Crítica – A Hora do Mal
Começo o texto com o título dessa canção: A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana. Em poucos termos, ou no caso título de uma música dos Titãs, define a ansiedade de provar que algo lançado recentemente, e sem muito tempo para ser digerido, já é rotulado como melhor coisa do mundo. Nessa semana estreia nos cinemas o filme de terror que já é considerado o melhor filme do ano, e contrariando a máxima da canção, não só é um dos melhores filmes do gênero no ano, como um dos melhores filmes de 2025. A Hora do Mal (Weapons, 2025), de Zach Cregger, chega aos cinemas nesta quinta!
Um mistério assombra a cidade de Maybrook, na Florida. Em uma madrugada, exatamente às 2 horas e 17 minutos, 17 crianças de uma mesma sala de aula simplesmente levantam das camas e saem de suas casas, numa desesperada corrida. Elas não voltam e as autoridades não conseguem descobrir o paradeiro delas. Essa sequência é narrada em off por uma voz infantil e a canção Beware Of Darkness, de George Harrison, serve como trilha sonora para essa introdução.

Da sinopse, tudo o que posso revelar sem ser um chato dando spoiler é isso. Qualquer detalhe mais profundo, posso estragar o prazer de assistir a esse filme de Zach Cregger, que já tinha nos presenteado com o ótimo Noites Brutais, em 2022. A Hora do Mal tem um roteiro inventivo e uma narrativa que, mesmo já utilizada por vários cineastas ao contar histórias sob o ponto de vista dos personagens que descambam no clímax, foge do casual no gênero do terror. Uma aula de montagem e condução da trama, que consegue em duas horas, prender totalmente a atenção do espectador, que sequer tem vontade de piscar, com tamanho suspense e tensão na maneira como Zach apresenta os fatos.

O filme é dividido em capítulos. Cada um deles conta a história de um personagem chave no pós desaparecimento das crianças. Conhecemos Justine Gandy (Julia Garner), professora da turma de desaparecidos, que acusada de ser conivente com o sumiço ou ter alguma relação, é agredida pela sociedade e cai na bebida. Archer Graff (Josh Brolin) é o pai de Matthew, um dos desaparecidos, e indignado, tenta achar seu filho. Paul Morgan (Alden Ehrenreich), um policial que trai a esposa com a professora Justine. O diretor da escola, Andrew Marcus (Benedict Wong), atado pelo sumiço, mas que tenta conformar os pais e defender a professora. Anthony (Austin Abrams), um viciado em heroína sempre perseguido pelo policial Paul e ainda temos a triste história de Alex Lily (Cary Christopher), único garoto que foi à aula no dia seguinte do desaparecimento da turma toda, o que causa uma estranheza extrema a todo o mistério, por ter sido o único poupado do sumiço.

E com essas histórias todas interligadas, Zach consegue criar um mosaico estrutural que descamba para a participação de Amy Madigan, que faz a Tia Gladys. Tia-avó de Alex, que responde pelo sobrinho-neto, descobrimos que desde a sua chegada, as coisas começaram a mudar na cidade, mas falar mais que isso pode estragar o prazer de assistir o filme no cinema. Sim, assistam no cinema, esqueçam o celular e pequenas distrações, para mergulhar de cabeça no mistério das 17 crianças sumidas. Até porque, além de uma aula no uso de planos sequências que são bem cabíveis, e uma câmera que consegue captar toda a tensão da cidade, o filme tem como o som um dos aliados para provocar calafrios e sua trilha sonora claustrofóbica, que vai aumentando gradativamente para a conclusão incrível do filme.

A ferida de uma América calejada por massacres escolares, no caso do filme, a visão de uma escola abalada e uma sala esvaziada por um mistério inexplicável. A busca por justiça pelas próprias mãos, a ideia de que sempre temos que ter um bode expiatório para punir (no caso a professora) e a fúria de uma sociedade descontrolada, sem empatia e cada vez menos tolerante estão muito bem retratados ali com a alegoria do sumiço das 17 crianças, o medo e o retrato do mundo atual. A Hora do Mal ainda é um filme de terror, que consegue dialogar com um cinema autoral e de extrema destreza técnica, mas os elementos como casas sinistras, alguns sustos fáceis, batidas nas portas, sinos, galhos quebrados, transes, violência, com muito gore e pessoas esquisitas estão todos ali, com a diferença de que apenas servem como elementos de gênero para rechear a inventiva conclusão.

Contrariando aquela máxima que a expectativa é proporcional à decepção, A Hora do Mal até extrapola o que mais eu poderia esperar. Um filme que através da condução fragmentada da história, como contos que vão se interligando, jogando pistas para o espectador juntar os cacos do incrível roteiro. Mas como já falei antes, não tem como entregar muito, senão a graça se esvai. Conselho certo é assistir o filme, quem sabe até correndo, mais ou menos como as 17 crianças que foram teleguiadas para algum local sinistro, mas no caso do espectador, ao cinema mais próximo, porque A Hora do Mal é muito mais que o melhor filme de terror da última semana, e sim um dos melhores filmes do ano, ao menos até agosto!
