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CRÍTICAS

Crítica – O Sobrevivente (2025)

Crítica – O Sobrevivente (2025)
  • Publishednovembro 19, 2025

Entre 1982 e 1987, o austríaco Arnold Schwarzenegger emplacou uma série de filmes de ação que o tornaram um astro do gênero. A massa de músculos foi interpretando praticamente o mesmo papel, o do cara que resolvia tudo na pancada e nos tiros, falava pouco e intimidava pelo tamanho. Conan, o Bárbaro, Exterminador do Futuro, Comando para Matar, Predador e Jogo Bruto foram sucessos de bilheteria e consolidaram Arnold e seu cinema brucutu. Em 1987, ele deu um passo um pouco mais ousado na carreira, com uma adaptação não autorizada de uma obra distópica de Stephen King, da época em que assinava como Richard Bachman. O filme O Sobrevivente foi o primeiro em que o ator teve mais falas e tentou atuar, tornando-se um caricato exemplar do pior do cinema dos anos 1980. Mas, ao menos, era divertido, não se levava a sério e Arnold, dentro de seus padrões, estava mais solto. Era apenas mais um filme na carreira do futuro governador da Califórnia, até o diretor Edgar Wright resolver resgatar e fazer a sua adaptação da obra de Stephen King para as telonas, que estreia essa semana com o mesmo nome do filme dos anos 1980, O Sobrevivente (The Running Man, 2025).

Em um futuro sombrio, onde uma elite está cada vez mais isolada e comanda a sociedade, o estado tem um poder de opressão sem freios e a mídia, como o quarto poder, entretém a população em programas de televisão com ares de sadismo, em que participantes desesperados por dinheiro se submetem a qualquer situação, correndo risco de vida para faturar. Um desses desesperados é o instável Ben Richards, desempregado, que não tem como pagar a medicação de sua filha pequena e não quer ver sua mulher trabalhando em bares de ricos para ganhar gorjetas em troca de assédio. Richards decide se inscrever e acaba tendo que participar do Sobrevivente, uma prova em que vai ser perseguido por caçadores e a cada dia que se mantém vivo, ganha mais dinheiro. Se chegar a 30 dias sem ser abatido, ganha o prêmio principal. Tudo isso filmado ininterruptamente em um show com gigantesca audiência.

Edgar Wright, diretor responsável por filmes como Todo Mundo Quase Morto, Scott Pilgrim vs o Mundo e Noite Passada em Soho, nos presenteia com um desnecessário remake de um filme que mesmo com alguns fãs, sempre foi um dos piores da fase casca grossa do Schwarzenegger. Aquela pergunta que sempre faço nessas situações: qual a necessidade de um remake de O Sobrevivente? Fica nítido que, ultimamente, tanto nos cinema quanto nos seriados, as distopias estão em alta, e com isso, a necessidade de reciclar velhas histórias, ainda mais as que envolvam ditaduras opressoras, autoritaritarismo e colapsos de estruturas materiais e morais do ocidente. Isso temos de sobra no livro de King, mas o problema da versão do Wright é que o filme abusa demais do frenetismo de imagens, edição inquieta, onde tudo parece um grande Tik Tok, só que com longuíssimas 2h17min de duração. Todo aquele panorama do controle cruel através de câmeras e programas de televisão hipnotizando uma massa descerebrada acaba ficando em segundo plano, num filme em que a crítica social jamais é aprofundada. 

Tudo se resume a frases de efeito sem graça e discursos de nível sétima série, completados por lutas, algumas bem coreografadas, correrias desenfreadas, doses de violência e um maniqueísmo abusando de clichês como os bons (que são o povo sofredor) e os maus (os ricos). Até aí tudo bem, mas tudo é apresentado de uma maneira vazia, uma caricatura de uma batalha de classes e abuso de poder que não conseguimos levar à sério, em uma displicência gritante do roteiro. O ritmo do filme, que praticamente se arrasta no segundo ato e cresce um pouco no último, não deve agradar quem veio apenas pelos corre e pancadarias do gênero. O que ameniza um pouco o caos e chatice do filme é a bem escolhida trilha sonora, onde ouvimos Electric Light Orchestra, Tom Jones, Sky and the Family Stone, entre outros. 

Glen Powell, a nova pessoa da indústria para filme de ação, consegue se salvar no filme. Com talento e carisma, ele sofre um bocado como o participante do jogo, disposto a tudo pra salvar a filha. Josh Brolin como o chefão da TV, Dan Killian, também brilha com aquela cara de vilão que amamos odiar. Mas os embates dos dois, sempre via telas, acaba não dando liga para um clímax mais contundente. O resto do bom elenco cumpre bem, com nomes como Colman Domingo, Emilia Jones, William H. Macy, Jaime Lawson e Michael Cera. Mas um dos grandes problemas do filme é não conseguir trabalhar bem os personagens, se falta estofo nos principais, o que dirá nos coadjuvantes.

Lógico que comparando os filmes de 1987 e 2025, a versão de Wright tem mais qualidade. Consequência dos novos tempos, novas maneiras de fazer cinema e tecnologia, e se o de 1987 foi renegado pelo King, esse tem o aval do escritor e do próprio Arnold, que conversou com Glen Powell sobre o papel. Mas, infelizmente, o filme por mais que tente ser dinamite pura, acaba se perdendo em todos os quesitos necessários para uma boa adaptação. Ação comedida, por vezes estagnada, uma crítica social mais vazia que carteira de trabalhador no fim do mês, e pra piorar, se leva a sério demais, o que afastará do intuito principal de prestigiar filmes desse naipe, que é se divertir, e isso ele faz muito pouco. 

Written By
Lauro Roth