. Aqui consegue transparecer a loucura da solidão, as tentativas paliativas para quebrar a tensão e a busca do sentido existencial daquela situação. O ator transparece inconformidade com o isolamento, covardia em não mudar a própria situação e seus “diálogos” com seu único amigo cadáver vivo.
Dos coadjuvantes, Denis Lavant chama atenção por sua atuação nada forçada dando impressão de impotência e miséria enquanto avança sua relação amistosa com a sua caça e Golshifteh Farahani , como a última mulher da Terra e seu dialogo é ponto de virada pra mudança comportamental do personagem e da virada do terceiro ato sem apelar para clichês como casal formado ou empoderamento feminino motivado pelo homem amada fragilizado.
A maquiagem do elenco de apoio fascina pela diferença na decomposição de cada ser assim como a evolução do desgaste físico do protagonista. A produção e a edição foram atentas aos mínimos detalhes como diminuição das luzes públicas da Cidade-Luz. Uma ironia sutil e importante para o mais atento dos espectadores.
O roteiro possui subtexto como isolamento social, apego ao passado, repulsa ao presente e medo do futuro bem como uma critica social a falta de individualidade em meio há um grupo social ou a multidão. Há uma fuga aos clichés do gênero como ação em destruir zumbi, fugir de uma perseguição, presa em dar companhia humana ao último homem da Terra e outros do subgênero. O drama aparece sem soar sentimental ou preocupada em dar aula sociológica ou combate a solidão do homem moderno. Simples é um avanço narrativo junto com momentos de sonho, loucura e imaginação e cenas surpresas.
Seja você fã de cadáver vivo ou apenas busca filmes com significado e propósito, irá gostar do longa francês. Assim possui mais um guia de sobrevivência caso a noite coma o mundo menos você.
TRAILER
Ficha Técnica
Nome Original: La nuit a dévoré le monde
Direção: Dominique Rocher
Roteiro: Dominique Rocher, Jérémie Guez e Guillaume Lemans
Elenco: Anders Danielsen Lie, Sigrid Bouaziz, Denis Lavant e Golshifteh Farahani