Versos de um colega – “Poemas ao Desabrigo”

Vou compartilhar uma historinha com vocês. Faz alguns anos que tenho estudo para entrar na carreira diplomática. Nesse meio tempo refleti como seria o comportamento de um diplomata, se seria possível continuar dançando ou tendo alguma relação com as artes.

Aí eu vi me lembrei de que muitos dos nossos maiores escritores eram formados em Direito e vi que muitos diplomatas tem essa forte ligação, até porque na formação precisamos ter contato com literatura mais sofisticada, tanto em português quanto em inglês, espanhol e francês.

Agora esse fato ficou ainda mais consolidado na minha cabeça, conheci o livro “Poemas ao Desabrigo” do autor é o embaixador, diplomata de carreira e filho de diplomata, Raul Taunay. Ele também escreve romances, poesias e artigos voltados a carreira.

Poemas ao Desabrigo” é um livro de poemas e sonetos sobre os mais diversos assuntos, em especial aquilo que estão ligados à vida de quem vive viajando, vendo o bom e o ruim do mundo, aprendendo e conhecendo tudo o que pode, mas sempre longe da sua terra e de algumas pessoas que se ama.

Esse estilo dele ficou bem claro em vários dos poemas. O fato de ter que dizer adeus algumas muitas vezes é exposto no “A Tristeza da Partida”:

“[…] Deixo uma casa, meu velho jardim.
Fico sozinho, relendo um pasquim.
Vou entoando um verso atormentado.
Saudoso desta noite que chegou ao fim […]”

O passar do tempo, o aprendizado com o tempo, as mudanças que a vida faz em nós mesmos ficam implícitos no poema “Arado”:

“A cada dia em descubro
em alguém que desconheço.
Era falante, sou hoje calado,
Agora quieto, antes aditado,
Buscava encontrar o mundo,
No presente, dele me afasto […]”

O Artesão” é, simplesmente, sobre a arte de escrever, traduzir sentimentos em forma de versos:

“Meu poema respira quando pressente nascer,
Ele e ala, expira, se estira, como se fosse morrer;
Manuseia e finca na folha sua razão de irromper,
Desnuda o fascínio do verbo ao procurar entreter […]”

O autor mostra-se grato de forma tão singela em “Gratidão”:

“[…] Grato pela homenagem
A estes versos ao léu,
No céu viram bobagens,
Aragens desde escarcéu.”

Foi uma grata surpresa ler estes versos cheios de emoção e significado, pouco sei sobre poesias e poemas, este foi o segundo livro deste estilo que li na vida. Apesar de gostar de ler, nunca havia me interessado neste tipo de livro, sempre preferi romances, não entendia como se poderia ler um livro que teria textos soltos.

Descobri que não são textos soltos, que todos eles têm uma ligação muito forte, são escritas por alguém que colocou seu coração, sua energia e sua inteligência em frases que podem desde te fazer sonhar até te fazer pensar sobre algum tema relevante.

Tem um poema que me fez pensar (relembrar) de um tema desses, é o “Soneto ao Rio Doce”, ele fala sobre desastres naturais colocando em ênfase o desastre em Mariana causado pela Samarco. Leiam esse trecho:

“[…] BHP, VALE, Samarco… tantos nomes, um só açoite;
Quem asfixiou o meu rio certamente não era doce
Amarga morte, desgrenhada sorte -, agora é a fome […]”

E, só para finalizar, um trecho de um dos meus preferidos, “Refúgio” (para românticos incuráveis):

“Feitiço contagioso, paixão desenfreada,
Teu lábio generoso virá me intoxicar;
E o dia nebuloso será uma noite clara,
Teu beijo saboroso me fará levitar”

Espero que tenha inspirado alguém a ler alguns versos que podem alegrar o dia de vocês!

Beijinhos e até mais.

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