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CRÍTICAS

Crítica – Animais Perigosos

Crítica – Animais Perigosos
  • Publishedsetembro 15, 2025

Em 1975, um `animalzinho aquático de sete metros e três toneladas mudou a história do cinema. A adaptação de um livro despretensioso por um diretor corajoso e ávido por novidades, transformou o que era um simples banho de mar num pesadelo. Lógico que falo de Tubarão, o clássico de Steven Spielberg, que arrastou multidões para os cinemas, criou o conceito de blockbuster no cinema comercial e revolucionou o gênero de terror. Na sombra do tubarão branco Bruce, dezenas de produções  similares, algumas de qualidade duvidosa, invadiram as telonas nos anos seguintes, sendo o filão dos filmes de terror animal um sucesso. E claro que, cinco décadas depois do lançamento do filme de Spielberg, os tubarões ainda estão atormentando os incautos seres humanos em produções como Animais Perigosos (Dangerous Animals, 2025), uma parceria de produção australiana e estadunidense, com direção de Sean Byrne, onde dessa vez o cenário das mandíbulas dos peixes cartilaginosos sãos os mares australianos.

O lindo cenário de Gold Coast, na costa leste da Austrália, atrai turistas do mundo inteiro, atrás de ondas e diversão. Mas esse paraíso é abalado pela presença de Tucker, um serial killer que usa como fachada promover mergulhos em gaiolas, onde os turistas ficam cercados por tubarões, então sequestra pessoas e tem como fetiche filmar suas vítimas sendo devoradas pelos peixões de barbatanas em alto mar. Um dia, sequestra Zephyr, um estadunidense que foi atrás de ondas australianas. Presa no barco, a casca grossa garota faz de tudo para sobreviver e não ser a próxima vítima do cruel psicopata. Ela tem no continente apenas Moses, um jovem nativo da cidade com quem teve um caso e sabe que a garota está desaparecida.

Uma coisa não dá pra negar, por praticamente dois terços de Animais Perigosos o diretor Sean Byrne nos entrega um assustador thriller de sobrevivência, com todos as ferramentas do gênero, utilizados com maestria. Já começando pelo pânico e falta de esperança das vítimas, que são presas a um barco em alto mar, cercado por um inóspitos e sedentos tubarões, deve ser uma sensação angustiante. Isso é tudo muito bem transferido ao espectador, que sofre junto com os alvos do assassino, assistindo a todo sofrimento deles com a angústia de observador passivo. Nesse ínterim temos o embate entre Tucker, um psicopata que teve um trauma por sobreviver a um ataque de tubarões quando criança e tem como um fetiche sacrificar suas vítimas em sessões de torura e voyeurismo, substituindo as facas de um matador clássico pelos dentes afiados dos animais e uma câmera como testemunha e Zephyr, a americana que só tem o mundo e a liberdade como objetivo, quase sem passado, também tem uma gana de viver, e literalmente, sofre o pão que o diabo amassou nas mãos de Tucker, mas sempre o enfrentando, sem medo, jamais abaixa a cabeça para o persuasivo e violento algoz.

Esse jogo de gato e rato entre os dois, com muito sofrimento, tentativas de fuga, sangue, expertises de ambas as partes, funcionam muito bem até o filme chegar em um hora. Depois, realmente o diretor e o roteirista chutaram o balde e deixaram degringolar um filme que, confesso, provocava tensão de não fechar os olhos. Sem poder dar muito spoiler, o filme perde o estofo e vira um caminhão de cenas absurdas, sofrimento gratuito de Zephyr e idiossincrasias, na filosofia barata e reflexões sobre tubarões de Tucker. Mas mesmo assim, Animais Perigosos nos prova que às vezes quem é realmente perigoso é o ser humano e não os apavorantes predadores do mar. E a trama funciona como um instigante suspense, mas que infelizmente acaba desviando o rumo, naufragando na sua conclusão. Mesmo assim temos tomadas  aéreas belas dos mares australianos, cenas com tubarões realistas e bem executadas, muito sangue, violência e cenas brutais, além de uma trilha sonora que acentua a tensão e a claustrofobia do barco da morte de Tucker. Elementos que fazem do filme um bom passatempo, desde que no final não o levemos à sério demais e sejamos levados a não ter muita exigência pelos absurdos da trama. Hassie Harrison, como já se sofreu horrores, tem um papel forte e cenas físicas intensas como Zephyr. Além de criar uma personalidade forte e aguerrida para a personagem, adversária perfeita de Jai Courtney, como o doentio Tucker, que se diverte bem com o papel do psicopata marítimo, cheio de trejeitos, frases bregas, mas com uma maldade e violência assustadoras. 

Em Animais Perigosos, os tubarões, apesar de terem apetitosas refeições com seres humanos e darem fitadas no olhar da potencial vítima, são apenas secundários na trama do filme. Aqui o animal violento é o homem, na sua doença e psicopatia, encarnadas por Tucker, e mesmo com suas derrapadas merece ser conferido.

Written By
Lauro Roth