Grupo Molejo se apresenta em Porto Alegre, no Araújo Vianna

Sem sombra de dúvida que o Molejo é muito, mas muito maior que Beatles, Rolling Stones, Ramones, Iron Maiden… Molejão é vida. E por  mais que Molejo sem Anderson Leonardo (se recupera de um tratamento de câncer) seja um pouco como a  canção Buchecha Sem Claudinho, a oportunidade de assistirmos, mesmo sem ele, o grupo de samba carioca mais divertido dos anos 1990, é algo que não poderíamos perder. Com sua mistura de Originais do Samba, Exporta Samba, pitadas de Fundo de Quintal, modernismos dos anos 1990 e muita descontração e humor, o Molejo é um dos grupos de samba mais queridos do Brasil. Era para ter vindo em dezembro, mas por motivos de saúde do Anderson cancelaram e vieram domingo passado, infelizmente sem o Anderson, mas no peito e na raça cumpriram com um super show no Araújo Vianna. E o NoSet não poderia deixar de conferir o Molejão.

O Araújo estava com um público muito aquém do que esperávamos, alguns fatores podem ter contribuído: a ausência do Anderson, um domingo às 21 horas, inicio de mês… enfim, cada show é um show. Mas o sexteto (na noite, quinteto) acompanhado de um timaço de músicos de apoio, subiu ao palco logo depois das 21 horas e começou uma verdadeira festa. Era o baile do Molejo. Começando com medleys de grandes sucessos como Clínica Geral, Não Quero Mais Saber de Tititi, Tá Maluca, Assim Oh e Zoar e Beber, desde o primeiro minuto fez o pequeno, mas super animado público levantar e sambar diferente com o Molejo. Aliás, entre dezenas de shows de cobertura, às vezes os que menos tem público são os mais animados, quem vai é de fé, adora o trabalho da banda e vai se divertir. Tem muito grandão da MPB com show lotado, que o público mais parece estar presenciando um funeral do que um show de música. Mas com o Molejo é diferente. A alegria dos cinco contagia, mesmo passando por esse drama com a doença do Anderson.

 

O baile segue com aquelas do início da banda, a genial Caçamba, o Pensamento Verde, as divertidas Cilada e Voltei. Andrezinho com seu surdo comandou os vocais, com apoio de alguns músicos, Jimmy Batera mostrando toda o seu talento, Lucio Nascimento nos vocais, repique de mão, afoxé e percussão precisos, Robson Calazans no tantan e voz e o Claumirzinho no pandeiro. Este é um show à parte, simpatia, com sorriso contagiante, cabelo armado, comandando a alegria do palco com suas coreografias, vale o show só ver a alegria de Claumirzinho.

Chega a parte que o Molejo mostra a versatilidade, de tantos pagodes que já fizeram, tem o momento que tocam Deixa Acontecer (Grupo Revelação), atacam com refrão de Trem das Onze (Demônios da Garoa), entretendo a massa, como numa roda de samba carioca.  Seguem o set com a divertidíssima e noventista Paparico, emendando com Ah Moleque e De Sampa a São Luiz. O grupo Molejo, como falei antes, por mais que tenha surfado na onda noventista, é um grupo muito tradicional, crias dos pagodes cariocas dos anos 1990, com muita competência, uniu o humor, o talento dos músicos e alguns elementos da época, o que os diferenciava muito dos genéricos grupos da década do boom do pagode romântico.  Não tem como não comparar o grupo com o antológico Originais do Samba, que eram um show à parte e usaram muito o bom humor nas composições. Mas estamos no show, teve tempo para Parabéns a Você para alguns na plateia, com direito a Parabéns da Xuxa e para não esquecer de onde tudo começou, emendam um maravilhoso medley da nata do pagode da década de 90. Teve Inaraí do Katinguelê, Temporal do Art Popular, Os Morenos com Marrom Bom Bom, Que se Chama Amor do SPC, logicamente, Raça Negra com Cheia de Mania e Que Pena, entre outras, fazendo o baile dos 90 do Molejo, contagiando o animado público. Após o medley Andrezinho pede pro auditório mandar forças positivas para Anderson Leonardo, internado. O público, com mãos levantadas, seguiu a ordem. No embalo rola o Samba Rock do Molejão, que antecede mais uma homenagem a alguns sucessos recentes como Lapada Dela, Pé na Areia, Morango do Nordeste e seguindo com clássicos como Gostava Tanto de Você, do síndico Tim Maia, os clássicos do Araketu, Mal Acostumado e Amantes, País Tropical, do Jorge Ben, mostrando como o Molejo é um baita grupo de samba. Nota positiva é que, às vezes, no Araújo Vianna, muitos grupos de samba ao se apresentarem, o show é prejudicado por um som ruim, mal equalizado, estourado. Nesse não posso negar que o som estava alto, mas tirando algumas falhas iniciais, estava melhor que muitos outros.

Doidinha Por Meu Samba, Garoto Zona Sul (a pedidos), Pimpolho, Brincadeira de Criança (que é sempre um show à parte quando tocam, com Claumirzinho comandando a massa com sua simpatia e coreografias) e fecham com Samba Diferente. Mas a grande surpresa da noite foi a presença de Xande de Pilares, que invadiu o palco, para delírio da galera ali presente. Xande e o Molejo tocaram vários sucessos do Revelação, como Coração  Radiante, Só Depois, Compasso do Amor e a empolgante Tá Escrito, que fez todo mundo cantar junto. Participação de gala numa noite que já estava ótima.

 

 

Para fechar os trabalhos, a vassoura é anunciada e o auditório vai varrendo a tristeza com a alegre Dança da Vassoura. Descobridor dos Sete Mares fecha o show e a banda se despede ciente que fez a melhor opção, matou no peito e cumpriu o show, mostrando que a banda é mais que apenas o Anderson, que se tudo der certo, vai estar aqui num próximo show. Em resumo, quem foi, além de ter visto um dos melhores filhos daquele pagode noventa, viu um divertido, empolgante e competente show de samba de primeira, com uma banda cancheira, que com a simpatia e talento comandam a massa como poucos. Vida longa ao Molejão, que fez nosso domingo ficar mais leve e feliz. Ah… e ainda teve como lambuja ver o gigante Xande de Pilares, ou seja, quem perdeu lamente, além de poder dizer que se não vimos os Beatles, vimos o Molejo.

 

Crédito das fotos: Vívian Carravetta.

 

Mais do NoSet