Revolução para quem? – “Aranha”

Revoluções parecem ser coisas que só aconteciam no passado, que conhecemos apenas por meio de livro de histórias (quando se é permitido abordar o assunto, lógico). Mas algumas ainda estão historicamente muito próximas e, infelizmente, podem ressurgir.

O filme chileno “Aranha” lembra a existência de um grupo extremista de direita, nacionalista, dos anos de 1970, cujo objetivo era derrubar o governo de Salvador Allende, e aborda um perigoso triângulo amoroso dentro deste. O longa é dirigido por Andrés Wood e, no elenco, conta com Mercedes Morán, Felipe Armas, Marcelo Allonso, Maria Valverde e Caio Blat.

O longa chega aos cinemas brasileiros por meio da distribuição da Pandora Filmes. A trama alterna cenas no presente (talvez 2019, quando foi gravado) e no passado. No início conhecemos uma Inés empresária, poderosa em cada passo que dá, e um Gerardo perturbado, fazendo justiça com as próprias mãos, aos poucos sabemos as razões de eles serem quem são naquele momento e como estão interligados.

Inés foi Miss em 1970, uma jovem idealista, nacionalista e conservadora, noiva de Justo, igualmente conservador e nacionalista. Eles formavam um casal lindo por fora e bizarro na intimidade, comandavam localmente o tal grupo extremista, mapeavam os ataques, os inimigos da pátria e o futuro deles.

Eles conheceram Gerardo em uma sessão de fotos de Inés, quando viram que ele era tão perturbado quanto eles dois. Gerardo era considerado o cachorro de segurança do casal, com direito a pressão psicológica e terrível tratamento de Justo, que se achava dono de tudo, inclusive do humor, mas era altamente pejorativo em cada palavra que falava.

Depois de um certo tempo, Inés, talvez cansada da loucura de Justo, procura alento nos braços de Gerardo, que até se apaixona por ela, apesar de ele não ser uma pessoa guiada por sentimentos amorosos. E aí a vida de Gerardo passa a ser sutilmente ameaçada, mas ele ainda cumpria com seus deveres lealmente.

Por isso, Gerardo se voluntaria para ser dado como morto, virar um mártir da tal revolução nacionalista que derrubaria Allende. Ele é enviado para um acampamento, mas é abandonado por lá por um certo tempo, sendo resgatado por Inés e Justo, mas com interesses pessoais.

Eles seriam os responsáveis por um crime de estado, Gerardo seria quem apertaria o gatilho porque não poderia sofrer nada, já que estava teoricamente morto. Ele realmente não sofre nenhuma pena, sequer é descoberto, mas é abandonado pelos supostos amigos.

Quarenta anos depois, quando Inés e Justo fazem parte da elite da sociedade, ela comandando várias empresas e é vista como filantropa e benevolente e ele recluso em casa, alcoólatra, paranóico e sofrendo de patologias psicológicas, Gerardo ressurge na vida deles, ameaçando a aparência de paz.

Isso porque Inés e Justo sabem bem o que fizerem, para o país e para Gerardo, e, embora não achem que tenham errado, sabem que um homem como ele tem sede de vingança.

Gerardo, depois de ser flagrado matando um assaltante, é levado a uma clínica psiquiátrica, lá o caso é analisado por uma jovem psiquiátrica que começa a investigar a vida pretérita dele. Ela descobre sobre o tal grupo extremista, sabe que era um braço do nazismo na América Latina, sabe que não pode o liberar, mas é vencida por um esquema antigo, comandado secretamente pela própria Inés.

Ah, o tal grupo extremista tinha um símbolo que lembrava uma aranha, por isso ficou conhecido assim. Não consegui descobrir se esse grupo realmente existiu, mas sabe-se que grupos assim existiram e vêm ressurgindo violentamente, alimentados pelo ódio que a direita implementa ao longo da América Latina.

A estória do filme parece ser um pouco louca, fora da realidade, mas a inspiração é real e próxima de nossa realidade. Acreditar nos nossos países não pode invalidar os direitos básicos de todos os seres humanos que ali vivem.

Até Mais!

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