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CRÍTICAS

Crítica – Perrengue Fashion

Crítica – Perrengue Fashion
  • Publishedoutubro 7, 2025

Se existe uma atriz brasileira que sabe fazer comédia de sucesso nos últimos anos, ela é Ingrid Guimarães. E isso é de se tirar o chapéu, porque fazer comédia hoje em dia é uma tarefa das mais espinhosas. Não entrando no mérito da qualidade artística da sua produção, que constantemente é bombardeada por críticas que argumentam que seus filmes são escapistas e abusam de clichês de humor raso e sem graça. Mas Ingrid não está nem aí, o povo vai ao cinema e assiste a seus filmes dando boas gargalhadas. E nessa semana, nos cinemas, estreia mais um deles, dessa vez com direção de Flávia Lacerda, Perrengue Fashion (2025), produção da Morena Filmes, com a distribuição da Prime Video.

Paula Prata é uma influencer de moda, com seus cinquenta anos, que juntamente com seu assessor e faz-tudo Taylor, buscam diariamente likes e engajamento nas redes sociais. Paula também é uma consumidora compulsiva, vive gastando o que não tem, até quem sabe um dia ficar rica com suas postagens. Esse dia pode chegar em breve, já que ela é convidada por uma marca famosa para participar de uma campanha publicitária de Dia das Mães. Mas, para isso, precisa que seu filho Cadu, que mora nos Estados Unidos, venha para o Brasil para acompanhar a mãe. Só que ela não contava com a nova vida que o filho está tendo. O garoto largou tudo e se mandou para uma ecovila na Amazônia. Cadu hoje é um ativista ambiental e abomina o estilo de vida da mãe. Mas Paula, disposta a qualquer coisa, faz as malas (e são muitas), pega Taylor e se manda para lá, para convencer o filho a participar da tal campanha.

Perrengue Fashion é daquelas comédias leves e descompromissadas, que a pessoa para na frente da TV e acaba se rendendo às situações absurdas em que Ingrid Guimarães se submete para convencer seu filho. O roteiro, escrito a 8 mãos, incluindo a de Ingrid, é apenas um detalhe. Por 90 minutos vemos Paula andando de salto na floresta, carregando malas por regiões inóspitas, tirando sarro de personagens com estereótipo de eco chatos, experimenta drogas naturais em frente à fogueira, come alimentos que não gosta e é capaz até de escalar picos perigosos para conseguir sinal de internet. Em suma, segue todos os padrões básicos das comédias da atriz, só que dessa vez temos a Amazônia como cenário dos tais perrengues. Mas o grande problema, é que por mais que o filme tente passar uma mensagem de reflexão e mudança, já que forçadamente Paula é obrigada a viver nessa nova realidade e acaba criando uma consciência de que a vida moderna não se preocupa com o meio ambiente e o consumismo gera desequilíbrio ambiental, tudo isso nos é mostrado de uma maneira extremamente superficial. A começar por mostrar a natureza como algo exótico e seus moradores (ao menos os nativos) de uma maneira estereotipada. Um filme brasileiro que parece ter a mesma visão de produções estrangeiras sobre as florestas do Norte do Brasil. Sem falar em algumas piadas sem graça sobre o tema. 

Um dos bons personagens do filme é Taylor (Rafael Chalub, ex Esse Menino, do viral da vacina da Pfizer), o braço direito e esquerdo de Paula, sempre com boas tiradas e o único a aguentar as estripulias da chefe. O ator está sempre com o timming certo das piadas com uma bela parceria com Ingrid.

O filme também, além de fazer rir na medida certa e sem grandes novidades, também toca em temas como maternidade, reconexão entre mundos, ambientalismo, consumismo sustentável x consumismo nocivo. Mas calma, todos esses temas espinhosos são apenas pretexto para darmos boas risadas com uma mãe solo consumista, que tenta entender as decisões do filho, que abandonou uma carreira acadêmica nos Estados Unidos para mudar o mundo. O filho Cadu é interpretado por um engessado Filipe Bragança, que de longe consegue passar uma química verdadeira entre mãe e filho com a ótima e divertida Ingrid. O passatempo também é ajudado pelos belos cenários com uma bonita fotografia e uma trilha sonora repleta de músicas nacionais bem escolhidas. 

Perrengue Fashion é a prova que time que se está ganhando não se mexe, é apenas mais um filme de Ingrid Guimarães, com roteiro raso, piadas fáceis, o que não irá decepcionar quem é fã da carismática atriz e mais uma vez não vai mudar a opinião dos seus detratores, porque por mais que a trama até tenha tentado dar ar grandioso em multitemas importantes, só serviu para despistar o seu intuito principal, que é fazer rir sem pensar muito – e isso o filme faz muito bem!

Written By
Lauro Roth