Pense de Novo – “Anna: O Perigo Tem Nome”

Sabe esses filmes que quando você tem certeza que entendeu tudo o autor vem e diz: pense de novo?! Essa foi a sensação que tive durante todos as quase duas horas de duração de “Anna – O Perigo Tem Nome” (2019).

O longa é dirigido e escrito por Luc Besson, com distribuição da Paris Filmes. Está disponível no Amazon Prime Video, no catálogo brasileiro. Sugestão: assistam no áudio original.

O filme já começa na ação, com uma ação da CIA de 1985 sendo fracassada na Rússia, ou melhor, na URSS. Depois sabemos que era o KGB frustrando os planos da equipe do agente Leonard Miller e deixando a mensagem para ele e para o serviço secreto.

Passa-se 05 anos e vemos Anna sendo “descoberta” por um olheiro de moda, levando-a para Paris e tornando-a a próxima estrela das passarelas e dos editorais mais badalados da cidade luz. Vemos a inocente Anna se envolvendo com sua colega de quarto, Maude, e com o sócio minoritário da agência de modelos, Oleg.

Tudo certo, até que Anna mata Oleg e, mesmo despistando todos, é interrogada por Leonard Miller. Por hora, ela também consegue o despistar, mesmo ele dizendo que irão se ver novamente.

A história volta mais três anos, mostrando Anna em um relacionamento abusivo, drogada, submissa e nem a sombra da filha do oficial da Marinha que era ou da espiã que viria a se tornar. O agente da KGB Alex Tchenkov faz uma proposta a Anna, ela seria treinada pela agência e serviria por 05 anos, depois ela poderia recomeçar, seria livre.

Mas era o KGB, e ela sabia disso, então era isso ou morrer. Ela até tentou morrer, mas Alex a convenceu. Anna foi treinada, reabilitada e se tornou uma máquina de matar, embora a chefe de Alex, Olga, ainda tivesse suas dúvidas. Não demorou muito para saber que não seria tão fácil ser livre.

Logo descobrimos que Anna não foi descoberta por nenhum olheiro de moda, o KGB implantou agentes no meio da moda, fez com que o olheiro fosse direto para Anna, assim ela poderia chegar em Oleg e executar a missão.

E foi um sucesso, tanto a missão quanto a carreira de modelo. Anna continuou em Paris, sendo liderada por Olga e morando com Maude, cumprindo cada missão com perfeição. Usando todas as artimanhas de disfarce que ela tinha nas mãos!

Lembram de Leonard Miller? Ele era ainda mais inteligente do que aparentava. Analisou cada passo de Anna, desde seu passado até a forma como pegava a bolsa, e a interceptou em uma missão, oferecendo-a uma contraproposta. Ela trabalharia infiltrada, a mando da CIA, por 03 anos e conseguiria sua liberdade. E ela aceitou.

Tudo corria bem, certo? Até o dia em que a CIA (Leonard, na verdade) a mandou matar o chefe do KGB, Vassiliev. E assim ela fez e desapareceu.

Acabou a história? Não, porque se trata de um filme de espionagem cheio de reviravoltas. Olga havia descoberto que a CIA estava em contato com Anna e ofereceu uma terceira via. Ela queria o lugar que Vassiliev ocupava, era de interesse dela a morte dele e sabia o quanto Anna queria sua liberdade.

Elas aramaram para enganar a CIA e o KGB, Anna saiu como morta e Olga como chefe!

Ah, é, Alex e Leonard eram apaixonados por Anna e ela os amava verdadeiramente, pelo menos do jeito dela. Infelizmente eles não se encaixavam nos planos de fuga … Não, eles não morrem, mas têm os corações partidos.

Esse é um dos filmes mais surpreendentes do gênero, embora tenha alguns clichês de filme de espião e algumas cenas forçadas. Os diálogos são bem construídos, a fotografia é linda e a história é bem contada, você espera a reviravolta, espera saber as reais intenções de cada personagem, espera que Anna realize seus sonhos.

As intenções dos personagens me chamaram muita atenção. Em TODO filme de espião você tem aquela certeza que não dá para confiar em ninguém, nesse é diferente. Alex e Leonard de fato gostam de Anna, eles têm a intenção de a ajudar, Maude também e ela é simplesmente uma modelo, não tem ligação com agência nenhuma, Olga, apesar dos pesares, tem Anna como filha, é honesta quando tenta a ajudar.

Falando em Maude, é a personagem mais injustiçada. Ela realmente se apaixonou por Anna, ajudou sentimentalmente em vários momentos, sofreu de fato, mas Anna não deu nenhum um pingo de atenção, nem para deixar uma carta de despedida. Quem dá vida a Maude é a modelo Lera Abova, que faz sua estreia como atriz nesse filme.

Olhando assim a descrição parece um filme sombrio, frio e calculista, mas não é bem assim.

Anna mesmo é realmente muito fria, aquela persona de máquina de matar, belíssima, com cara de inocente, mas não dá um sorriso real (aos poucos sabemos a razão disso). Ela é vivida por Sasha Luss, modelo russa em seu primeiro papel de destaque como atriz.

Mas os personagens ao seu redor dão uma aliviada na atmosfera, ganhamos cenas cômicas por isso.

Olga é uma senhora russa caricata, com grandes óculos quadrados e um inglês com forte sotaque russo, sempre carregado de sarcasmo e superioridade. Quem poderia emprestar seu talento para esse personagem? A dama dourada Helen Mirren (referência ao filme “A Dama Dourada”/”Woman in Gold”, de 2015).

Alex Tchenkov é um temido agente do KGB, mas na frente de Olga ele é submisso e temeroso (por respeito e medo), além de sempre estar CLARAMENTE torcendo por Anna (podemos ver alguns sorrisinhos de canto de boca). Embora não tenha a mesma confiança inabalável de Gaston (“Bela e a Fera”, live-action de 2017), Luke Evans consegue mostrar o lado cômico de Alex.

Leonard Miller é de fato sério, poucos sorrisos, observador e inteligente, mas claramente irônico (e, por isso, cômico) e levemente apaixonado (talvez nem tão levemente). Seu semblante é leve, mas ainda calculista, nem tanto quanto seu o icônico Thomas Shelby (da série “Peaky Blinders), mas Cilian Murphy dá mais um show de interpretação.

Sim, sou fã deles, por um momento, na cena final, fiquei pensando: “Cara, olha Gaston enfrentando Thommy, se começar a cantar vai levar corte de navalha nos olhos, só de besta que é”.

Mais uma coisa … Tento não olhar comentários dos filmes antes de resenhar, para não ser influenciada e conseguir dá minha opinião honesta, dessa vez acabei trombando com alguns comentários de “Anna – O Perigo Tem Nome”.

Foi algo bom, porque eu não entendi a razão desse filme não ter tido muita divulgação, mesmo tendo esses nomes famosos. Algumas pessoas têm reclamado dizendo que as cenas de luta não são realistas, o comentário que vi foi rebatendo essa crítica, a pessoa lembra que os filmes desse estilo, estrelados por homens, não recebem as mesmas críticas.

Resumo da ópera? O 007, o Duro de Matar, o John Wick, mesmo passando da idade, podem matar quem quiser e terem os interesses românticos que quiserem, mas uma modelo belíssima não é aceita mesma forma.

Vamos refletir esse pensamento machista, vamos? Assistam “Anna – O Perigo Tem Nome” sem essa visão, foquem na inteligência da trama!

Até mais.

Obs.: O comentário que cito são do site IMDb.

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