Show: Zé Ramalho em Porto Alegre

Uma linda lua cheia iluminava o Parque da Redenção na noite de sábado em Porto Alegre. Aliás, o último sábado antes da capital que é longe demais das capitais, como diria Humberto Gessinger, completar os seus 250 anos de vida. Uma agradável noite que teve como presente, no anfiteatro Araújo Vianna, um show de sucessos do paraibano Zé Ramalho, com sua cavernosa e única voz, que também recebeu como presente um Araújo lotado e ávido por um grande show. Nessa turnê Zé Ramalho promete revisitar seus grandes sucessos, principalmente aqueles dos fins dos anos 1970 e início dos 1980, além de incluir alguns êxitos dos 1990 e 2000. E, é claro, suas releituras de canções de outros compositores. Com a casa numa grande expectativa, Zé Ramalho e sua ótima Banda Z entram no palco por volta das 21h15min e já levantam a plateia com uma dessas versões, no caso O Que É, O Que É, de Gonzaguinha. Com um arranjo todo seu, Zé faz uma ode à vida, sempre tão sofrida, mas muito machucada nesses dois últimos anos, onde além de uma pandemia, muita gente perdeu a alegria de viver, mas a canção mesmo diz, a vida apesar dos pesares, é bonita. Na sequência, Zé emenda uma versão do seu ídolo Bob Dylan, Tá Tudo Mudando (Things Have a Changed), inclusa no seu tributo a ele, onde o Bob Dylan da Paraíba homenageia o de Minnesota.

Chega a hora de Zé desfilar seus sucessos, emendando petardos como Kryptonia e Beira Mar, fazendo o auditório cantar junto, mas foi com Entre a Serpente e a Estrela, sucesso de novela, composição do genial Aldir Blanc, que a plateia se soltou de vez. Destaque para a qualidade dos músicos que acompanham o artista, em especial Toti Cavalcanti, ora na flauta, ora no sax, esmerilhando nos belíssimos arranjos. Táxi Lunar e sua letra de amor fantástica é um aquece para Terceira Lâmina, que num arranjo de baião faz a plateia dançar junto. Banquete dos Signos e Eternas Ondas vêm na sequência, antecipando a esperada Avôhai. Cantando a sabedoria que passa de gerações na família, a homenagem ao avô do cantor, seu primeiro sucesso oriundo de seu álbum de estreia de 1978, ainda encanta gerações diversas tendo como base o público de diversas faixas etárias espalhados pelo anfiteatro. Vila do Sossego chega na sequência, como aquela música que a plateia faz coro junto e abre alas para a esperada Chão de Giz. O caso de amor não correspondido com pitadas surrealistas ainda é a música que hipnotiza o povo e é, com certeza, o momento mais esperado do show.

Segue o espetáculo com a excelente Garoto de Aluguel, sucesso antigo, ainda na ponta da língua dos fãs, mas foi com Admirável Gado Novo, canção que marcou um Brasil de 1980, ano de seu lançamento, e depois foi apresentada para as novas gerações em 1996, com a novela O Rei do Gado, que o Araújo veio abaixo. Com um brilhante arranjo, com destaque para a linha de baixo do baixista Rogério Fernandes, que consegue com louvor substituir o finado Chico Guedes, Zé comanda a massa cansada, sofrida e, principalmente, carente de grandes shows, abortados por dois anos de uma pandemia. Destaque do som impecável do auditório, com nitidez e volumes na medida. Com Gita e Medo da Chuva Zé faz sua homenagem ao maluco beleza Raul Seixas, pois além de tocar Raul é sempre bom ouvir Raul, ainda mais com uma impecável apresentação. Frevo Mulher, sucesso de 1980, faz mais uma vez a plateia sorrir, dançar e extravasar, fechando com chave de ouro o show. Antes do bis, é claro, pois Zé e a banda ainda voltaram para tocar o último sucesso nacional dele, Sinônimos, que é uma ode à busca e aceitação do amor, e que devido ao sucesso recente, é obrigatória nos shows. O show encerra com sua homenagem ao rei do baião, Vida do Viajante, de Luiz Gonzaga, coloca Porto Alegre pra dançar mais uma vez antes da despedida de Zé do palco.

Tem artistas que em um palco hipnotizam, Zé Ramalho com sua voz de trovão, ainda impecável, mesmo com mais de 70, ainda passa todo seu sentimento e emoção e com um repertório impecável, seu espetáculo até para quem não é tão afeito a ele é obrigatório. Um grande presente e aquece para seu aniversário, que a capital dos gaúchos e os presentes ganharam na noite enluarada de março.

 

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

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