Como a Disney retomou a credibilidade de Star Wars com a série “O Mandaloriano”.

Algumas conversas precisam ser iniciadas com o máximo de honestidade possível para que, ao final, o resultado seja coerente, justo e verdadeiro. Sendo assim, creio que a esmagadora maioria confirmará que há algum tempo a franquia Star Wars – para os cinemas –  sofre com altos e baixos. E o que isso significa? Simplesmente que após os episódios IV, V e VI, a unanimidade é quase uma meta inalcançável para os espectadores da franquia. Alguns amam, outros odeiam, uns poucos acham que erros e acertos são inevitáveis. Não há uma aceitação massiva desde os longas que marcaram as gerações do final dos anos 70 e década de 80. Essa polêmica se amplia com os episódios 7 e 8, só para citar.

Os motivos para a afirmação acima é simples e têm raízes em diversos fatos como o surgimento de uma geração de fãs cada vez mais atenta à mitologia criada, fãs que criaram laços emocionais com suas personagens favoritas e, por isso, não aceitam erros de continuidade, quebra de cânones estabelecidos e outras lacunas proporcionadas pela dificuldade que a própria obra criou.

Então, próximos ao lançamento do nono filme da franquia Star Wars, o canal Disney Plus lançou a série que pode definir o destino da franquia em si e, de tabela, do longa Star Wars – Episódio IX, pois é fato que comparações serão estabelecidas entre os dois.

Seja como for, um ponto está claro até o presente momento: O Mandaloriano é uma obra impecável, capaz de despertar o interesse de quem não conhece nada de Star Wars, assim como agradar até aquele fã mais conservador e exigente. Os motivos? Vamos a eles…

O elenco.

A escolha dos astros que dariam vida a esta história foi muito acertada. Pedro Pascal (ainda que não mostre o rosto até o momento) dá credibilidade ao caçador de recompensas chamado Mando. Carl Weathers (o Apollo Creed da série Rocky) consegue convencer como o agenciador de caçadores e chefe da Guilda, Greef Carga. Gina Carano comprova que está muito além do MMA ao intepretar Cara Dune, uma ex-soldado rebelde que ganha a vida como mercenária. Giancarlo Esposito (Breaking Bad) surge como um ex-governador do Império.

Há muitos outros atores e atrizes a citar, mas vou poupá-los dos elogios. A verdade é que o elenco em sua maioria mostra uma competência capaz de agradar até mesmo o mais radical dos fãs de Star Wars.

Um retorno às origens.

Apesar dos avanços tecnológicos que o cinema e as séries atuais apresentam, O Mandaloriano é uma série que faz questão de homenagear suas origens. A presença de atores transformados em alienígenas pela maquiagem, o uso de locações mais brutas e até mesmo efeitos criados mecanicamente são a comprovação de que há respeito pela obra original, lançada no longínquo ano de 1977.

Sem ansiedade.

Os mandalorianos são caçadores de recompensa que seguem um rígido código de honra e comportamento. Isso está muito bem retratado na série e leva o espectador a querer descobrir mais sobre esses homens que oscilam entre o bem e o mal.

Mando é um desses mandalorianos. Um homem que não hesita em matar, mas tem sua rígida estrutura abalada pelo ato de uma de suas caças. Através de seu código de honra, Mando acaba por optar por proteger essa “vítima”, algo que provavelmente lhe trará não apenas muitas dores de cabeça, como também tem o potencial de mudar para sempre sua vida.

Sobre a ansiedade citada no subtítulo, isso diz respeito a nós, espectadores, que aguardamos a hora e a motivação para que ele remova o capacete. Entretanto, acertadamente, o roteiro não abre essa brecha para que o ator se sobreponha ao papel que interpreta. Isso ocorrerá, porém no tempo correto.

A trama.

A série se passa entre a queda do Império e aproximadamente 25 anos antes da ascensão da Primeira Ordem. Na história, o caçador de recompensas chamado Mando se envolve em aventuras cheias de ação, traição e referências ao universos de Star Wars. Ainda que seja uma série sobre um Mandaloriano, há espaço para outros personagens e também é possível ver muitas referências à franquia em si.

O ponto principal (até o momento) está na balança que mantém o espectador sempre em dúvida sobre quem Mando realmente é: um caçador ou um homem de bem. Esta dúvida remete ao filme O Profissional, mas o diferencial não está apenas na substituição de Natalie Portman pelo baby Yoda. Há uma relação de proximidade que beira a paternalidade, um vínculo improvável e tão forte quanto a lealdade pela guilda.

Os cinco episódios já vistos mostram que há possibilidade de maiores interações e aventuras, uma vez que Mando pode sair de uma missão e entrar em outra. Eu, sinceramente, aposto forte na “jornada do herói” e, assim, nada mais abordo sobre isso.

Os coadjuvantes são estrelas à parte nessa trama. As presenças já citadas mais acima seriam por si só a garantia de um grande espetáculo, mas ainda contamos – nesta temporada – com os nomes de Emily Swallow, Nick Nolte, Mark Boone Jr., Ming-Na Wen, Natalia Tena, Bill Bur e Julia Jones.

A busca por recompensas (e algo muito além) motivará Mando a continuar em sua senda como um mandaloriano. Por quanto tempo não sabemos, porém garanto que cada segundo da história é muito bom.

Western Spaghetti.

Um dos melhores pontos de O Mandaloriano é a ação. Contudo, isso não significa “Michael Bay” no comando. Pelo contrário, as cenas de ação são pensadas para homenagear um gênero que marcou o cinema: o western.

Desde o gestual dos mandalorianos que lembra demais a atuação de astros como Clint Eastwood e John Wayne, até o código de honra dos pistoleiros, tudo colabora para o clima clássico dos westerns, inclusive o local árido e quase sempre ensolarado. Claro que a presença de Stormtroopers que servem como foras-da-lei contratados, isto é, mercenários, dá um toque a mais para esse ambiente muito similar ao Velho Oeste.

Povos e grupos mais detalhados.

Certos grupos de Star Wars como o Povo da Areia receberam uma maior profundidade, afastando-os apenas dos papéis vilanescos ou estereotipados. A série conta com mais tempo que o recebido nos cinemas e, assim, certamente poderá expandir a mitologia não apenas dos mandalorianos como de outros povos e grupos que apenas “apareceram” nos oito filmes da franquia até o momento (isso sem falar nas animações, livros, etc).

Direção.

Esse não é o projeto de um único diretor. Os nomes dos diretores da primeira temporada incluem Dave Filoni (Star Wars: The Clone Wars/ Star Wars Rebels), Taika Waititi (Thor: Ragnarok), Rick Famuyiwa (Dope) e Bryce Dallas Howard (Jurassic World). Essa variedade de estilos garante que a série não fique estagnada em um estilo ou na “teimosia” de um diretor específico. Até o momento eu posso garantir que isso deu muito certo.

Enfim…

A série é uma grata surpresa para fãs e para os que não conhecem nada de Star Wars. Ação, aventura, drama e um roteiro complexo e muito bem elaborada – fora a qualidade Disney que conhecemos – são motivos mais do que suficientes para que vocês assistam a esta obra que agregou positivamente à mitologia do universo criado por George Lucas.

 

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