Star Wars – A Ascensão Skywalker. Análise do filme que marca o fim de uma Era.

Falar sobre Star Wars, não importa qual seja a mídia em que esteja sendo reproduzida, é algo sempre complexo. Há fãs que acompanham esses filmes por várias décadas. Pais passaram aos filhos seu amor pela saga e, claro, isso pode levar ao extremo quando tanta paixão não é respeitada. Logo, cautela é algo imprescindível para abordar uma franquia que já faz parte da cultura popular.

Star Wars tem uma história bela e que encantou por muitos anos uma legião de fãs. Desde o primeiro filme (feito com recursos não tão grandiosos e com a tecnologia que a época permitia) homens, mulheres e crianças aprenderam a amar personagens icônicos como Han Solo, Leia, Chewie, Luke, Darth Vader, Obi-Wan, Yoda e outros. A saga ultrapassou os cinemas e chegou aos quadrinhos, brinquedos, séries, animações, livros, cosplays, audiobooks e tantas outras formas e meios pelos quais é possível continuar a viver a trama que se iniciou em 1977 e cujo fim, teoricamente, acontece agora em 2019.

Este é o nono filme de uma série que começou pelo meio (episódios IV, V e VI), seguiu-se dos três primeiros (I, II e III) e finalmente chegou à fase final, constituídas pelos episódios (VII, VIII e IX). Os fãs elegeram quase de forma unânime os episódios originais (IV, V e VI) como os melhores.  Certamente outros discordam, mas a maioria têm – na minha visão – razão. Vejo méritos e muita coragem em ampliar o universo e a mitologia de Star Wars através dos episódios intermediários (I, II e III), aqueles que mostram a origem, ascensão e queda de Anakin Skywalker, o pai de Luke.

Os fãs mais conservadores encontraram diversos problemas com os episódios intermediários, porém admito que gostei de quase tudo apresentado lá, exceto, claro, a dose exagerada de romance para justificar a aproximação de Anakin e Amidala. Mesmo assim, personagens do porte de Qui-Gon Jinn, Darth Sidious, Darth Maul, Mace Windu, entre outros.

E eis que chegamos a uma nova trilogia, aquela que traria novos elementos à série, mas também teria elementos tradicionais para manter a atração e a atenção dos fãs mais antigos. Chegamos, enfim, aos episódios finais. O que esperar de uma nova trilogia sem Darth Vader, sem o carisma de um Skywalker, sem o duelo das forças Jedi contra seus inimigos Sith? As respostas estão mais adiante…

O episódio VII (O Despertar da Força) trouxe ao espectador personagens interessantes como Rey, Finn, Poe Dameron e, claro, o antagonista que chamou a atenção de todos por ter um visual bem próximo do de Vader, mas com um sabre de luz nunca antes visto, quase uma espada medieval dos Cavaleiros Cruzados, guardadas as devidas proporções. Este é Kylo Ren, um homem atormentado pela dúvida entre seguir os passos dos pais ou atender ao legado de seu avô.

O Despertar da Força, honestamente, não acrescentou muito em termos de trama. Mais um fã service do que algo inovador, o filme foi bem recebido pelos fãs antigos, mas não foi corajoso ao se manter na zona de conforto daquilo que os filmes anteriores haviam mostrado. Destacam-se na obra as personagens de Kylo Ren, Rey e Finn – além do carismático robô BB-8 -, tendo Poe menos destaque em tela. As participações do Han Solo (Harrison Ford), Chewbacca, Leia (Carrie Fisher) e uma breve aparição de Luke Skywalker (Mark Hammil) dão um brilho especial ao longa, porém não sustentam a história, mesmo diante de uma tragédia envolvendo estes.

O oitavo filme (o segundo da trilogia final) tem o título de Os Últimos Jedi. Com a missão de acrescentar algo à rasa trama do seu antecessor, o longa nos coloca diante de um embate entre Rey e Kylo Ren. Os vínculos sanguíneos de Ren com Han Solo e Leia sempre deixam a dúvida na plateia sobre qual lado ele optara, porém nem mesmo os pedidos de Rey conseguem afastá-lo da ganância de assumir o poder da Primeira Ordem.

Este filme tem um desenvolvimento melhor que o Episódio VII, além de evidenciar que a luta entre o lado negro da Força e sua antítese está cada vez mais forte. Novamente nos deparamos com um enredo que foca nos laços sentimentais de Rey e Kylo, mas ao menos existe espaço para desenvolver outras personagens como Poe Dameron, Finn, Phasma e outros elementos que dão grande impacto visual à obra, tal como a Guarda Vermelha de Snoke.

Entretanto, fica no ar – outra vez – se haverá redenção para Kylo após este se declarar o Líder Supremo. O ponto positivo fica a cargo da maior desenvoltura de Rey que se mostra cada vez mais poderosa. Este poder, aliás, provocou ondas de suposições entre os fãs que temiam vê-la como uma futura força negativa, caso o Lado Negro se aposse dela.

O foco emotivo desse longa-metragem está no fato de termos a última participação de Carrie Fisher na obra, pois a atriz infelizmente morreu em 2016. Essa participação dela despertou o lado emotivo dos fãs e – gostemos ou não – impulsionou a bilheteria do filme. Isso, contudo, não foi primordial, já que o Episódio VIII tem méritos e não se apoiou apenas no fan service. Destaca-se, ainda, o embate entre Kylo e Luke em uma das cenas mais aclamadas dessa nova fase. Luke se mostra um dos mais poderosos mestres Jedi de toda a história, ainda que a um alto custo. Também é preciso citar o ótimo combate que uniu Kylo e Rey contra a Guarda Vermelha de Snoke. Sensacional!

Com esse resultado, chegamos a um equilíbrio de “forças” até aquele momento na trilogia nova. O primeiro episódio foi mediano, repleto de fan service, ao passo que o segundo – mesmo ainda com muito apelo saudosista – trouxe novos elementos e aprofundou o desenvolvimento das personagens principais.

Contudo, Kylo Ren, o vilão principal, o novo Darth Vader, ainda não convencia por oscilar demais entre o bem e o mal.

Mas a espera acabou. Chegamos ao aguardado dia da estreia de Star Wars – A Ascensão Skywalker. Preparem-se para uma análise completa desse filme que encerra um ciclo que começou há 42 anos.

O Fim.

Como divulgado pela Disney há algum tempo, este filme encerra não apenas a nova trilogia; encerra toda a saga Star Wars que começou em 1977 e focou durante todos os episódios na luta do bem contra o mal. Apesar do tema clássico, a saga sempre trouxe elementos novos e marcou o que hoje conhecemos como Space Opera, gênero consagrado pela franquia.

Por ser um filme importantíssimo ao ponto de determinar a continuidade do universo cinematográfico criado por George Lucas, o episódio IX teria a obrigação de ser um dos melhores – senão o melhor – filmes de Star Wars. Isso, contudo, depende muito mais de uma ótima história do que a simples inserção de efeitos especiais. Basta lembrar que os filmes que iniciaram a franquia em 1977, isto é, a trilogia original, se sustentam até hoje como os melhores, isso sem o aparato tecnológico que a Disney dispõe hoje.

Mas será que conseguiu?

A jornada do herói.

Confirmando a tendência dos filmes anteriores, novamente nos deparamos com uma “jornada do herói” que não se aplica somente a Rey e seus amigos. O próprio Kylo Ren tem sua ascensão, porém esta voltada ao lado negro da Força, o que reforça o equilíbrio entre os Rebeldes e a Primeira Ordem.

Agora, encontramos Rey e Kylo em um patamar de poder só visto através de Darth Vader e Palpatine, dois dos vilões mais icônicos de Star Wars.

E que comecem os jogos…

O Enredo.

O claro intuito deste longa-metragem é encerrar a trilogia e dar um destino aos personagens que dividiram opinião entre os fãs. Isso deveria ser feito com extremo zelo e sem pressa, fato que provavelmente resultaria em um filme com mais de três horas de duração, o que não seria algo ruim, já que a satisfação do público sempre deve ser a meta de quem produz cinema.

O enredo foca na luta em dois pontos específicos: a Rebelião contra a Primeira Ordem e, em destaque, Kylo Ren contra Rey. Há outro vilão por trás de boa parte das tragédias do filme, mas não se enganem, é na luta interna da dupla Rey e Kylo que se concentra o cerne da obra.

Entre os citados conflitos há o desenrolar do caos que atingiu a Rebelião, o surgimento de uma Armada capaz de destruir incontáveis planetas e, ainda, o retorno de um vilão que atua como um influenciador, tal como foi Grima Língua de Cobra no filme As Duas Torres.

Com a vontade de corrigir tudo que deu errado nos episódios anteriores, J.J. Abrams entrega um filme acelerado, porém muito similar ao que já vimos em todos, todos os outros filmes do universo cinematográfico de Star Wars. Há uma visível tentativa de inovar, há força de vontade de entregar um longa cuja premissa e desenvolvimento sejam convincentes não apenas aos fãs que acompanham os livros e séries como Rebels, mas também ao fã clássico, aquele que acompanha a saga desde sua origem no longínquo ano de 1977.

Sendo assim, contemplamos um Kylo Ren mais maduro, poderoso e maquiavélico. Rey também está mais poderosa, agora treinada pela General Leia nas artes Jedi. Todavia, o ritmo rápido demais e a ausência dos bastidores daquilo que ocorreu entre o episódio VIII e esta nova aventura deixa uma lacuna que incomoda o público.

Coadjuvantes de luxo.

A pressa em finalizar a obra, assim como a vontade de dar destaque e maior pertinência ao duelo que completa três episódios entre Rey e Kylo, tirou espaço para personagens que tiveram algum destaque nos episódios VII e VIII ou foram inseridos nesta nova aventura.

Entre os “coadjuvantes de luxo”, quase figurantes, destaco as presenças de Dominic Monaghan (o eterno Meriadoc Brandybuck, ou simplesmente Merry), Lupita Nyong’o (que “aparece” pouquíssimo como Maz Kanata), Greg Grunberg – que atuou em Heroes – volta como Snap Wexley, Dennis Lawson é outro coadjuvante que aparece para o delírio dos fãs da trilogia original ao interpretar novamente Wedge Antilles. Há outros atores que apenas pontuam na trama.

Os próprios Cavaleiros de Ren foram pouquíssimo usados e não chegam a causar o impacto visual da Guarda Vermelha de Snoke ou oferecem o mesmo perigo.

Ver esses atores e atrizes surgirem, sem ter o espaço para ampliar o alcance de suas personagens, é decepcionante e mostra o quanto a Disney se perdeu no processo de criação dessa nova trilogia.

Efeitos Visuais, fotografia e trilha sonora.

Este é o ponto que mais se destaca no longa-metragem. O visual do filme é simplesmente maravilhoso. Há localidades criadas digitalmente que impressionam pela veracidade delas. Sabemos que aquilo não existe e, mesmo assim, nossos olhos nos convencem do contrário.

A inclusão de Leia (Carrie Fisher) com cenas gravadas anteriormente está incrível. Tudo colabora para que a história ganhe com o uso do que há de melhor em tecnologia, mas é preciso lembrar que o torna algo inesquecível não é apenas o visual, mas a trama por trás daquilo que se vê. Outra inclusão – desta vez digital – mostra Luke e Leia tal qual vimos no primeiro filme da década de 70.

A fotografia é primorosa e há os tradicionais enquadramentos e transições que atuam para trazer à tona a sensação de estarmos diante de um legítimo longa de Star Wars. Tudo isso unido à magistral trilha sonora composta e regida por John Williams garantem um espetáculo ainda melhor.

Seja como for, do ponto de vista técnico, este é o melhor filme de Star Wars.

O Lado Negro da Força.

Outro ponto que volta a ser visto com a qualidade do material original é a abordagem sobre o lado negro. O retorno de um vilão clássico mostra que a Disney demorou a compreender o que impacta o fã. Demorou, porém chegou finalmente a um denominador comum. O problema está na demora para que essa nova “virada de mesa” surgisse, além da já citada “correria” na trama que confunde o espectador mais novo ou o fã apenas dos três últimos episódios.

Para o fã mais novo e que desconhece a narrativa original e também não acompanhou a trilogia intermediária, este será um filme difícil, pois a compreensão está atrelada a várias personagens e fatos que estão contidos nos filmes mais antigos. Neste filme, o pior vilão não é qualquer um dos que já nos foram apresentados. O pior vilão, o verdadeiro Lado Negro, é o desespero em entregar uma trama corrida, pouco desenvolvida e com soluções finais bem similares a outras que já vimos na mesma franquia.

Atuações.

Este é um ponto que não pode ser questionado. O elenco inteiro se entrega muito para que tenhamos um filme melhor. Adam Driver está convincente como Kylo Ren e ele se aproxima muito daquilo que aguardamos durante todos os dois episódios anteriores. A Rey (sem sobrenome e vocês vão compreender isso ao final do filme) de Daisy Ridley é ótima e nos deixa o desejo de vê-la como uma Sith com apenas alguns segundos de sua versão maligna no longa.

C3-PO volta com força total à trama e garante momentos alegres e outros tristes com a interpretação do consagrado ator Anthony Daniels.

Finn (John Boyega) não tem o destaque que teve no primeiro filme, mas tem um importante papel na principal batalha. Poe (Oscar Isaac) está bem presente e chega a tomar uma posição parecida com a que tinha Luke Skywalker em Uma Nova Esperança.

Luke (Mark Hammil) tem uma breve aparição que comprova seu poder como Jedi. A general Leia (Carrie Fisher) tem sua participação póstuma garantida graças à inserção de imagens anteriormente gravadas e adaptadas à trama. Leia garante momentos extremamente saudosistas e tristes por conta da morte de Carrie que ressoa até hoje, assim como é vital no destino de seu filho, Ben Solo.

A volta de Palpatine é mostrada de forma discreta até certo ponto. A garantia do ator Ian McDiarmid novamente no papel dá mais impacto à personagem e fornece um vilão de peso à história.

Veredito final.

Este último filme marca uma era para Star Wars. Erros e acertos contínuos tiraram a credibilidade de algo que já está embutido na cultura pop. Entretanto, mesmo diante de tantas lacunas e falhas, A Ascensão Skywalker é um filme bom, cheio de momentos que levaram os espectadores aos aplausos, lágrimas e, certamente, provocou emoções fortes.

A obra não está próxima do impecável; está longe do equívoco e se situa como um filme mediano, porém melhor que seus dois antecessores. Há muito fan service que está presente apenas para agradar ao fã tradicional, algo que soa como um pedido de desculpas pelos erros nos episódios VII e VIII. Não cabe a mim deixá-los explícitos, pois sei que eles também serão importantes para que os fãs busquem novamente os filmes que antecedem a trama. Todos os filmes, inclusive os prequels Rogue One e Han Solo, além da sensacional série O Mandaloriano.

Aliás, é muito importante que vejam todos os filmes para que a imersão neste novo longa seja maior. Os easter eggs e o fan service só funcionam, óbvio, para quem conhece e compreende a totalidade do universo Star Wars.

Lembrem-se de um último fato importantíssimo: essa é minha análise, movida por meu conhecimento e por aquilo que gosto ou não na série. Sua experiência dependerá exclusivamente de você. Logo, dê uma oportunidade para o filme e descubra por si só este novo episódio de Star Wars.

 

 

 

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