Nando Reis e Colomy em Porto Alegre

Jamais vou me esquecer de uma frase que o Nando Reis proferiu em uma das insuportáveis (mas infelizmente necessárias, pra classe artística e pra saúde mental de tanta gente em casa) lives de 2020. Em tom de angústia, ele de sua casa sem qualquer traquejo pro formato disse: “Fomos a primeira classe a parar e infelizmente seremos a última a voltar e sabe-se lá quando isso irá acontecer’’. Com esse triste desabafo Nando falava por uma classe, a dos artistas, que simplesmente dependia de público, de gente, leia-se aglomeração para viver, tudo o que a nefasta pandemia proibia. Enfim, passados dois anos desse lamento, mesmo ainda não tendo a pandemia findado, mas com o ser humano resolvido, e com razão, a conviver com ela e viver a vida, Nando Reis e sua banda, os Infernais, fizeram um mega show na fria, mas ao mesmo tempo quente, noite dos namorados em Porto Alegre, com seu show Hits, no Araújo Vianna.

Com um auditório abarrotado como nunca, Nando trouxe como atração pro aquece da gélida noite a banda Colomy. Banda formada pelo seu filho Sebastião (aquele que o mundo era bão, como a música do paizão dizia) e uma dupla daqui de Porto Alegre, que outrora fazia parte da excelente banda Doris Encrenqueira, Pedro Lipatin na guitarra e voz e Eduardo Schuller na bateria, a Colomy nos dá uma verdadeira imersão a um rock setentista pesado, mas extremamente melódico, lírico, e não tem como não ver a influência dos guris pelo genial Spinetta e as grandes bandas do rock argentino setentista. Uma bela imersão sonora de melodia e peso, com belas canções próprias e ainda uma versão de Dona, famosa com o Roupa Nova, mas obra de Sá e Guarabira. Um belo show para uma plateia ainda entrando no recinto, provando que, obviamente, a força do pai Nando é uma dádiva pra banda, mas a gurizada tem luz própria, com um som de qualidade e muito bem executado.

Enfim por volta das 21h, agora sim com um Araújo intransitável de tanta gente , Nando Reis e seus Infernais, Walter Villaça na guitarra, Felipe Cambraia no baixo e Alex Veley nos teclados, acrescidos do talentoso Eduardo Schuller, que tocou antes com sua banda de abertura, já mandam o recado com Pré Sal. Mas como diz o nome da tour, Hits, palavra que o Nando diz não curtir muito, mas é inegável o seu talento em produzi-los, manda a galera cantar junto com Marvin, clássico da época em que era baixista dos Titãs. Emendando mais um clássico, chama o Segundo Sol, num show de luzes e som, com destaque pra ótima iluminação do palco. O sucesso eterno da sua eterna amiga Cassia Eller é cantado em uníssono pela plateia.

Segue o baile com As Coisas Tão Mais Lindas, Dois Rios, mais uma das suas cartas na manga, essa estourada com os mineiros do Skank e depois, na sequência, emenda Mantra, onde interage com palmas com a plateia. Nando Reis esbanja simpatia, é um perfomancer e tanto, com seu violão em punho dança, corre, conversa com o palco, fala do filho gaúcho que ele tem e, o principal, está cantando como nunca. Esbanjando agudos afinadíssimos encanta mesmo. Relicário, com sua breve explicação de sua composição, tem aquele momento psicodélico do show, onde a banda, sempre competente e agora acrescida do Schuller, um gigante na bateria, abusa no final da canção do instrumental, show de luzes e som.

Mais uma vez Nando revive seu momento titânico, com a sempre sucesso Não Vou me Adaptar, que logo emenda com Onde Você Mora, sucesso noventista dos regueiros do Cidade Negra, que muita gente não sabe que é obra dele. Em determinado momento do show, Nando convida Sebastião para tocar com eles, numa competente parceria, tocando a lindíssima N e Resposta, outro sucesso na voz de Samuel Rosa, que surgiu na mente do ex-baixista dos Titãs. Como o show estava sendo gravado, a Colomy é convidada a subir ao palco para registrar o momento, de Nando, os Infernais e a banda do seu filho, juntos tocam mais uma vez Dona, que de tão boa podia ser tocada diversas vezes, e mais uma vez a dupla Sebastião e Pedro mostram um lindo dueto vocal de arrepiar. Sebastião enfim se junta ao palco e Nando emenda seus sucessos Sim, Pra Você Guardei o Amor, aquele momento pra fazer casalzinho ficar juntinhos e cantar no ouvido em pleno Dia dos Namorados. Segue a festa com Sutilmente, fazendo todo mundo cantar junto.

Mas como o cara é uma máquina de sucessos, ainda tem tempo para a bela Sou Dela e a pulsante Luz dos Olhos. Chega aquele momento que Reis para as máquinas e conta a história de dois pares de tênis que marcaram a MPB, e pedindo pra galera iluminar o Araújo com seus celulares, ele toca o clássico que fez pra sua amada amiga Cássia Eller, All Star. Êxtase puro e uma imagem linda. Outro petardo vem em seguida, Cegos do Castelo vem à tona com a galera cantando junto, ainda mais numa noite de namorados, onde cuidar e amar é algo essencial. Na minha opinião, uma das suas músicas mais lindas, ainda mais com o arranjo incrível dos Infernais. Por Onde Andei, talvez o seu maior sucesso, encerra o set inicial do show, com mais casais, não casais ou simplesmente amantes da música cantando junto e sendo feliz.

No bis foi a hora de a casa ir abaixo de vez, Do Seu Lado, com sua energia contagiante, baixo pulsante e refrão, celebrando mais uma vez o amor, fez o Araújo delirar. Aliás, como Nando Reis é sutil, romântico e apaixonado nas suas canções, e está cada vez mais visceral nas suas interpretações, em forma, esbanjando carisma, mostrando de peito aberto seu lado político, suas preferências, o seu jeito de pensar, fazendo arte com seu jeito simples, mas intenso, poético e para alguns, apaixonante. Nando Reis foi um presente e tanto para os namorados, de todas as formas de amor, de gente que precisa de arte, e que esperou resiliente esses dois anos de terror que uma doença provocou no planeta, mas que foi recompensada, e muito, por um show de primeira, de um dos maiores ícones da MPB brasileira, não aquela clássica, e sim a música verdadeiramente popular e brasileira, e popular o Nando Reis sabe ser mais que demais.

 

 

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

 

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