Kiko Loureiro no Bar Opinião em Porto Alegre

Domingo passado Porto Alegre teve o prazer de rever um velho conhecido do metal nacional. Kiko Loureiro, lendário guitarrista do Angra e com passagem pelo Megadeth, trouxe seu show novo em uma apresentação no Bar Opinião, uma mescla de sua carreira solo, Angra, alguma coisa do Megadeth e algumas referências que o fizeram um dos guitarristas mais respeitados do Brasil.

Com uma casa com um excelente público (cerca de 900 pessoas), Kiko Loureiro, nosso “tesouro” do metal, subiu ao palco passando das 20h30min, para delírio dos fãs. Muita gente que tem saudades do Angra clássico, gosta da sua técnica ou o idolatra por ter feito parte da banda de Dave Mustaine, vibrou quando abriu o show com Overflow, música de seu último álbum solo. Segue com Escaping, do seu primeiro disco, o No Gravity, de 2005, e fecha o primeiro bloco com Reflective, do álbum Sounds of Silence, de 2012. Uma amostra dos trabalhos que Kiko fez em paralelo com sua carreira. Logo depois, quebra o gelo, pega o microfone e finalmente fala com a galera presente, demonstrando sua timidez característica. Nessa amostra de três músicas, Kiko apresenta toda aquela referência noventista de música instrumental, com três composições empolgantes.

Para acompanhar a fera, tem os escudeiros do Angra, Felipe Andreoli no baixo, Bruno Valverde na bateria e o excepcional guitarrista Luiz Rodriguez. Um ponto negativo do show foi a equalização do som. Com uma altura ensurdecedora, doía os ouvidos a guitarra extremamente alta de Kiko. Claro que ele era a estrela, mas ela comia todos os outros instrumentos, tornando muitas vezes desagradável para a audição alguns momentos.  Depois de um começo empolgante, Kiko emenda três fracas composições, Pau de Arara, No Gravity e Vital Signs, mostrando a irregularidade de sua obra solo. Analisando friamente Kiko, ele é um guitarrista extremamente técnico, virtuoso, mas extremamente genérico. Em suma, suas composições são um mais do mesmo de sempre, tocado impecavelmente, mas sem grande emoção e feeling. Não é à toa que o Bittencourt que é um grande compositor…

Mas voltando ao show do Kiko, estou aqui pra falar dele, mesmo que mal, ele enfim empolga novamente com um medley de Angra que une Carry On, Spread of Fire, Nova Era, Morning Star, Evil Warning e Speed. Um grande momento, mas infelizmente a junção das músicas e o tempo prestado a elas foi pouco, porque convenhamos, muitos ali queriam ouvir Angra e de preferência com alguém cantando. Toca em seguida a chatérrima Du Monde e tem tempo para chamar um espectador para tocar no show. Aleatoriamente, um jovem rapaz sobe no palco, ganha a guitarra do Kiko e faz um ótimo improviso. Falo de Dudu Lima, um fenômeno da guitarra, fazendo a plateia delirar e a banda ficar impressionada. Momento de tirar o chapéu pra humildade do Kiko, deixar a sua guitarra pessoal nas mãos de outra pessoa, proporcionando um dos grandes momentos do show.

Na sequência, toca Conquer or Diel, da sua fase Megadeth, pra delírio dos fãs da banda do Mustaine. Emenda Killing Time, onde Kiko solta a sua tímida voz e não decepciona. Depois desse momento catártico, abaixa a chama com a regular Dreamlike, da sua carreira solo. Pegando no pé mesmo, acho estranho um cara do talento do Kiko ter composições tão fracas e despidas de emoção. Ele ainda parece do tempo que guitarra era só velocidade e riffs cortantes, mas enfim… Chegou o momento de Alírio Netto. Inaceitável desperdício o Kiko levar esse gigante da voz para tour e aproveitá-lo tão pouco no show. Se tivéssemos mais Alírio cantando, quem sabe teríamos um espetáculo mais agradável. Kiko então ataca com Rebirth, clássico do Angra, colocando o Opinião pra cantar. Alírio dando um show numa das grandes vozes do metal nacional. Clima quente quebrado com Dilemma, mais uma música fraquinha do nosso tesouro.

Breve pausa, e com aquela clássica introdução Crossing, a banda volta, aí sim para fazer o Bar ir abaixo com a antológica Nothing to Say, com mais um show de interpretação do Alírio, no clássico imortalizado pelo maior de todos (vai lá, do Brasil), o maestro André Matos. Kiko, logo após, lembra da influência de alguns álbuns de rock da sua vida, e fala do Made in Europe, do Deep Purple, como fundamental na sua criação musical. Do disco, manda ver com o clássico Stormbringer, dividindo os vocais com Alírio, numa gigante interpretação. O show termina com Enfermo, mais uma das músicas de Kiko Loureiro, findando assim a noite de domingo.

Kiko Loureiro é um fantástico guitarrista, referência mundial do instrumento, virtuoso e veloz, com fãs fiéis (levar 900 pessoas num domingo em Porto Alegre não é tarefa fácil), mas fez um show burocrático, apostando nas suas obras com pouco estofo, apostando pouco na sua fase brilhante do Angra e mostrando uma guitarra competente, mas pouco marcante, além de pouco aproveitar a excelente banda (2/5 do Angra) e de Alírio Netto, tornando um show em um experiência ensurdecedora, onde apenas se ouvia sua pouco inspirada guitarra num volume extremo. Confesso que decepção é a palavra exata para definir minha impressão sobre o Kiko solo, e isso que sou um grande fã de sua fase no Angra, o que prova que apenas técnica e velocidade, às vezes, não é o mais importante para tocar a alma…

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