X-Men Apocalipse (2016)

Desde o início da civilização, ele era adorado como um deus. Apocalipse (Oscar Isaac), o primeiro e mais poderoso mutante do universo X-Men da Marvel, acumulou os poderes de muitos outros mutantes, tornando-se imortal e invencível. Ao acordar depois de milhares de anos, ele está desiludido com o mundo em que se encontra e recruta uma equipe de mutantes poderosos, incluindo um Magneto desanimado (Michael Fassbender), para purificar a humanidade e criar uma nova ordem mundial, sobre a qual ele reinará. Como o destino da Terra está na balança, Raven (Jennifer Lawrence), com a ajuda do Professor Xavier (James McAvoy), deve levar uma equipe de jovens X-Men para parar o seu maior inimigo e salvar a humanidade da destruição completa.

Esse artigo é mais um rebate às críticas externas que o filme está sofrendo, principalmente pela imprensa, onde vou expor os meus argumentos para discordar da maior parte delas. Claro que o filme vai dividir opiniões, principalmente do público NERD, que está fortemente ligado a cultura das HQ’s e, dessa forma, possui pré-requisitos para fazer uma comparação mais contundente entre as mídias. Some a isso a paixão que alguns tem por personagens favoritos, torcida por heróis ou vilões e, o gosto e opinião particular, que vai fazer com que concorde ou não com o diretor e roteiristas. Vou finalizar o artigo com o meu ponto de vista, mas por enquanto seguem algumas discussões filosóficas.

Este é mais um exemplo de filme que não condiz com o trailer. Mas, nesse caso, o problema foi o inverso: os trailers baixaram a minha expectativa e a ansiedade para conferir o longa. O principal problema era o visual vilão do filme, o Apocalipse, que logo foi comparado a um vilão da série dos Power Rangers. Não sei se melhoraram depois das críticas, ou se foi um caso de efeitos especiais inacabados, mas a versão dos cinemas está bem mais aceitável e um pouco menos carnavalesca (embora continue fantasiosa, mas por motivos explicados na história). Aprendizado: não confie em trailers!

Aliás, a palavra fantasia é o segundo ponto que quero comentar. Filmes de heróis baseados em HQ’s, ainda mais se tratando de mutantes com superpoderes que desafiam quaisquer leis da física ou de Darwin, tem como uma de suas principais metas o entretenimento, embora, no caso específico dos X-Men, temos uma forma metafórica de abordar preconceitos sociais e raciais. Mas não deixa de ser um produto voltado para agradar fãs de ação, ficção e apreciadores de história de heróis. E, principalmente nos quesitos relacionados à ficção científica, essa fuga da realidade é perfeitamente justificável para que as histórias possam tomar maiores proporções e causar maior impacto nas HQ’s (e, posteriormente, filmes).

Estamos vivendo uma época em que o moralmente correto e a preocupação social está afetando diretamente as histórias, e essa preocupação está sendo direcionada também a esse nicho de filmes de heróis. Não é problema algum criar e adaptar filmes para a realidade física e lógica, e já vimos excelentes casos em que essa correlação com a vida real funciona muito bem, vide os filmes do Batman do Nolan. Mas isso também não invalida que continuemos a ter filmes em que os personagens possam ter seus poderes, roupas, visual e atitudes de forma exagerada ou ao menos não-convencional.

A não ser que você esteja indo para um evento de cosplay, imagino ser meio óbvio (embora nada te proíba a isso) que você não vá usar um colant roxo para sair na rua, como o traje da Psylocke. Mas é a roupa que ela usa nas HQ’s (nem vou entrar no mérito do apelo sexual dos traços das personagens femininos nas HQ’s para chamar a atenção do público masculino). Então, se é a roupa dela dos quadrinhos, por quê não homenagear a fonte? Até hoje os fãs pedem para o Wolverine utilizar o seu traje amarelo com aquela máscara esquisita. Isso foi até motivo de piada em uma conversa de Logan com o Ciclope no primeiro filme dos mutantes no ano 2000. Se mudar os trajes para roupas comuns, reclamam que não está fiel ao original. Se usar as roupas originais, chamam de desfile de carnaval. Tem trajes que realmente não tem a menor condição de se adaptar para a vida real (alguns, infelizmente…), mas aqui fica claro que querem fazer uma homenagem misturada com fan service.

Outro ponto: destruição! Quem aqui nasceu antes da década de 1990 e costumava assistir aqueles seriados japoneses, de Ultraman a Jaspion, já estava acostumado a todo episódio chegar um monstro, um robô ou algo do tipo que destruía a cidade. Assistir a batalha herói/vilão no meio dos prédios, derrubando tudo que via pela frente, era algo comum. Não me traumatizou, não me comoveu, não me causou revolta por estar arruinando o lar dos cidadãos de bem ou destruindo famílias. É ficção. É entretenimento. Não é real. Não é documentário. Eu sinto uma comoção enorme quando vejo refugiados, campos de guerra, vítimas de flagelos sociais. Isso sim é motivo para preocupação. Li críticas pesadas a este filme dos X-Men porque fizeram cenas de destruição a nível global. Oi? Se for reclamar, que seja dos efeitos especiais. E, nesse caso, o filme abusa dos efeitos especiais, com muitas cenas de destruição. Eu gostei muito da computação gráfica utilizada, porque ficou diretamente relacionada com o poder que alguns mutantes tem de causar estrago.

Tudo isso foi para dizer que as maiores críticas ao filme até agora querem levar em consideração os elementos reais e sociais descritos acima, com essa preocupação moral, social e religiosa exacerbada, sem levar em conta que esse tipo de filme é feito para ser uma forma de diversão. E ainda temos que nos lembrar que não são apenas fãs ou leitores de HQ’s que tem o “direito” de assistir ao filme. Temos um público bem diversificado e a história deve ser dosada em ter referências que agradem ao público mais “entendido” do contexto e que também agrade a outra parcela das pessoas que não tem contato com as fontes originais e querem apenas ver uma boa história ser contada.

E, chegamos ao ponto da terceira crítica externa, a história. Muitos criticaram que o vilão era poderoso demais e poderia acabar com todos os X-Men somente com um piscar de olhos ou estalar de dedos. De fato! O vilão desperta de seu sono, mata todo mundo e pronto. Acabou o filme. Se você chegar ao cinema 5 minutos atrasado, já vai estar nos créditos. Tem que ter uma ameaça a um nível que justifique que mais de um herói se junte para conseguir resolver a situação, mas também tem que ter um “ponto fraco” ou um momento propício em que a ameaça possa ser, mesmo que temporariamente, resolvida. Senão não tem desenvolvimento no enredo. Se em filmes de herói não tiver o bem contra o mal, ou pelo menos uma luta entre ideais, não vai ter graça. Por outro lado, concordo, sim, que personagens foram mal aproveitados (Psylocke, assim como sua intérprete Olivia Munn, mereciam bem mais destaque e ação), enquanto outros tiveram papel de destaque desnecessário (o Oscar de Jennifer Lawrence fez com que ela assumisse uma importância que a alçou ao posto de protagonista e líder de equipe, e isso prejudicou um pouco). E os quatro cavaleiros do Apocalipse não conseguem nem ser seguranças de shopping direito, quanto mais serem seus super guarda-costas.

Mesmo com os dois pontos negativos quanto à equipe, o filme está com um excelente elenco de atores e personagens. Poucas vezes vimos os poderes de cada um serem explorados e aproveitados em cena. Temos finalmente um ciclope de vergonha (Tye Sheridan), uma tempestade estilosa (Alexandra Shipp), conseguiram dar uma nova vida ao Noturno (Evan Peters), um dos poucos personagens que tinham sido realmente bem aproveitados na primeira trilogia, e não posso esquecer de citar os dois grandes nomes do filme: Magneto (Fassbender) e, principalmente, Mercúrio (Kodi Smit-McPhee). Aqui os caras conseguiram, não sei como, fazer uma cena ainda melhor para ele do que em “Dias de um futuro esquecido”. E temos um certo personagem onipresente nos filmes dos X-Men, que sua participação é mais um fan-service, e uma contribuição a mais para completar a bagunça da cronologia dos filmes anteriores.

Este terceiro longa fecha a segunda trilogia e, ao mesmo tempo, tenta fechar a primeira, praticamente te implorando para esquecer de vez o primeiro-terceiro filme (“X-Men: o confronto final”). A própria Jean Grey (perfeitamente interpretada por Sophie Sansa Turner) faz questão de te lembrar isso duas vezes. Na primeira, em uma cena que seria gratuita e sem sentido, se não fosse pra te passar esse recado, e na segunda, pra mostrar como realmente uma tal força deveria ser explorada. Aliás, lembra do personagem do fan service? Sua cena também é quase um pedido de desculpas pelo que já foi exibido e uma ponta de esperança pelo que pode vir pela frente. Claro que o filme tem falhas, mas colocando tudo na balança, tem muito mais pontos positivos do que negativos. Deixa a galera ficar fantasiada, usar os poderes deles na rua, aumentar a taxa de emprego da construção civil. Deixa o público se divertir!

 

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