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CRÍTICAS

Crítica – O Último Rodeio

Crítica – O Último Rodeio
  • Publishedoutubro 15, 2025

Clichês são fórmulas narrativas usadas tantas vezes que se tornaram desgastadas. Bem, se foram utilizadas muitas vezes, é porque um dia funcionaram muito bem. E ainda podem funcionar, desde que façam parte de uma estrutura sustentada por um roteiro capaz de criar uma relação cativante entre personagens carismáticos e interpretados por atores competentes. Esse é o caso de O Último Rodeio (The Last Rodeo), dirigido por Jon Avnet.

Neal McDonough interpreta Joe Wainright, um campeão de rodeio aposentado. O ex-atleta leva uma vida simples no interior dos Estados Unidos, curtindo a presença da filha Sal (Sarah Jones) e o crescimento do neto Cody (Graham Harvey). Porém, a descoberta de um tumor no cérebro de Cody faz com que Joe precise voltar às arenas de rodeio, com o objetivo de conquistar o prêmio que financiará a cirurgia do garoto. Nessa jornada, ele busca fazer as pazes com o próprio passado e reencontrar sua fé, contando com a ajuda de velhos conhecidos, como o melhor amigo Charlie (Mykelti Williamson) e o poderoso produtor de rodeios Jimmy (Christopher McDonald).

O longa não tem medo de ser brega ao prestar uma ode à vida rural: há cavalgadas por campos artificialmente ensolarados de Oklahoma; há a desconstrução do homem bruto, que enterra os sentimentos, mas no fundo é gentil; e há até uma empolgante briga de bar entre cowboys. Vemos também uma montagem de treinamento de Joe ao som de Simple Man, do Lynyrd Skynyrd. No fim das contas, esses clichês acabam funcionando porque constroem uma estrutura cinematográfica familiar ao público. Sem grandes surpresas narrativas, o impacto emocional recai sobre a relação cativante entre os personagens.

Nesse ponto, as atuações de Neal McDonough e Mykelti Williamson se destacam pela química que os dois compartilham em cena. É palpável o amor entre aquelas duas pessoas, mesmo que não demonstrado em palavras, mas em atos de serviço e cuidado. As boas atuações não se limitam à dupla: Sarah Jones e Christopher McDonald também imprimem carisma e a relação de seus personagens com Joe contribuem para a construção das complexidades do protagonista.

Por outro lado, a atuação de Daylon Swearingen destoa do restante do elenco. Ele interpreta Billy Hamilton, o atual campeão mundial de rodeio que trata Joe como uma lenda ultrapassada. Swearingen entrega suas falas de forma mecânica, quase como se as estivesse lendo, o que faz com que seu personagem, que deveria representar uma presença arrogante e provocadora, perca completamente o impacto emocional.

Apesar de funcionar em muitos pontos, a utilização dos clichês gera alguns tropeços no roteiro de O Último Rodeio. Há momentos em que ele se torna excessivamente expositivo, verbalizando em diálogos o que funcionaria melhor nas entrelinhas. Além disso, há exageros visuais, como o uso insistente de uma iluminação etérea para representar o divino, e o abuso do patriotismo estadunidense. A cena em que o hino dos Estados Unidos é cantado na arena (sob a tal iluminação etérea, diga-se de passagem) chega a causar arrepios, e não pelos motivos corretos.

As sequências de montaria na arena sintetizam bem o espírito do filme: O Último Rodeio não tem medo de ser brega, e isso às vezes funciona, às vezes não. A montagem alterna cortes rápidos com câmeras lentas. É interessante o contraste entre as montarias de Joe e de Billy: enquanto a de Joe é mais truncada, refletindo suas limitações físicas, a de Billy (jovem e no auge) é bem fluída. Ainda assim, em muitos momentos há exagero nos cortes, no uso de câmeras POV e na iluminação de cena, que remete mais a um comercial de energético do que a uma arena de rodeio. Esses excessos acabam prejudicando a imersão criada pela interação entre os personagens.

O Último Rodeio é, no fim, um filme confortável. O público não será surpreendido nem sentirá grandes incômodos ao acompanhar a jornada de Joe em busca de paz com o passado, e essa é justamente a proposta do longa. O filme é efetivo ao espalhar sua mensagem de fé através de personagens cativantes e de uma história redonda e relacionável. Se, para o que você propõe, o clichê é efetivo, então, que se use o clichê.

Written By
Guilherme Pedroso