Crítica: A Música da Minha Vida

Luton é uma cidade do sul da Inglaterra. Fica a uns 50 quilômetros de Londres. É sede da Vauxhall Motors da GM onde parte da massa trabalhadora consegue emprego; tem quase 30 por cento da população de origem asiática e desses, uns 14 por cento de origem paquistanesa. Tem como orgulho o time de futebol Luton Town, hoje na série B, mas que tem sua maior glória a conquista da Copa da Liga Inglesa na temporada 1987/1988 em uma vitória épica sobre o poderoso Arsenal. E exatamente nessa época, e na cidade de Luton, entre 1987 e 1988, que se passa A Música de Minha Vida (Blinded by the Light), novo filme da diretora Gurinder Chadha.

O filme conta a história de Javed (Viveik Kalra) descendente de paquistaneses que vieram para a Inglaterra nos anos 70 em busca de prosperidade. Javed vive numa rígida mas unida família típica paquistanesa com um pai trabalhador da indústria automobilística, uma prendada mãe costureira e uma irmã. Mas Javed queria mais, desde pequeno escreve diários, poemas, textos e letras de músicas para seu melhor amigo. No seu cotidiano sofre com perseguições de grupos fascistas de extrema direita que não admitem imigrantes no solo britânico e acaba sempre isolado no casulo conservador de sua família, que não admite que ele viva a sua vida como um jovem britânico. Pressão essa simbolizada na figura de seu pai autoritário Malik Khan (Kulvander Gir) que faz tudo para bloquear os sonhos do filho. Porém, um dia através de um amigo paquistanês na escola ele recebe duas fitas do Bruce Springsteen que simplesmente chacoalham sua vida de cabeça pra baixo. Então, entra de cabeça na poesia e lirismo do cantor norte americano que serve como chave de libertação para sua vida e busca dos seus sonhos. Conta com a ajuda de uma professora, a senhorita Clay (Hayley Atwell), e de seus amigos, para partir em busca de sua terra prometida (como diria “The Boss”).

A Música da Minha Vida (Blinded by the Light), filme inglês, entra um pouco na linha atual de usar música pop para despertar as emoções na plateia. Mas saindo do artifício da biografia (vide Bohemian Rhapsody e Rocketman), usa uma história real de um garoto cheio de sonhos que pontua a guinada na sua vida através da poesia e deslumbramento da música de Bruce Springsteen. O filme é recheado de clássicos do cantor para cada fase de mudança do jovem. Além, é claro, de ser um retrato de uma época obscura inglesa, o Tatcherismo, desemprego, greves, empobrecimento da população e um advento de um conservadorismo perigoso e fascista que crescia com o preconceito contra os imigrantes.  A paixão e idolatria de Javed por Bruce mostra a força que a música pode exercer na vida das pessoas e o poder que essa tem de provocar mudanças. Outro fator emblemático do filme é que a conquista dos sonhos nunca é uma ação individual e sim faz parte de uma construção coletiva regada a muita cooperação.

O filme foi baseado numa história real das memórias de Sarfraaz Manzoor adaptadas do livro Greetings from Bury Park; Race, Religion and Rock and Roll, transposto para as telas de forma segura e eficiente e se firmando como um belo filme de amor, laços familiares, sacrifícios pessoais e muitos sonhos. Um filme de gente real que às vezes para mudar sua vida basta uma inspiração, um sopro ou uma canção. Citando Bruce em sua obra prima Thunder Road: esta é uma cidade cheia de perdedores e eu estou dando o fora daqui para vencer…

Sinopse: A Música da Minha Vida conta a história de Javed (Viveik Kalra), um adolescente britânico filho de paquistaneses, crescendo na cidade de Luton, Inglaterra, em 1987. Em meio às turbulências econômicas e raciais da época, ele escreve poesia como uma forma de escapar da intolerância de sua cidade natal e da inflexibilidade de seu pai tradicional. Porém, quando um de seus colegas lhe apresenta a música do `Chefe´, Javed vê paralelos entre sua vida simples e as letras marcantes de Springsteen. À medida que Javed descobre um escape catártico para seus próprios sonhos reprimidos, ele também começa a encontrar coragem para se expressar com sua própria voz.

Elenco: Viveik Kalra, Kulvinder Ghir, Meera Ganatra, Aaron Phagura, Dean-Charles Chapman, Nikita Mehta, Nell Williams, Tara Divina, Rob Brydon

Produção Executiva: Paul Mayeda Berges, Hannah Leader, Tory Metzger, Tracy Nurse, Stephen Spence, Peter Touche, Renee Witt

Produção: Jane Barclay, Gurinder Chadha, Jamal Daniel

Direção: Gurinder Chadha

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