Um livro para quem sente demais – “Chorar de Alegria”

As palavras escritas têm um grande poder, por vezes subestimado, elas podem transmitir no papel tudo aquilo que não conseguimos transmitir em nossas vozes ou expressões faciais.

Lorena Pimenta, Carol Stuart, Fernanda Gayo, Jéssica Barros e Maysa Muniz sabem muito bem disso, elas uniram todas as palavras poéticas que sabiam escrever e criaram “Chorar de Alegria”. O livro foi publicado pela Globo Alt, braço da Editora Globo, e conta com as ilustrações Brunna Mancuso.

Logo de início se anuncia que é um livro para quem sente demais, tanto as coisas positivas quanto as negativas, para quem tem os sentimentos a flor da pele e, muitas vezes, é mal interpretado por isso.

A obra é dividia em quatro partes, sendo a primeira iniciada com a seguinte frase “nosso universo se expandiu tanto que nos perdemos no espaço do nosso próprio vácuo”. Nessa parte os poemas falam sobre espaços sob diferentes aspectos e relacionamentos, passando pela aceitação.

Destaco dois poemas. “Pantera Negra” fala sobre a forma como vemos aquelas pessoas que chamamos de guerreiras, às vezes esquecemos que elas podem estar precisando de tanta ajuda quanto as pessoas que elas ajudam. E “Ocupado” nem precisa de descrição, apenas de uma boa leitura: “me dobrei para me encaixar no seu coração/ até perceber que eu caberia perfeitamente ali/ se você não estivesse guardando espaço para outra pessoa”.

A segunda parte começa com um aviso, “cuidado – nada é por acado, mas nem tudo é amor”. Aqui encontramos poemas sobre a necessidade de proteger nossos corações ou, quando for necessário, juntar os caquinhos e recomeçar.

O poema que destaco é um pequeno, mas simbólico, “Superpoder”: “queria ter o poder de jogar meus cacos para o alto/ toda vez que alguém me fizesse em pedacinhos/ transformar toda essa dor em um céu estrelado”.

A terceira parte também começa com um aviso: “alerta – não é amor se você tem medo dele”. Os poemas aqui tentam explicar a verdadeira cara do amor, ensinando que aquilo que assusta não é exatamente amor. É possível entender de duas formas, um incentivo a superar seus medos, quando isso for possível e nocivo, e saber quando se afastar.

Dois poemas se sobressaltam. “Cabelo Bom” é um resumo perfeito dos padrões de beleza impostos às mulheres há séculos, fazendo com que a maioria sinta medo de usar seus cabelos naturais ou se expressarem como bem entendem. Já “Nó” nos faz lembrar dos momentos que ignoramos o que precisamos, tendo uma frase bem reflexiva, “…às vezes, a felicidade mora naquilo que jogamos fora”.

A mensagem que inicia a quarta e última parte é “talvez o mundo não mereça meu amor – mas eu não ligo, porque eu mereço o mundo e faço questão de muda-lo”. Neste momento encontramos palavras que incentivam aquilo que há de mais importante para sobreviver, o amor-próprio, só assim saberemos continuar nossas histórias.

Os dois poemas que se destacam não merecem ser resumidos, por isso aqui os apresento na íntegra:

Amparo –

“se amar é não forçar perdão ao que ainda corrói.

é ter paciência consigo.

é confiar que, em algum momento,

sua bondade falará mais alto.

mesmo que não seja agora.”

Primavera –

“depois que entendi que sou primavera em todas as épocas do ano,

nunca mais esperei que me trouxessem flores.”

Cada texto, cada palavra, consegue imprimir a intenção principal do livro, nos emocionar com nossas próprias descobertas, não ter vergonhas dos erros e devemos aprender com eles para seguir em frente.

 

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