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CRÍTICAS

Crítica – The Mastermind

Crítica – The Mastermind
  • Publishedoutubro 15, 2025

Mastermind, de acordo com o dicionário Cambridge, é “aquele que planeja detalhadamente uma atividade complexa, frequentemente criminosa, e certifica-se de que ela ocorra com sucesso”. O título de The Mastermind, dirigido e escrito por Kelly Reichardt, é daqueles que se encaixam tão perfeitamente ao filme que a obra já começa pelo pôster. E isso não se dá pelo que o filme é, mas pelo que ele escolhe não ser.

J.B. Mooney (Josh O’Connor) é um carpinteiro e pai de família que está sempre abaixo das expectativas de sua esposa Terri (Alana Haim), de sua mãe Sarah (Hope Davis) e, principalmente, de seu pai, o superexigente juiz Bill Mooney (Bill Camp). Em busca de dinheiro, mas também de autoafirmação, J.B. secretamente planeja um assalto a obras de arte de um museu. Ele organiza cada detalhe da operação e participa de todas as etapas: da observação do local ao recrutamento dos capangas, até assumir o papel de motorista da fuga. Esse último, aliás, por acidente,  já que o piloto contratado desiste na “hora H”. Esse é apenas o primeiro de muitos contratempos que J.B. precisa enfrentar, pois a operação logo se revela uma trapalhada monumental, deixando rastros evidentes para a polícia e obrigando o carpinteiro e aspirante a “mastermind” a lidar com as consequências.

The Mastermind brinca com o conceito pré-concebido de “filme de assalto”, desconstruindo-o junto à persona de mestre do crime do protagonista. Se no início acreditamos estar diante de um assaltante meticuloso e experiente, logo percebemos que J.B. é muito mais perdido do que imagina. As trapalhadas dele e de seus comparsas, interpretados divertidamente por Eli Gelb e Javion Allen, arrancam boas risadas e surpreendem um público acostumado a ver neste tipo de filme super-heróis do crime.

A primeira meia hora é eletrizante, surpreendendo pela quebra de expectativa ao mostrar um assalto tão desastroso. No entanto, após a execução do roubo, o filme desacelera. Essa mudança de ritmo faz sentido, já que reflete o estado emocional de J.B. depois da adrenalina do assalto, mas a narrativa não consegue recuperar o mesmo nível de magnetismo dos minutos iniciais. Isso gera certa frustração, pois a intensidade do começo nunca é retomada.

Apesar disso, The Mastermind guarda muitos trunfos. O maior deles está no estudo de personagem do protagonista. O roteiro de Reichardt revela, pouco a pouco, como J.B. se enxerga no mundo. Josh O’Connor entrega uma atuação sutil e sensível às contradições do personagem, equilibrando a autoconfiança de alguém que acredita poder sair das enrascadas mais improváveis com a insegurança de um homem que nunca conseguiu corresponder às expectativas sociais e familiares.

Os personagens coadjuvantes também contribuem muito para um dos pontos altos do filme que é a forma cômica como Kelly Reichardt lida em tela com as situações absurdas do roteiro.  Matthew Maher se destaca em uma participação pequena, mas memorável, como um motorista da máfia de voz mansa e língua presa. Jasper Thompson diverte como o filho de J.B., em uma performance fofa e carismática. Já Alana Haim e Hope Davis, ainda que em papéis discretos, reforçam a sensação de inadequação de J.B. diante do mundo.

A fotografia de Christopher Blauvelt aposta em paletas pouco convencionais, sempre criando estranhamento: os amarelos e laranjas das roupas são terrosos, os azuis dos carros são bebê, e os verdes, do qual a direção de arte e cinematografia abusam, puxam para o musgo. A trilha sonora, um jazz propositalmente descompassado, transmite mistério e incômodo, enquanto os efeitos sonoros (como o grunhido de porco ao fundo da cena em que J.B. esconde os quadros ou o despertador tocando durante uma briga entre o protagonista e Terri) reforçam a sensação de que algo está fora do lugar. São escolhas eficazes, mas que são usadas excessivamente, por vezes, mirando em um incômodo necessário à narrativa, mas acertando no tédio.

The Mastermind é um filme muito bom, surpreendentemente divertido, daqueles que deixam o público com um sorriso no rosto ao sair da sessão. É verdade que se estende além do necessário e que, do meio para o fim, já não apresenta tantas novidades. Ainda assim, é um longa que desconstrói com inteligência a figura de um mastermind do crime.

Written By
Guilherme Pedroso