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CRÍTICAS

Crítica – Goat

Crítica – Goat
  • Publishedoutubro 2, 2025

Existem campanhas de marketing que são verdadeiros engana bobo no cinema. E Goat (Him, 2025), que estreia nos cinemas nesta semana, é uma delas. Em qualquer trailer, cartaz ou propaganda do filme dirigido por Justin Tipping, o nome de Jordan Peele (que no filme é um dos produtores) aparece em letras garrafais, dando uma falsa ilusão que é mais uma criação do conceituado diretor. Mas no caso de Goat, ele não escreveu nem uma linha do roteiro, apenas bancou o projeto e apostou em Tipping, que até então tinha dirigido apenas o filme Kicks, em 2016, mas com boa carreira em séries.

Mas voltando para Goat (o título nacional confunde com um filme que vai ser lançado ano que vem sobre basquete), nele conhecemos a história de Cameron “Cam” Cade, um jovem viciado em futebol americano, que estimulado pelo pai desde a infância, hoje é uma da melhores revelações jovens dos Estados Unidos como quarterback. Prestes a entrar na liga, sofre um atentado violento, onde machuca a cabeça. Os médicos indicam que pare de jogar, mas ele não quer desistir. Entra no seu caminho Isaiah White, o veterano craque, melhor jogador do esporte e ídolo desde a infância de Cameron. White sofreu uma lesão gravíssima 14 anos atrás, deu a volta por cima ganhando tudo, tornando-se uma lenda no futebol americano. Isaiah, então, precisa de um substituto e convida Cade para passar uma semana na isolada morada dele, no interior do Texas, e com pesados treinamentos físicos e psicológicos quer preparar o jovem para ser o novo melhor do mundo na posição.

Talvez uma das palavras mais utilizadas no filme seja o sofrimento. No filme, tanto o pai de Cade, quanto Isaiah insistem para o jovem atleta que não existe recompensa sem sofrimento. Enfim, citando o bordão que é utilizado enésimas vezes no filme, assistir Goat, mesmo em seus curtos 95 minutos é também um  verdadeiro sofrimento para o espectador. Não vinha com muita expectativa, mas caindo na armadilha do nome de Peelle, achei que ao menos ele não ia deixar passar um filme em demasia pretensioso, vazio e que pretende dizer um monte de coisas, mas acaba não passando nada pro espectador. Mesmo pintado com tintas de que seria um terror elevado com metáforas, ambientes sufocantes, cenas desagradáveis e violência explícita, jamais consegue convencer, o que irá deixar os fãs do gênero muito decepcionados. Goat se perde nas suas ambições e não se decide do que realmente quer seguir como propósito. Poderia ser uma crítica à violência excessiva dos jogos da NFL, com lesões e concussões brutais nos choques de jogadores, mas não consegue uma profundidade concreta no propósito.

Poderia ser uma crítica, cheio de simbologia, a luta constante e insana para vencer e ser o melhor no esporte, dar uma alfinetada em quem financia o jogo e pouco se importa com o bem estar físico e mental dos atletas em prol do entretenimento, mas não, Tipping acaba dividindo a passagem de Cade no bunker sinistro de White em dias, com cada dia tendo um título, uma prévia do que seria o dia do rapaz. Um dos problemas do filme é que todo o calvário do rapaz no centro de treinamento e os sinistros métodos, por mais que usem de recursos alegóricos, uma edição caprichada aliada a um som impactante, é tudo muito mastigado e o mantra do sacrifício, onde futebol é a coisa mais importante do mundo, acaba levando ao absurdo e previsível final. 

A fotografia do filme, assinada por Kira Kelly, talvez seja o que mais agrada. Utilizando tanto de planos longos na solidão inóspita do deserto, em tons saturados, contrastando as imagens futuristas da casa de White com a penumbra nas cenas mais tensas, regadas a muito vermelho vivo. As imagens dos treinamento, onde temos jogadores como se fossem em imagens scaneadas de raio X, vemos o impacto dos esqueletos nos encontros do esporte e a explosão de sangue da violência das lesões. Funciona muito bem no início esse recurso, mas depois perde o ar de novidade conforme vai se repetindo no decorrer da trama. 

Não podemos negar que Marlon Wayans é um dos caras mais carismáticos do cinema. No papel de Isaiah White, ele rouba o filme com seus discursos motivacionais e provocações constantes e sarcásticas com o rapaz. É um Saara de diferentes atuações em comparação ao péssimo (no filme ao menos), Tyrek Whites. O rapaz que interpreta o novato Cade, passa o filme todo com a mesma expressão, se impressiona o tempo todo, mesmo já sabendo da bronca com os absurdos dos métodos do White, mas em nenhum momento criamos empatia com ele. Uma atuação opaca, passa o filme todo sem camisa, que deve ser chamarisco para atrair o público feminismo. A falta de profundidade dos dois personagens também é algo que incomoda. Sabemos muito pouco dos dois, que parecem robôs sem alma nessa desenfreada luta por ser o melhor de todos. Essa mistura de Pisque Duas Vezes (2024), com pitadas das obras do chefe Jordan Peele, misturada a futebol americano e a luta por ser o Goat (em tempo, Greatest of All Time) e o excesso de pretensão, descambou numa das maiores decepções do ano. O uso de analogias com sacrifícios, sangue e culto para chegar ao topo do esporte, acaba se perdendo em um terror vazio que pretendia ser de alto nível e inovador, mas acaba derrapando em um roteiro empacado, em que apenas imagens, referências e frases feitas não sustentam uma entediante história. Resta esperarmos um novo filme do Jordan Peele, mas com ele atrás das câmeras ou digitando o seu roteiro, já que seu escolhido Tipping parece que andou falhando nos treinamentos…

Written By
Lauro Roth