Crítica: Dungeous and Dragons – Honra entre Rebeldes
Dungeons Dragons no início dos anos 1980 nos Estados Unidos era uma verdadeira febre. D&D, como é conhecido, era um jogo de RPG (Role Playing Game) ou jogos de representação. Foi criado ainda nos anos 1970 com muita estratégia, habilidade, sorte nos dados e tudo isso num imaginário universo mitológico, com demônios, bruxas, dragões e muita aventura. Inclusive um dos desenhos mais famosos da época, o lendário Caverna do Dragão foi inspirado no jogo, apesar de Michael Reaves, o roteirista do desenho animado, afirmar que nunca jogou Dungeons Dragons. Enfim, passadas décadas, os RPG continuam em voga e muita gente ainda se delicia com esses jogos em encontros para travar suas intensas batalhas. O cinema, algumas vezes, tentou colocar nas telonas elementos dos jogos e da série D&D, mas sempre em filmes fracos e esquecíveis, mas uma nova tentativa, em 2023, estreia essa semana nos cinemas, Dungeous and Dragons – Honra entre Rebeldes (Dungeons and Dragons – Honor Among Thieves), com direção de Jonathan Goldstein e John Frances Daley.
Elgin, o Bardo, era um honesto harpista e vivia em harmonia com sua esposa e sua filha. Até que um dia sua mulher é assassinada e, para cuidar da filha, ele começa a cometer pequenos delitos, furtos e roubos, com a companhia de Holga Kilgore, uma guerreira bárbara que ajuda o viúvo a cuidar da menina. Eles acabam se unindo a um grupo porque querem uma chave que proporcionaria a ressurreição de sua amada, mas acabam traídos e presos. A dupla consegue uma fuga cinematográfica da prisão na torre e acaba voltando à cidade. E lá descobrem que um antigo companheiro, Forge, é um traidor, os deixou na mão na missão passada, hoje cuida da filha de Elgin e tem como companhia a feiticeira Sofina, que coloca medo com seus poderosos feitiços. Mas os dois não desistem do intuito de conseguir a chave para retomar a vida da falecida esposa de Elgin e juntam um exército brancaleônico com Doric, uma druida com poderes de se transformar em animais e Simon, um atrapalhado mago. Juntos se unem para uma missão cheia de perigos, enfrentando monstros, cavernas inóspitas, feiticeiros, os temidos magos vermelhos e zumbis para se vingar de Forge e conseguir salvar a pequena Kyra, filha do Bardo, e achar a chave para a volta a vida da mãe da menina.
A dupla de diretores Goldstein e Daley, parece que acharam a química certa para adaptar o tão cultuado RPG para as telas. Com muito humor, sarcasmo e, é claro, aventuras e um senso de equipe empolgante, o roteiro da dupla e mais Michael Gillo, nos apresenta o primeiro filme digno de nota do empolgante jogo. Tudo funciona muito bem, desde a narrativa, alguns flashbacks, uma narração debochada de Chris Pine, como Elgin, e um cenário repleto de seres fantásticos, feiticeiras maléficas, vários elementos do jogo como o cubo gelatinoso, criaturas como o Mímico e a Fera deslocadora, Urso Coruja, enfim para deleite dos fãs, muitas referências fantásticas estão presentes na película, uma nostalgia nerd e tanta. E outro ponto positivo é que mesmo nesse emaranhado de referências é um filme acessível. Ninguém precisa ter alguma vez na vida ter jogado o jogo para se encantar com a cômica aventura que é D&D. Em suma, um filme para todos, desde o geek xiita até o gaiato que jamais mexeu os dados num jogo de RPG.
Para isso o elenco afiado ajuda e muito. Chris Pine está ótimo como o hilário e com ares de anti-heroi, Elgin, responsável por grande parte do viés cômico do filme, Michelle Rodriguez, como a guerreira Holga, também está ótima, um pouco como escada de Pine, mas excelente nas cenas de ação e Justice Smith, como Simon, o atrapalhado feiticeiro e Sophia Lillis, a tímida e centrada Doric, a Druida, fecham o quixotesco grupo, que funciona muito por serem típicos perdedores, mas que com muita união, companheirismo e estratégia sabem que tem condições de enfrentar os Magos Vermelhos e o ditador Forge. Personagem esse interpretado de uma maneira leve e debochada por Hugh Grant, nitidamente se divertindo e abrilhantando o filme. Destaque para o super virtuoso paladino Xenk que dá uma força e tanta para o grupo, interpretado por Regé-Jean Page, que de tão perfeito chega a ser chato e alvo das chacotas do grupo.
Os efeitos vistosos, paisagens deslumbrantes, cenários de fantasia, figurinos e criaturas muito bem elaboradas e encaixadas, são um deleite visual, além de cenas surreais como a do cemitério que transformam em humor um ambiente tão tétrico. E sem falar no desafio do labirinto, onde vários grupos, a mando de Forge, tem que fugir de armadilhas e monstros, em uma frenética disputa, com direito a uma referência ao amado grupo de Caverna do Dragão, que como nossos heróis, ficam encalacrados e quase sem saída na temível arena.
Dungeons & Dragons consegue, com sua exuberante simplicidade e um roteiro para todos, fazer um filme agradável, adulto e não fugindo também da característica básica do jogo, que é explorar um mundo fantástico e mitológico. Como ponto negativo, a duração que é longa, hoje uma praga do cinema comercial moderno, antes em uma hora e meia se resolvia tudo, hoje se em duas horas um roteiro se resolve é quase um milagre e tamanha metragem às vezes pode fazer o público comum cansar da história. Muitas vezes no filme a trama dá umas derrapadas que poderiam ser evitadas com menos filme. Enfim, assistir Dungeons Dragons – Honra entre Rebeldes é uma experiência extremamente divertida, com ação constante, personagens cativantes e com cara de sucesso certeiro, agradando a velhos fãs desse universo e até aquele que quer pagar um bilhete de cinema e apenas se divertir, e para isso D&D é a pedida certa.