Crítica – Truque de Mestre – Terceiro Ato
Em 2013, houve um filme que reunia quatro mágicos que viviam de pequenos golpes e que da noite para o dia, guiados por um anônimo mecenas, foram transformados em ídolos fazendo megalomaníacos espetáculos de mágica. Com ares de Robin Hood, muita arrogância e ilusionismo, os quatro cavaleiros do apocalipse, além de serem um show à parte, desmascaravam poderosos milionários, praticavam robôs cinematográficos e fugiam do FBI. Truque de Mestre (Now You See Me, 2013) foi um grande sucesso que gerou uma continuação em 2016. E agora, nove anos depois, o diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia, 2009), traz o quarteto e mais uns agregados para mais uma surreal aventura em Truque de Mestre – Terceiro Ato (Now You See Me, Now You Don’t, 2025), com estreia global nesta quinta-feira.
10 anos depois dos acontecimentos do segundo filme, os quatro cavaleiros estão separados, cada um seguindo a sua vida sem o glamour e rebeldia do passado. Um grupo de jovens mágicos, Bosco, June e Charlie seguiram seus passos, fazem shows, aplicam golpes pelos Estados Unidos e às vezes usam até a imagem dos velhos cavaleiros nas apresentações. Mas o famoso Olho faz um chamado e Atlas, além de ter que recrutar o velho time, Merritt, Jack Wilder, Lula e Henley, acaba se unindo aos três novos ilusionistas, já que eles têm que enfrentar um novo desafio. O octeto tem que roubar uma raríssima joia do Diamante Coração, que está em posse da bilionária Veronika Vandenberg. Uma poderosa mulher, com um passado obscuro e que mantém sua rotina através de coerção e corrupção.

Naqueles exemplos de que a indústria do cinema prefere repetir que inovar, quase que como um truque de mágica, o diretor Rubens Flescher trouxe de volta os Quatro Cavaleiros do Apocalipse da mágoa de volta para as telonas. Nove anos depois do segundo filme, somos obrigados a desligar o cérebro por duas horas para aguentar tamanhas cenas pouco críveis no cinema. Sim, Truque de Mestre, desde o primeiro filme é um festival de bobagens surreais vendidas como mágica e ilusionismo. A tentativa de transformar quatro ilusionistas em super herois, que roubam dos poderosos em mirabolantes truques e fazem o FBI e a Interpol de gato e sapato, proporciona dois filmes que nos deram muito pouca paciência para aturar. E agora, no terceiro, não se muda muito coisa. Só difere que Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Dave Franco, Isla Fisher e Lizzy Caplan estão uma década mais velhos, e para captar a geração Z, foram inseridos mais três personagens jovens na trama, interpretados por Justice Smith, Dominic Sessa e Ariana Greenblatt, para equilibrar a balança etária. E piadas desse choque de gerações é que não faltam, com os beirando magos bancando de guias sabichões dos jovens, que na arrogância típica das novas gerações, não os levam muito a sério.

Fora esse tom de conflito geracional que rende alguns bons momentos, o filme é aquela sucessão de absurdos de sempre. Uma mistura de filmes de 007, já que viajam o mundo em belas paisagens, no caso aqui, em passagens na Antuérpia e Abu Dhabi para realizar os golpes. Missão Impossível também é muito lembrado, com as absurdas cenas de ação, com direito a roubo de carro de corrida, fuga de prisões e capturas da Interpol, situações que nem Tom Cruise conseguiria fazer melhor. Velozes e Furiosos também faz parte dessa miscelânea com fugas em carros, motos e no que tenha rodas. Mas o que mais me irrita na série é a arrogância dos personagens, sempre donos da situação, sempre mas espertos que todos, sempre manipulando e sempre escapando com facilidade. Uma aura de herois para quatro ex-golpistas de rua. E no caso desse terceiro ato, a inclusão de três moleques com cara de criança que enfrenta qualquer perigo, beira o absurdo e faz doer os olhos. Quando a menina consegue escapar de uma prisão na Bélgica enfrentando policiais armados, a gente vê que o cérebro é apenas um detalhe para acompanhar o filme.

O maniqueísmo também é muito infantil, os vilões, no caso Veronika Vandenberg (Rosamund Pike), tenta enfrentar os Houdinis de araque com maestria, mas é apresentada apenas como uma vilã repleta de clichês, bilionária do mal, com um passado que a assombra e que merece ser castigada porque os capitalistas são todos malvados e os mágicos (sustentados por muito dinheiro de uma organização ) são os paladinos das injustiças sociais. Tudo isso num roteiro que é quase um fio de tão fraco. A franquia é conhecida pelos plot twists, que no primeiro realmente surpreendeu, mas nesse o recurso é tão idiota que custamos a acrediar que filmaram tamanha asneira. Previsível, preguiçosa e com nada de surpresa. A única coisa que realmente presta no filme é o carisma dos atores. Todos os cinco cavaleiros tem personagens bem construídos, cada um com seus poderes específicos e o time continua afiado, não consigo dizer o mesmo dos jovens da equipe de transição, que tem zero carisma e chega a ser difícil acreditar que aquele bando de moleques presunçosos podem ser tão ardis. Ah, e temos o Morgan Freeman, que sempre esbanja talento como um ilusionista e desmascarador de truques.

O terceiro filme da série só serve para reviver o passado, não apresentando nada de novo no front, explorando apenas o espetáculo visual, mas com uma trama que só piora e infantiliza ainda mais o já absurdo universo do filme. Filme para ser assistido sem um pingo de seriedade, com um total desprendimento do mínimo da realidade, um festival exageros e absurdos que cada vez mais perdem a surpresa e a graça, quase que um truque de mágica barato aplicado na esquinas das grandes cidades.
