Maria e João: “A Bruxa” para crianças.

“A Bruxa” de 2013, dirigido por Robert Eggers, é o grande marco para a virada do cinema de terror nesse século. Um cinema que já vinha saturado de found footages encabeçados por Atividade Paranormal, deu lugar a um horror que remete mais aos clássicos do cinema, que buscam, através da atmosfera e analogismos entre a história passada e dramas pessoais que amedrontam as pessoas fazer com que o público sinta medo.

E aqui, na introdução de Maria e João: O Conto das Bruxas (péssimo subtítulos como sempre, por sinal),  já podemos notar que a pretensão do diretor Oz Perkins é trazer esse aspecto contemporâneo ao contar essa história já tão batida das crianças sendo sequestradas pela bruxa. O prólogo, um conto que Maria, a irmã mais velha, costuma contar para João, já começa com um clima soturno e diferenciado, trazendo referência estética do movimento surrealista do cinema dos anos 60 e 70, principalmente do clássico do ocultismo A Montanha Sagrada, de 1973, dirigido pelo chileno Alejandro Jodorowski.

Durante o primeiro ato, podemos notar que a história de João e Maria, que é horripilante até em sua versão mais light (pois sempre trata de abandono parental e canibalismo) recebe um refinamento a partir dos roteiristas, mostrando que essa história trará um aprofundamento em alguns aspectos dos personagens, principalmente da adolescente interpretada por Sophia Lillis, que se sente responsável pelo irmão antes mesmo de serem expulsos de casa. A cinematografia e o design de produção permanecem impecáveis neste desenvolvimento, trazendo a este universo um tom lúdico em meio a tragédia já anunciada pela famosa história.

No seu desenrolar, o filme começa a dar sinais que pretende contar uma versão diferente da já conhecida, focando cada vez mais nas intuições da jovem e nos seus sonhos que revelam que algo está errado além da aparência da senhora que os acolhem, interpretada de maneira assustadora por Alice Krige (conhecida por seu papel na série The OA).

Infelizmente, o refinamento que o cineasta busca na sua obra, se esvazia ao final da película. Talvez pela intenção de tentar popularizar o estilo (O filme chega no Brasil com classificação indicativa de catorze anos). A escolha da narrativa que vinha se construindo muito bem até então é terminar o filme de maneira “pipoca” e apressada, na intenção de que a obra não se alongue o tempo suficiente para os adolescentes (público-alvo) se entediarem. A película tem cerca de 80 minutos, e algo próximo a duas horas cairia muito melhor.

O gosto que fica ao sair da sala do cinema é agridoce, pois, assim como as outras obras de Oz Perkins, podemos perceber algo de diferente, notar que o diretor não é mais um genérico do cinema de horror, mas que mesmo assim não consegue entregar histórias convincentes nos seus três filmes até aqui. Mas como Gretel & Hansel (nome original), expõe uma grande evolução do cinema do diretor, a minha recomendação é que quem for ao cinema, curta os aspectos e o simbolismos do filme mais do que a própria história, para não se decepcionar. Pois no fim das contas, o longa entrega um horror menos imbecil que várias obras voltadas a mesma faixa etária e pode servir de introdução para que este público se interesse por filmes com um aspecto mais weirdo e que valorize menos os jump scares.

Nota 7,5/10

Um adendo: A legenda do filme aqui no Brasil, não está de acordo com as falas dos personagens em inglês. Provavelmente fizeram a legenda em cima da dublagem, e ela acaba trocando o sentido do diálogo de algumas cenas, dificultando a compreensão do todo. Quem consegue compreender pelo menos um pouco a língua inglesa, e for assistir legendado, busque ficar atento mais aos diálogos e menos às legendas sempre que possível.

TRAILER

Sinopse: Desta vez, as migalhas nos guiarão por um caminho muito mais sombrio e perturbador. Durante um período de escassez, Maria (Sophia Lillis) e seu irmão mais novo, João (Sammy Leakey), saem de casa e partem para a floresta em busca de comida e sobrevivência. É quando encontram uma senhora (Alice Krige), cujas intenções podem não ser tão inocentes quanto parecem, que eles descobrem que nem todo conto de fadas tem final feliz.

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