Godzilla II: Rei dos Monstros. O inimigo do meu inimigo…

A Warner acertou onde outras grandes produtoras falharam, através da revitalização dos monstros clássicos do cinema japonês que marcaram gerações. O início dessa empreitada se deu com Godzilla (2014) e seguiu-se por Kong: A Ilha da Caveira (2017). Agora chegamos a mais um patamar da trama que engloba os monstros gigantes (kaijus) e a companhia Monarch que tem a pretensiosa missão de capturar essas verdadeiras forças da natureza.

Com Godzilla II: Rei dos Monstros, terceiro ato dessa saga, veremos que a natureza é algo impossível de ser domado.

Qual o papel da humanidade na Terra?

Com esse questionamento, os três filmes lançam uma discussão que é muito pertinente. Afinal, o que a humanidade faz para preservar o ecossistema e tudo que nele vive? Ao longo de séculos, homens atacaram a natureza com todas as forças, mas a partir do advento da industrialização e, posteriormente, das guerras por poder, cada vez mais vemos uma verdadeira barbárie contra animais, ecossistemas e até mesmo contra a própria humanidade. Por meio dessa premissa (com destaque para os testes nucleares), os antigos Titãs despertaram e agora querem cobrar um preço por terem a paz perturbada.

A primeira aparição de um destes titãs se deu em Godzilla (2014), filme que retrata os fatos que trouxeram a mítica criatura que dá título ao longa. Nesta produção, por meio de cenas aparentemente antigas, o espectador se familiariza aos estragos feitos por testes nucleares e uso de armas de destruição em massa. Mais do que apenas demonstração de poder bélico, essas armas são as responsáveis por tirar do repouso seres que literalmente se alimentavam da radiação do planeta em eras passadas. O “retiro” desses seres aconteceu em função da diminuição da radiação na Terra, fato que os levou a procurar áreas mais próximas do centro do planeta onde os níveis radioativos ainda são suficientes para alimentá-los. Um ponto bem interessante desse longa-metragem é o destaque ao primeiro teste com armas nucleares que, na verdade, era uma tentativa para matar Godzilla.

Esse primeiro filme da Warner é o start para o MonsterVerse da Warner Bros/Legendary em parceria com a Toho Co. Ltd., empresa que conta com diversos longas dos gêneros kaiju e tokusatsu, cujo principal “astro” é o próprio Godzilla.

Neste Monsterverse, concluímos que a sede de poder e a incompreensão/desprezo da natureza são elementos que podem gerar muitos problemas. As duas produções envolvendo Godzilla e o filme sobre Kong mostram em sua essência as consequências do desrespeito à vida na Terra, o desconhecimento da natureza (em especial os Oceanos) e deixa dicas claras sobre os malefícios do mau uso da energia nuclear.

Interligação de tramas.

Há uma óbvia interligação entre Godzilla de 2014 e esta produção de 2019. Além de alguns atores do primeiro filme, Godzilla II: Rei dos Monstros traz novos resultados das pesquisas e do abuso de poder por parte da Monarch. Alguns desses resultados podem ser nomeados: Ghidorah, Mothra, Rodan e, claro, o próprio Godzilla, além de outros seres desconhecidos do público e um que esteve presente no primeiro longa do réptil gigante e também em Kong.

Kong, por sua vez, traz elementos humanos em doses maiores do que nessa nova produção. Ao contrário de “Rei dos Monstros”, o filme de 2017 foca bastante nos bastidores das ações da Monarch e também em tramas que justifiquem a presença de humanos na Ilha da Caveira. Como visto neste filme,  Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson e Brie Larson tiveram papel importante na história. Godzilla vs. Kong (previsto para 2020) selará o encontro entre o gorila gigante (que estará muito maior após 76 anos) e o Rei dos Monstros. Será uma prova de fogo para que Kong ganhe o título de King Kong.

Há ainda a coerência de estabelecer um intervalo exato entre o primeiro e o segundo Godzilla, já que as ações iniciais acontecem em 2014.

Registros históricos.

Todos os três filmes que até o momento compõem o MonsterVerse mostram cenas (rápidas) de fotografias de documentos e monumentos que comprovam a existência das criaturas desde tempos remotos. Uma dela apresenta, inclusive, a real origem de Ghidorah.

Tenham atenção a essas imagens e cenas pois elas dão indícios do que está por vir em cada uma das produções, além de fazer um claro link entre as obras.

Peça central.

A trama de Godzilla II tem um elemento central que permeia a obra: um aparato capaz de reproduzir sons nas frequências dos monstros. Novamente o ser humano mostra sua prepotência ao tentar controlar o irrefreável. Ainda que tenhamos toda a tecnologia que a era moderna permite, dificilmente teremos condições de controlar um tsunami, uma manada de elefantes em fuga, o calor, tornados e, neste caso, monstros ancestrais que eram os dominantes da Terra.

Mas a ganância e a sede de poder sempre estarão próximos aos anseios de homens e mulheres. Esta proximidade, via de regra, gera apenas desgraças e caos… E aqui não será diferente.

Sacrifícios.

A trama de Godzilla é mais complexa que a versão de 2019 por incluir um drama familiar e a necessidade de sacrifícios em prol de algo ainda maior. Nesta nova produção novamente há o sacrifício, mas agora o roteiro incluiu uma clara referência aos ataques a Hiroshima e Nagasaki. Alguns podem achar que isso está relacionado somente ao fato de haver a co-participação de uma empresa japonesa na produção do longa-metragem, porém o que eu creio é que a inclusão desta passagem foi feita de forma coerente e respeitosa a todos que perderam suas vidas diante do mal uso da energia atômica.

Esta cena também é vital para o prosseguimento do filme e serve como … um sutil pedido de desculpas e reconhecimento do código de honra japonês.

Som e cenas enlouquecedoras.

Definitivamente este é o mais impactante filme do MonsterVerse até agora. Sons que levam o espectador a uma imersão nas grandes lutas, monstros convincentes e ação quase ininterrupta. Como disse um amigo crítico cinematográfico na saída da cabine: “cada cena é um wallpaper”, fruto de CGI de altíssimo nível e uma bela composição fotográfica.

Elenco.

O elenco conta com grandes nomes conhecidos. Vera Farmiga é a dra. Emma Russell, mãe da jovem Madison Russell (Millie Bobby Brown). A doutora é funcionária da Monarch e vive separada de Mark Russell, interpretado por Kyle Chandler (a curiosidade é que o ator fez parte de outro filme de Kaijus: King Kong (2005) que teve a direção de Peter Jackson). Não há ligações entre King Kong (2005) com qualquer filme do MonsterVerse, já que são obras de estúdios diferentes.

Também gostei dos papéis de Ken Watanabe (que reprisa a personagem dr. Ishiro Serizawa, presente no primeiro Godzilla). Outra que fez parte do elenco do filme anterior é Sally Hawkins, novamente interpretando a dra. Vivienne Graham.

Os demais integrantes do elenco mostraram boas interpretações e foram importantes para o seguimento da trama. Destaque para Charles Dance que faz o ecoterrorista Jonah Alan e Aisha Hinds responsável por dar vida à Coronel Diane Foster.

Pouquíssimos momentos mostram fraquezas no elenco, mas isso está intrinsecamente ligado a algumas falhas no roteiro (falhas dentro do meu entendimento) explicadas no próximo tópico.

Credibilidade.

Ao considerarmos a existência de seres maiores que o Empire State, capazes de dizimar uma cidade em segundos e com poder – literalmente – nuclear, fica fácil perceber que Godzilla II trouxe às telas tudo aquilo que qualquer Tokusatsu sempre quis ver. As cenas de combate entre os monstros, os takes mais próximos, a movimentação e até mesmo a destruição provocada por eles são de um realismo assustador.

Entretanto há um ponto que incomodou: a sobrevivência dos astros do filme que fizeram parte das grandes cenas de luta, inclusive a final, que se assemelharam a um palco apocalíptico. Honestamente, um ser humano comum jamais sairia inteiro de um conflito entre dois seres com força equiparada a milhares de explosivos e também capazes de disparar radiação. Essa falta de coerência (com certeza voltada a dar maior tempo de tela aos atores e também já visando a sequência de 2020) foram responsáveis por quebrar uma parcela do encanto de contemplar seres mitológicos em uma contenda.

Entendam que essas lacunas não são culpa do elenco. Os roteiristas Michael Dougherty e Zach Shields exageraram e não foram alertados sobre isso pelo diretor Michael Dougherty. Qualquer um que contemple uma cena de guerra real sabe que as possibilidades de sobrevivência são poucas. O que dizer de uma guerra entre criaturas movidas à energia nuclear e de proporções colossais?

De qualquer forma, por causa do ritmo acelerado, apenas os mais atentos sentirão essa leve queda nas cenas ou perceberão essa incoerência.

E para justificar o título do post, preparem-se para a “união” dos frágeis humanos com o quase indestrutível Godzilla contra os monstros que há longos anos assombram a humanidade.

Extras.

Deixarei alguns vídeos interessantes que garimpei pela web. Há uma comparação da evolução de Godzilla ao longo das décadas (além da clara mudança de visual) e dos monstros que ele enfrentou. Outro vídeo mostra a comparação de tamanho entre criaturas clássicas do cinema e da animação, o que abrange desde Monstros S.A. até Star Wars.

Bom filme a todos e, por favor, comentem no post para que eu saiba o que gostaram, suas opiniões e críticas.

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