Liniker apresenta Indigo Borboleta Anil em Porto Alegre

Dessa safra da nova música brasileira, com artistas jovens ousando, reinventando gêneros musicais e falando com lirismo e crueza a linguagem dos tempos atuais, com certeza a cantora Liniker tem uma das melhores vozes. Nascida em Araraquara, São Paulo, e despontando para o mundo com a banda Liniker e os Caramelows em 2014, onde gravou dois grandes discos, a cantora resolveu seguir seu vôo solo com seu disco Indigo Borboleta Anil, em 2021, que também dá nome à turnê que atravessa o Brasil, e que teve Porto Alegre na sua rota final, mais precisamente no Araújo Vianna, na noite de sexta passada. O NoSet cobriu esse show e contamos logo abaixo o que vimos.

Com um excelente público, com expectativa altíssima, por volta das 21h20min, a super banda com oito integrantes sobe ao palco e abre alas para a estrela da noite. Liniker chega com um vestido azul combinando com as botas e logo assume o microfone, dando um show de performance na canção Lili. Com um estilo cool, lembrando divas do passado e presente, a galera animada já se levanta e não senta mais. Segue o show com Antes de Tudo, onde ela se solta mais, dança freneticamente e encanta a plateia. Em Presente, a terceira música, mais uma do álbum solo, ela brinca com a voz, passando de momentos graves a sussurros agudos em uma aula vocal e performática. A cantora se apresenta, fala da emoção, que está já prestes a encerrar a tour e a importância de Porto Alegre em um momento muito especial da carreira, agora alçando vôos solos. Mas como o show é dela, anuncia que irá tocar clássicos da sua ex-banda, Liniker e os Caramelows.

Sem Nome, Mas Com Endereço do disco Remonta, de 2016, abre esse bloco, que segue com a ótima Bem Bom do disco Goela Abaixo e segue com um medley  de três sucessos Identidade, Calmô e Zero. A fantástica banda que acompanha a artista é um caso à parte, com três integrantes no naipe, percussão, um baterista incrível, que canta muito bem, baixo pulsante e um pianista excelente conseguem melhorar e muito as canções de estúdio, na salada sonora que é o som da Liniker, muito groove, samba, soul, black music, brasilidades, blues, música popular, tudo com uma sonoridade robusta e afiada, acompanhando com estilo a talentosa cantora.

Depois dessa lembrança da fase Caramelows, Liniker, em um momento intimista, fala da força de Djavan na sua carreira e sua influência. E apenas com o acompanhamento do tecladista canta Oceano, numa arrepiante interpretação, onde mostra todo o potencial de seu vozeirão e  tendo a segunda parte com a banda. Continuando a Djavaneação, ataca de Tanta Saudade, mais uma de seu ídolo, com azeitado arranjo da banda.

O baile segue com a divertida Clau, com mais um show à parte da artista. Liniker dança, rebola, faz caras e bocas, tem uma teatralidade na sua performance, herança do passado quando estudava para ser atriz, além de uma classe e simpatia, às vezes em falta na música popular brasileira. Com Psiu a massa delira mais uma vez, com a artista comandando um balé de braços estendidos e um público que cantou junto todas as músicas, com direito a solo da saxofonista e encerrando a canção com a frase “a gente merece o que é bom”. E merecemos mesmo. Para encerrar, ataca de mega sucesso Baby 95, onde mostra toda sua energia, agitando a galera e a banda fazendo uma performance em que cada músico mostrava suas garras, coisa de primeira e um gran finale apoteótico.

Mas claro que temos bis, né? E ele começa com Mel do álbum Indigo, e encerra realmente o show com Diz Quanto Custa, em mais um show à parte da exímia banda, e com Liniker mostrando todo seu potencial vocal, em uma energia alucinante.

Uma pena que o show foi curto, mas como compensação intenso, um repertório afiado, com uma artista e compositora com letras de seu tempo, que sabe usar tanto sua incrível voz grave e encanta com a suavidade dos tons mais altos. E mesmo com a mistura de gêneros consagrados, ela e sua banda conseguem dar uma roupagem moderna, misturando tradição e modernidade num mix sonoro de alta qualidade. E é claro, Liniker tem a sua aura pessoal, guerreira, trans preta no Brasil, conquistando seu espaço com muito talento, mostrando que sonhos não são só para serem sonhados e sim para serem vividos. E com certeza quem prestigiou esse show saiu satisfeito, encantado e emocionado com a intensidade da diva Liniker. Mais um para a conta das memoráveis noites do Araújo Vianna.

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