Robin Hood – A Origem: prequel mostra um bom começo de franquia

Sejamos sinceros. Lendas e histórias do porte de Drácula, Frankenstein, obras de Shakespeare, Tolkien e muitas obras, incluindo Robin Hood, sempre terão novas versões para confortar as gerações de suas épocas. Por mais interessante que sejam os seus antecessores, novos filmes surgirão. Isso, gostemos ou não, é uma regra praticamente inquebrantável.

A introdução deste post serve para que compreendam que Robin Hood, a Origem é uma nova versão da antiga história do fora-da-lei que lutou contra a tirania e roubou dos ricos para dar aos pobres. Mas… nem tudo é o que o aparenta.

Conta a lenda que Robert de Locksley/Robin Hood (Taron Egerton) era um nobre que serviu ao seu rei nas Cruzadas. Ao retornar para casa, Rob encontrou seu lar devastado e os bens confiscados pelos regentes locais. Há outras versões da mesma trama e, pelo visto, essa nova versão da história bebe de várias fontes.

Antes de prosseguirmos, vamos ao trailer para auxiliá-los a compreender melhor o post.

Agora, prossigamos com a crítica do filme…

Mas tenha cuidado! Esse texto contém (poucos) spoilers.

Contexto histórico.

A lenda põe Robin como um guerreiro que lutou por seu rei nas Cruzadas. Isso está presente no longa, assim como a luta dos cruzados contra soldados árabes, o que situa a trama em torno de 1189 a 1192. Ricardo Coração de Leão foi um dos nobres que esteve à frente da Terceira Cruzada, tal como conta a narrativa lendária de Robin Hood.

Nobre habilidoso.

Esse é um ponto inquestionável do filme. Os nobres tinham tempo e recursos financeiros para treinar e se aprimorar nas artes da guerra. Habilidade com espadas, lanças e arcos não era incomum entre eles. O longo nos apresenta – bem cedo – as habilidades de Robin, porém mais adiante haverá um combate que mostra alguém ainda mais hábil… e letal. Também fica óbvio que havia uma parcela desses nobres que tinha como únicas preocupações a comida, a devassidão e a riqueza.

O importante desse tópico é mostrar que Robin não era um nobre ocioso. Ele literalmente trabalha para manter suas propriedades e sua agilidade em ótimo estado. Os roteiristas Ben Chandler e Dave James Kelly aproveitam essa passagem para apresentar a linda e destemida Marian (Eve Hewson) que é o grande amor da vida do fora-da-lei. Ela se mostra astuta, destemida e capaz de intimidar pela beleza e ações.


O desenvolvimento das habilidades com arco de Taron podem ser vistas no vídeo abaixo. Isso serve para destacar que, apesar de muitos efeitos especiais, o ator também tem cenas reais com a arma.

O vilão.

Dificilmente alguém não conhece a história de Robin Hood, principalmente no que diz respeito ao vilão, o Xerife de Notthingham (Ben Mendelsohn). No filme ele é interpretado pelo competente Ben Mendelsohn. Por se tratar de um prequel, o principal vilão da história original ainda não surge, o que incomodou uma parte do público durante a sessão que assisti. Eu, honestamente, compreendi bem o que os roteiristas e o diretor Otto Bathhurst quiseram ao tomar algumas decisões que diferenciaram essa história de outras com o mesmo tema.

O ponto mais interessante desse vilão e seus “parceiros”, contudo, diz respeito às correlações que surgem durante a trama. Essas correlações fazem com que o público mais atento associe os discursos e atitudes preconceituosas e discriminatórias do Xerife e do Alto Clero como algo próximo ao que governantes mais radicais fazem hoje. Há até o debate sobre a construção de uma muralha para separar o alto séquito do Xerife da plebe, lutas entre a guarda e os rebeldes que me lembraram dos conflitos entre a polícia e os Black Blocs. Os sórdidos planejamentos de poder ganham força através do comandante supremo da Igreja (F. Murray Abraham) e o conselho de militar que cerca o Xerife.

Há um viés político em todas as decisões do Xerife. Ele quer mais e mais poder. Para isso, alianças e traições sempre são necessárias. Como todo indivíduo cujo poder subiu à cabeça, ele não vê problemas em castigar os desprovidos para ter mais riquezas e força política.

Entretanto, caso você tenha noção da lenda original, sabe que o Xerife é o menor dos problemas.

Analogias.

Em todo o longa é possível ver (literalmente) associações que fazem referência a fatos históricos atuais.

As Cruzadas são mostradas como uma verdadeira invasão ao Oriente Médio, local inóspito com habitantes hostis e guerreiros implacáveis. Nessas cenas, o uso de arqueiros habilidosos, áreas construídas intrincadas e slow motion dão a nítida sensação de que contemplamos os ancestrais de uma tropa de elite norte-americana contra árabes atuais. Esse é um ponto interessante por nos apresentar um personagem marcante da mitologia de Robin, porém com outro viés. Também serve, mais adiante, para explicitar o lado nobre e piedoso daquele que se tornará o maior inimigo da Igreja, de Sherwood e Notthingham.

Há ainda uma passagem bastante interessante, dotada de um conteúdo crítico que, ao meu ver, está direcionada ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O discurso com tom segregador e bastante eloquente (ilustrado por cenas de pessoas impossibilitadas de chegar aos melhores lugares de Notthingham) reforçam essa impressão.

Exageros.

Como disse acima, a trama lendária sobre o homem que roubava dos ricos para dar aos pobres é datada, aproximadamente, entre os anos de 1189 a 1192. Havia fornalhas nesse período, armas e outros artefatos que aparentemente não existiam, mas o filme leva a tecnologia da época a outro patamar. A cidade parece uma verdadeira metrópole com indústrias e o caos comum a elas. As indumentárias de alguns personagens estão sofisticadas demais e remetem ao “estouro” das roupas negras proporcionado pelo fenômeno Matrix. De X-Men ao consagrado Tropa de Elite, ficou associada a cor preta aos combatentes mais letais… algo não tão correto.

Também cabe citar o uso de ação no estilo “Velozes e Furiosos”, porém com cavalos. Isso trouxe um incômodo perceptível em muitos dos espectadores. Caso vocês já tenham assistido a uma apresentação de salto com cavalo em qualquer olimpíada ou competição específica, provavelmente percebeu que alguns cavalos oferecem resistência – independentemente do treino – para saltar obstáculos. Agora imaginem se chocar com uma parede de madeira maciça. Vê-los atravessar uma passarela de tábuas quebradiças em alta velocidade foi, no mínimo, estranho.

Para finalizar este tópico, deixo aqui minha súplica para que o próximo episódio tenha mais desenvolvimento de história e menos aspecto Steampunk.

Alívio cômico.

A presença do querido Frei Tuck (Tim Minchin) serve para destacar o poder e a influência da Igreja na época. Homens eram condenados e excomungados com uma simples palavra do líder religioso. Tuck não é um líder político dentro do clero, mas é um homem a serviço de uma causa tão nobre quanto seu voto. Suas ações e o jeito enrolado servem para trazer um pouco de humor à obra, mas não vi necessidade desse tipo de inclusão. O filme é leve e acessível a qualquer um com dez anos ou mais de idade.

Nota final.

Robin Hood – A Origem traz uma trama que serve como prequel (uma literal origem) ao ladrão. Algumas cenas são magníficas, ótima fotografia e efeitos visuais interessantes. Há uma reconstrução do personagem e de alguns outros personagens, o que pode provocar incômodo aos mais puristas.

Eu vejo uma história com potencial e agradável de assistir. Certamente haverá continuações (uma provável trilogia) que mostra um futuro bem promissor, desde que sejam respeitados alguns limites criativos.

A citação do dinheiro como fator corrompedor, inclusive da Igreja, é algo a ser admirado. Nos tempos do politicamente correto, fiquei receoso de haver uma exclusão do elemento clerical como outro afetado pela corrupção. Essa mesma corrupção será a responsável por uma verdadeira passagem para o “lado negro” no decorrer do filme.

Então, feitas as devidas observações, faço meu convite para que assistam e se divirtam com esse novo filme produzido pela Lionsgate e distribuído pela Paris Filmes.

 

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