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CRÍTICAS

Crítica – Wicked 2

Crítica – Wicked 2
  • Publishednovembro 20, 2025

Wicked, a peça teatral, é daqueles fenômenos pop que surgem de tempos em tempos, e devido ao seu rico universo de músicas, personagens e cores, acabam se tornando o perfeito exemplo definidor da palavra cult. Ano passado, 21 anos depois da estreia do musical, ganhou as telonas num filme que arrebatou bilheteria e conquistou ainda mais fãs, além de transformar a dupla Cynthia Erivo e Ariana Grande nas bruxas cantoras mais populares do século 21. Como a decisão de Jon M. Chu foi de dividir a peça em dois filmes, a ansiedade acabou, e nessa semana estreia a tão esperada continuação com Wicked Parte Dois (Wicked For Good, 2025).

Seguindo os eventos do final do filme do ano passado, Elphaba rompe de vez com Glinda, e devido a uma propaganda enganosa de Madame Morrible e a comunidade de Oz, acaba sendo perseguida e conhecida como a Bruxa Má do Oeste. Glinda então cede à farsa do Mágico de Oz e vive os louros de ser a Bruxa Boa do Sul , tendo fãs por toda a cidade mesmo sendo conivente com um regime opressor. Já Elphaba quer provar para todo mundo que não é a pessoa má que as pessoas apregoam. Glinda, para coroar sua fase esplendorosa, vai se casar com Fyero, para desespero de Elphaba, mas acontecimentos como um ciclone no Kansas, que trouxe uma menininha e um cachorro para Terra de Oz, se cruzam com os destinos das duas bruxas.

Confesso que se o primeiro filme tivesse pouco mais de três horas, enxugando algumas cantorias exageradas e alguns tapa buraco de roteiro, Wicked poderia ser perfeita em um filme. Mas Hollywood ama sequências e maneiras de prolongar o sucesso com novas produções, mesmo que não tenha tanto estofo para uma continuação. E Wicked 2 se perde exatamente por isso, em imaginação para contar uma história que prenda tanto quanto a do primeiro filme. Claro que a experiência visual nas mãos da fotografia de Alice Brooks, o capricho técnico e os efeitos seguem o mesmo padrão que fizeram do primeiro filme uma deliciosa experiência cinematográfica. Mas em Wicked 2 parece que tudo corre uma maratona. As novidades no roteiro são quase zero e a dificuldade de fazer cenas mais densas, aprofundar os personagens e criar sequência, nem que sejam parecidas com o incrível final do primeiro filme, passam longe. Em suma, tudo que o filme do ano passado acertava em criar personagem robustos, que faziam a plateia torcer e vibrar por eles, passa batido no segundo filme. O filme tenta passar (como na maioria das produções atuais, sem sucesso) uma certa crítica a regimes totalitários, como mentiras propagadas à exaustão que enganam o povo com alegorias sobre perseguição e desinformação. Mas tudo de uma maneira formal demais e soando artificial.

A chegada de Dorothy e sua saga em Oz para encontrar o Mágico de Oz e voltar para o lar chega a ser bem enxertada no filme, com destaque para jamais aparecer a personagem imortalizada por Judy Garland. Mas a trama do segundo filme, ao invés de ter vida própria se baseia demais na história do clássico de 1939, deixando qualquer qualidade do roteiro voar longe como a casa de Dorothy no meio do ciclone. Estamos falando, é claro, de um musical e as canções do segundo filme, com exceção de No Good Deed, soam insossas e respetivas, longe daquela chiclete pop do cancioneiro do filme do ano passado. Ariana Grande segue cantando muito, mas sua personagem se perdeu bastante em Wicked 2, deixando de lado aquela persuasiva e divertida menina para assumir o seu lado glamour, uma verdadeira mimada que finge ser a boa menina sendo que só quer ganhar vantagem nisso. 

Até os encontros entre ela e Elphaba soam tão artificiais, uma dita amizade escondida que não engana ninguém. Falando em Elphaba, essa sim, Cynthia Erivo interpreta divinamente, dando graça e interesse a canções fracas, algumas inéditas e feitas especialmente pro filme. Além disso, sua personagem é a unica que realmente tem um desenvolvimento mais robusto na trama, num crescente que já acontecia no primeiro filme, com a menina verde tendo que enfrentar o desprezo das pessoas e fazer de tudo para salvar sua pele e tentar provar para o mundo que ela é apenas uma vítima.

Jeff Goldblum, mais uma vez discreto como Mágico de Oz, e Michelle Yeoh, mais caricata que no primeiro filme, são coadjuvantes de luxo mal aproveitados. As tais explicações de origem para os personagens do Mágico do Oz, não convencem quem é apenas fã de filmes dos anos 1930, e sinceramente, por mais que o musical seja um sucesso absoluto, mexer com clássicos é um pecado sem perdão. Engolir o final do filme é algo que quem se criou assistindo o clássico de Victor Fleming é a dureza pura. Aliás, tenho dúvidas se a maioria que ama tanto o musical, faz cosplay de bruxas e munchkins, alguma vez viu o filme original. Mas, enfim, quem sou eu pra brigar com o sucesso alheio?

Wicked 2 é aquele exemplo clássico de tiro no pé. Na ânsia de prolongar um sucesso, a produção, ao invés de criar um super épico, quis dividir o filme em dois, mas esqueceu que um fio de história ou um segundo ato não sustentaria mais um longa. Se Wicked (2024) nos apresentava um história original, uma dupla de cantoras atrizes que conduziam o filme com canções com potencial pop em espetáculo deslumbrante, Wicked 2 não chega a ser uma obra malsonante, mas é a prova que tudo poderia ser resolvido em apenas um filme e dificilmente vai chegar perto do fenômeno pop da primeira parte. Ao contrário da vassoura da bruxa Elphaba não deve levantar grandes voos, num desfecho apressado, raso e com pouco brilho.

Written By
Lauro Roth