A Mula: novo filme de Clint Eastwood mostra que um ótimo diretor faz a diferença.

Serei direto: claro que fui assistir ao filme “A Mula (The Mule)” com todas as expectativas do mundo. Só o fato de ter Clint Eastwood na direção e atuando já gera a esperança de um ótimo filme.

E não me enganei…

A Mula é um longa que trata do quanto podemos nos desviar do caminho quando somos seduzidos pelo dinheiro. Também retrata um preconceito quase inconsciente quando olhamos para alguém e o identificamos como um marginal ou alguém perigoso, apenas pela cor da pele ou etnia.

Mas esse filme vai muito além disso…

A Mula é um drama baseado em uma história real. No longa, Clint Eastwood interpreta Earl Stone, um premiado floricultor especializado em lírios. Por causa do trabalho, Earl sequer participa do casamento de sua filha Iris (Alison Eastwood, filha real de Clint), fato que o afasta ainda mais da família, principalmente de Iris e da ex-esposa dele, Mary (Dianne Wiest).

O longa começa no ano de 2005 e volta à narrativa doze anos depois. Infelizmente esse é um período de “vacas magras”, pois Earl está com sua floricultura hipotecada, sem um lugar para ficar e já com algo em torno de 90 anos de idade (e a situação física de Clint não nega a idade). Com pouco a fazer, ele vai ao primeiro encontro de família (na verdade o noivado da neta, a jovem Ginny, interpretada por Taissa Farmiga) em anos. Lá, após um encontro mal sucedido com a filha, Earl é abordado por um homem que lhe oferece a chance de dirigir (só dirigir) para ganhar um dinheiro, já que o velhinho nunca sequer foi abordado pela polícia.

É aí que começa, efetivamente, a trama de A Mula.

Nós acompanhamos, viagem a viagem, a evolução de Earl como transportador de drogas. Não há malícia em seu começo, já que ele não tem noção do que realmente está fazendo. Apesar  disso, o dinheiro começa a seduzi-lo aos poucos. E é esse ponto que traz mais impacto ao longa, já que o personagem de Clint estava na falência, não tinha condições de ajudar ninguém e em crisa na família. Com o dinheiro das viagens, os recursos para reverter sua situação, ajudar os amigos e até a família surgiram.

Earl é um homem vivido, esperto e um bon vivant. A grana que entra o modifica aos poucos, sem que isso implique em dizer que ele se tornou mau. Ainda que de forma errada, os pagamentos geram uma vida melhor para ele e todos que o cercam, além de uma fuga da rotina maçante e sem esperança na qual se encontrava antes. Em suma, Clint dirige uma trama escrita para ele onde o “errado” ganha o apreço do público, algo similar à síndrome de Estocolmo.

Em meio a isso, uma equipe de Federais inicia a busca pela quadrilha que abastece as cidades vizinhas e, gostemos ou não, Earl faz parte dessa quadrilha. Entre os integrantes da equipe de policiais estão Colin Bates (Bradley Cooper), Michael Peña (Trevino) e o chefe do DEA (Laurence Fishburne). Na verdade, os agentes são os que menos aparecem e só ganham maior destaque a partir do segundo ato do filme, já que o foco da produção está na evolução de Earl como mula, na mudança da vida de seus amigos e também nos integrantes do cartel de drogas, com destaque para Andy Garcia que interpreta o chefe do tráfico, Laton, e Ignacio Serricchio, o traficante Julio, responsável por fiscalizar o trabalho de Tata, nome atribuído a Earl por seus comparsas.

Entre perseguições frustradas, desencontros e cenas com diálogos inteligentíssimos e mordazes, Earl se torna um dos personagens mais divertidos que já vi, ainda que – teoricamente – o filme seja um drama. Não há espaço para a perda da esperança nessa trama que, conforme verificarão, é uma fábula sobre erros e acertos.

Com um final poético, perdas e a retomada de uma vida outrora abandonada, A Mula é um longa-metragem suave, inteligente e feito não apenas para os apreciadores das atuações e da direção de Clint Eastwood… mas certamente são esses elementos que fazem dessa produção algo inesquecível.

 

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