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FILMES CRÍTICAS

Toast – A História de uma Criança com Fome: Vida e obra de um chef, ou quase isso!

Toast – A História de uma Criança com Fome: Vida e obra de um chef, ou quase isso!
  • Publishedmarço 16, 2017

Alguém aqui tem uma cabeça tão de gordo(a) que ama assistir filmes, séries, realities sobre culinária? Então sou uma dessas!

Isso não é um hábito muito antigo, apesar de que lembro de assistir Ana Maria Braga fazer bolo de chocolate e outras maldades desde pequena. Mas de um tempo para cá, com canais de TV que têm uma gama gigante de programas desse tipo, apeguei-me nisso.

Foi no intuito de encontrar mais um filme desse estilo que fui fazer pesquisas lá no nosso querido e amado Netflix. Alguns já assisti, mas encontrei um o qual já tinha visto algumas cenas e decidi assistir completo.

Esse é “A História de Uma Criança com Fome”, ou “Toast”, de 2010. Um filme inglês com uma história um tanto quanto dramática, mas com toques de comédia (tipicamente inglesa), uma fotografia linda, um elenco maravilhoso e pratos lindos, dá até vontade de comer enquanto assisti (ah, se o teletransporte de Willy Wonka funcionasse na vida real!).

O filme conta a história de Nigel Slater, um famoso chef de cozinha, jornalista, escritor culinário e apresentador de TV inglês. Acredito que tenha algumas licenças poéticas, mas o interessante é que o próprio Nigel aparece no final do filme (spoiler alert!).

Nigel é filho único do excêntrico casal que vivia numa pequena cidade inglesa nos anos 60. Ela não sabia cozinhar, tinha medo (a palavra é essa mesmo) de produtos orgânicos e só sabia esquentar comidas enlatadas, torradas e tortas para a noite de Ação de Graças, mas era uma mãe amorosa e fazia de tudo pelo filho. Ele era um homem trancado, sempre preocupado com alguma coisa, mas nunca demonstrava sentimentos “melosos”.

Apesar do pouco talento da mãe para a cozinha, Nigel era fascinado por aquilo tudo, lia livros de culinária escondido à noite. Até fez a mãe tentar fazer um espaguete um dia, não fez muito sucesso, mas ele se sentiu realizado.

A mãe de Nigel adoeceu e veio a falecer quando ele ainda era criança, ficou só ele, o pai e a distância entre eles. Como o pai dele não estava dando conta de administrar a casa, ele contratou a Sra. Potter, uma mulher muito diferente daquelas que Nigel conhecia, tinha roupas mais vulgares, não tinha gostos e gestos finos, era “comum do povo”, por assim dizer. Mas a Sra. Potter tinha algo que Nigel sempre quis, habilidade com a cozinha.

A Sra. Potter, conforme ia tomando espaço na casa, foi conquistando o pai de Nigel pelo estômago. Todos os dias, antes do fim de seu expediente, ela deixava o jantar pronto para os donos da casa, todo dia um prato diferente, sempre muito saboroso. Ainda assim Nigel e ela não se davam bem. Para o garoto, aquela mulher queria tomar o lugar da mãe dele.

A presença dela só aumentou. Apesar de não ter ficado explícito, ela se tornou a companheira do pai de Nigel e, aos poucos, uma batalha se instalou. A Sra. Potter não fazia aqueles pratos maravilhosos só para agradar, ela queria a atenção do pai de Nigel, justamente o que Nigel queria (porque nunca tivera).

A solução? Nigel começou a fazer aulas de arte culinária na escola e uma vez na semana levava um prato especial para casa. Isso irritou a madrasta, que começou a tentar superar sempre, fazendo da casa um verdadeira campo de guerra. E aí vem um dos maiores símbolos do filme, o merengue!

Tenho duas sequências preferidas, ambas remetem a morte da mãe de Nigel. A primeira é uma tentativa de aproximação com o pai, diminuir o abismo que tem entre eles, e ele faz isso, logicamente, com comida. Junta todo o dinheiro que tem, vai até o mercado que vende peixe, compra o preferido do pai e pergunta ao vendedor como preparar. Assim que chega em casa ele prepara como havia sido instruído, mas seu pai demorou mais do que o normal, aí ele deixou o peixe tempo demais na grelha, passando do ponto. Quando o pai chega e vê o esforço dele, come o peixe e ainda elogia.

A outra é a primeira saída do pai, a primeira vez que Nigel fica sozinho em casa. Com medo e saudades da mãe, Nigel coloca a música “Ne Me Quitte Pas”, vai até o guarda-roupas, pega o vestido que ela tinha usado na última vez que dançou com ele e começa a dançar com o vestido, como se a mãe estivesse lá.

Tudo nos faz remeter aos anos 60 e à nostalgia da história de Nigel: figurino, forma de falar, fotografia, tudo se encaixa. E o elenco ajuda muito nisso, são poucos os personagens, fazendo com que haja mais enfoque na história de cada um.

Apesar de toda a divulgação ser com Freddie Highmore, o Charlie da “Fantástica Fábrica de Chocolates” na versão de Tim Burton (fã demais desse menino, que tem minha idade, inclusive), mas ele só interpreta Nigel com 16 anos, ou seja, ele só aparece nos últimos 30 minutos de filme, mais ou menos, que tem 96 minutos no total.

Não que Freddie não tenha feito um bom trabalho, ele foi maravilhoso, como sempre, mas acho injusto esse enfoque nele quando, na verdade, quem rouba a cena é o ator que interpreta Nigel quando pequeno, ele é Oscar Kennedy.

“Toast” foi o primeiro filme de Oscar Kennedy, que não fez outros trabalhos tão conhecidos depois, mas que é excelente no filme. Muito interessante como uma criança de uns 11 anos, na época, consegue capturar aquele tipo de emoção. Que é, inclusive, uma das marcas da atuação de Freddie, ou seja, eles foram ótimos complementares e fizerem jus ao personagem.

O outro destaque da elenco é, logicamente, a loucamente maravilhosa Helena Bonham Carter. Preciso dizer quais obras ela fez? Acho que não, mas vou falar porque convém falar que ela já fez a mãe de Freddie, lá na “Fantástica Fábrica de Chocolate” da versão de Burton. Aliás, se quiser assistir alguma coisa com ela, só escolher um filme de Burton com Johnny Depp, provavelmente ela estará no elenco também.

Nesse filme ela faz a empregada que se transforma em madrastra e arquirrival na culinária, a Sra. Potter. Mais uma vez (acho que já falei de Helena por aqui) ela faz um excelente trabalho, porque ela consegue ser a mais elegante mulher, uma rainha inglesa, mas também sabe ser a vulgar, a louca, a mendiga, a mãe de família, enfim, o céu é o limite para ela.

Então, meus queridos, preparem seu merengue (ou compre, mais fácil), senta na frente da TV (ou computador), coloca o amigo Netflix para funcionar e se divirtam assistindo “Toast”/“A História de Uma Criança com Fome”.

Beijinhos e até a próxima!

Written By
Nivia Xaxa

Advogada, focada no Direito da Moda (Fashion Law), bailarina amadora (clássico e jazz) e apaixonada por cultura pop. Amo escrever, ainda mais quando se trata de livros, filmes e séries.

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