Uma Noite com os Bee Gees em Porto Alegre

Confesso que por muito tempo da minha vida achava que o Bee Gees, banda angloaustraliana de décadas de carreira, eram apenas uma banda genérica que ajudaram o John Travolta e o mundo todo a dançar com a trilha de Os Embalos de Sábado à Noite.  Devido ao estrondoso sucesso do disco, e das canções do filme de 1977, fiquei anos da vida sem conhecer o gigante trabalho da banda. Uma coletânea de um amigo, com músicas mais românticas do grupo e um arrasador disco ao vivo de 1998, me fizeram conhecer a grandiosidade da obra dos irmãos Barry, Robin e Maurice Gibb. E sexta passada, no Araújo Vianna, tive o privilégio de cobrir o show da dita maior banda cover de Bee Gees do mundo, os argentinos Geminis, que por duas horas, no show Uma Noite com os Bee Gees, desfilam sucessos, que pra quem tem mais de 40 anos, estão literalmente grudados na mente.

Público bom, louco pra curtir uma boa música e show começando na hora. Tem coisa melhor? Por volta das 21h, os argentinos, com uma banda minimalista, apenas com teclados, guitarra, bateria e uma backing vocal, já que o músico que fazia Maurice Gibb era o baixista, começou o show com um You Win Again, da fase oitentista da banda. Com talento vocal exemplar, som impecável e caracterização, dentro do possível, parecida com a banda, os hermanos fizeram uma viagem musical pela trajetória da banda. No telão, ao iniciar uma canção, o nome e o ano dela apareciam, o que para quem gosta de set lists e de se situar na época do lançamento, é um deleite. Seguiram músicas dos primeiros álbuns da banda e sucessos como Massachusetts, Gotta Get Message To You, I Started The Joke, Too Much Heaven e How Can You Mend a Broken Heart. Canções que marcaram gerações e ainda inundam as programações das rádios como a Continental de Porto Alegre, com seu repertório baseado em sucessos de outras décadas.

Destaque também para simpatia dos rapazes, principalmente o que fazia o Barry Gibb, tentando se comunicar em português e sempre sorridente. Num vasto repertório da banda, tivemos Run To Me e uma ótima versão para Immortality, música que o trio fez para Celine Dion, no show interpretado com maestria pela backing vocal brasileira, provocando aplausos frenéticos da plateia. Um público diferente, mas digamos assim “veterano”, sentadinho e feliz com os embalos comportados de uma sexta à noite no Araújo Vianna. O bailinho dos argentinos segue com Island To Dream, From Whom The Bells Tolls, e mais um sucesso dos anos 1980, a clássica Wish You Were Here. O inusitado vem depois, com a banda fazendo um medley dos sucessos da carreira solo dos anos 1980 de Robin Gibb. Com direito a telão no fundo com clipes com a cara da década de 1980, tocaram canções como Like a Fool, Boys Do Fall In Love e How Old Are You. Acredito que algumas músicas nunca foram tocadas ao vivo pela banda, o que abrilhantou  ainda mais o set list dos Geminis.

Lonely Days fecha um bloco, e para a banda trocar de figurino, a backing vocal ataca com duas lindas canções do trio que ficaram imortalizadas nas vozes de Barbra Streisand e Dionne Warwick, falo de Woman In Live a Heartbreaker. Mostrando que o Bee Gees tinham faro para o sucesso, com músicas deles sendo gravadas por muita gente boa. Eis que surge o trio com as características roupas brancas, com camisetas abertas e calças boca de sino, o visual disco que fez a banda vender como água nos anos 1970. Atacam de Tragedy, onde o cantor que faz o Barry abusa dos falsetes, numa competente interpretação. Tocam Love Me, Jive Talkin e ainda tem tempo para fazer uma homenagem ao quarto irmão Gibb Andy Gibb, que nunca foi da banda, o caçula da família sempre quis uma carreira solo, apadrinhanda pelos manos famosos, mas teve brilho próprio na sua curta carreira (faleceu com 30 anos). Os Geminis então atacam com Shadow Dancing e I Just Want To Be Your Everything, ultra sucessos da caminhada de fama do menino Andy, com direito a imagens dele no telão. Na linha de grandes músicas nas vozes de outros artistas, tocam Emoticon, imortalizada na voz de Samantha Sang e If Can Have To You de Yvonne Elliman, parte da trilha do filme Os Embalos de Sábado à Noite, de 1977. Ainda tivemos o momento mais calmaria, com a lindíssima Words e com o baixista que faz o Maurice Gibb cantando Grease, sucesso do filme Nos Tempos da Brilhantina, de 1978, com os super astros da época, John Travolta e Olivia Newton John.

Mas falando em Travolta, o mesmo Maurice cover manda literalmente a galera levantar o traseiro das poltronas, para no bloco final cantar os sucessos do disco de Os Embalos de Sábado à Noite, transformando o Araújo numa, hoje sossegada (sem excessos, né?), mas animada discoteca. Night Fever, More Than Woman e How Deep Is Your Love nos remetem a 1977, e com imagens do filme, tudo fica muito emocionante. Stayin Alive, a música que representou a era e ficou marca registrada dos Bee Gees, faz até uns aposentados John Travolta da plateia relembrarem os passos de 50 anos atrás, transformando, com direito a globos de luzes, o auditório numa pista de dança. Ainda tivemos tempo para Should Be Dancing, para fechar com chave de ouro o competente e digno show dos argentinos.

Geminis cumpriram com louvor uma homenagem aos Bee Gees, uma banda com centenas de composições, mais de 200 milhões de discos vendidos e que simplesmente foi símbolo,  gostem ou não, de uma era que marcou e mudou a música para sempre. Suas músicas simples de amor com arranjos vocais sutis e harmônicos embalaram muitos romances por décadas e o grupo da Argentina, sem firulas, com um show de mais de duas horas, deixou um bocado de gente feliz, afinal ter oportunidade de ouvir músicas boas por 120 minutos hoje em dia é um privilégio.

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