Kong: a Ilha da Caveira – O filme perfeito sobre o Rei Gorila.

King Kong é um ser que está impregnado na imaginação de incontáveis pessoas no mundo. Isso se dá pelo fato de estarmos falando de uma criatura criada para o cinema, mas que ultrapassou essa fronteira e chega agora a sua oitava versão. Mas o que motiva um diretor e uma produtora do porte da Warner a se arriscarem a criar outro filme sobre o gorila gigante? Tudo que deveria ser mostrado sobre ele já não foi feito? Não. Definitivamente havia ainda muito a ser mostrado sobre o gigantesco gorila, e esse filme cumpre à risca com sua missão de mostrar a antigos e novos cinéfilos o quanto ele pode ser fiel e, ao mesmo tempo, inovador.

Antes de prosseguir com a resenha, vejam um recado especial para nós, fãs brasileiros, enviado por Samuel L. Jackson, Brie Larson e Tom Hiddleston:

Agora, vamos aos fatos que justificam o título do post e também um pouco da história por trás da lenda King Kong…

A Trama Básica.

Kong mostra a história de um homem (Bill Randa, interpretado por John Goodman) que se vale de sua influência para chegar à misteriosa Ilha da Caveira. Suas intenções estão encobertas e não são reveladas inicialmente. Mas, para ir a um lugar distante e perigoso, contar com uma equipe militar de apoio e todo um aparato, ele tem que comprovar que sua expedição tem um propósito.

Uma equipe é formada e ela parte para encontrar a Ilha da Caveira, um lugar que só existe em fotos de satélites, inexplorado e cercado de mistérios.

Contrariando todas as expectativas, a equipe consegue chegar à ilha… e é encontrada por uma verdadeira força da natureza.

Similaridades.

Partindo do que está acima exposto, o leitor pode achar que estará novamente diante de um dos típicos filmes do King Kong e, em parte, está correto. Eu também pensei que estaria diante do óbvio, mas, felizmente, o óbvio não acontece em Kong. A direção concisa e dinâmica de Jordan Vogt-Roberts fez com que uma dica de Stephen King viesse à mente: uma história dependerá daquele que a conta para se tornar uma ótima história. E Jordan faz de Kong o melhor filme sobre o gorila gigante até hoje. Para frisar o quanto o diretor e o elenco conseguiram em termos de inovação e qualidade, vamos para uma breve análise da história por trás do mito King Kong.

A trajetória até aqui.

Já disse que King Kong apareceu antes em sete filmes. O primeiro deles mostra o tradicional enredo de um gorila gigantesco que é capturado e trazido para Nova Iorque. Uma vez lá, o animal é exibido como atração, porém os resultados são trágicos. Este filme é um marco por mostrar o monstro em stop motion, além de ter a clássica cena do combate no alto do Empire State Building. Atenção, pois é a partir daqui que se criou o “enlace” entre a protagonista e o gorila.

A seguir, no mesmo ano, embalados pelo sucesso do primeiro filme, surge O Filho de Kong, uma tentativa de arrecadar mais dinheiro, porém com um enredo fraco. As criaturas também são feitas em stop motion, porém é válido relembrar que esse efeito era simplesmente tão surpreendente quanto o que hoje assistimos com Kong.

Os dois filmes seguintes foram feitos no Japão e mostram um crossover entre Kong e a mítica criatura Godzilla. O recurso para dar vida aos monstros foi o uso de fantasias, algo que nos acostumamos a ver com séries como Spectreman e Ultraman, ambos posteriores a esse filme.

Apesar do visual bem simples para os dias atuais, esses filmes também foram bem sucedidos. As duas produções de 1962 e 1967 foram dirigidas pelo japonês Ishirô Honda.

1976. A febre é retomada com um remake de King Kong. Estrelado por Jeff Bridges e Jessica Lange, o filme foi um arrebatador sucesso. Dirigido por John Guillermin, essa obra avançou muito tecnicamente ao apresentar um gorila mais convincente e efeitos que lhe renderam o Oscar de Efeitos Visuais.

Nota: esse é o filme de estreia da atriz Jessica Lange, um dos destaques da série American Horror Story. É considerado o segundo filme específico sobre Kong e tem uma narrativa igual à de 1933, apenas com algumas nuances de enredo que incluem a escalada das Torres Gêmeas ao invés do Empire State. Sua influência atingiu o filme homônimo de 2005, mas teve uma péssima sequência em 1986 chamada King Kong Lives.

E eis que Peter Jackson resolve trazer à vida o Rei Gorila. King Kong retorna às telas em 2005 com o aval de ninguém menos que Peter Jackson na direção. Também vimos a ótima interpretação de Andy Serkis em dois papéis, incluindo o próprio gorila. Entretanto, o roteiro foi menos impactante que o esperado. A utilização do plot de que Kong é o protetor da protagonista se torna, por vezes, incoerente. A proximidade entre os personagens é espontânea demais e tem clara influência da obra original de 1933.

Aliás, esta é considerada a versão mais fiel ao original, incluindo partes do roteiro em que Ann Darrow é levada para filmar na Ilha da Caveira. O filme se passa em 1933 e também tem seu ápice no Empire State Building. Também foi o vencedor do Oscar de Efeitos Visuais, entre outros prêmios.

Então, após revisarmos a história cinematográfica do grande Kong, alguns podem questionar: há algo mais a ser feito com esse personagem? Sim, há. E caso você seja um saudosista que descarta remakes ou novas versões (em alguns casos isso é até condizente, conforme o filme), leia até o fim deste post e descubra os motivos que o levarão ao cinema.

Kong.

Alguns pontos em comum são apresentados nesta obra. Esses “pontos”, ressalto, não dizem respeito apenas ao filme de 1933, mas também aos filmes de 1976 e 2005, considerados fiéis à mitologia do símio. Esse já é um aspecto favorável do longa-metragem, uma vez que ele pegou ótimas ideias das obras anteriores e as lançou de forma muito melhor. E, acreditem, não é exagero.

A ida à ilha da Caveira, o ambiente inóspito, criaturas gigantes, uma tribo, a ideia de criar um vínculo entre o monstro e a protagonista, os malefícios da índole humana e, óbvio, o próprio Kong são pontos extraídos dos filmes que o antecederam. Mas isso não significa que temos a repetição de fatos ou a refilmagem de cenas com mais tecnologia para arrebanhar os espectadores mais novos. Esse filme foi feito com uma dose boa de pesquisa, tem um roteiro bem amarrado e ficou embasado por atuações boas.

Agora, antes de prosseguir, peço que, caso ainda não tenha assistido o filme, dê uma pausa na leitura, veja-o e retorne, pois alguns pequenos spoilers serão necessários para concluir o review.

Realismo.

Ok, sei que falar de realismo em um filme baseado em uma criatura fictícia é estranho, porém esse é um destaque na obra. Kong consegue fazer o espectador acreditar que aquilo é real. Mais do que isso, somos presenteados com cenas que foram aguardadas por décadas, antes impossíveis devido às limitações tecnológicas e de roteiro (lembrem-se do eu disse sobre contar bem uma história).

Elenco.

O elenco foi muito bem escolhido. Tom Hiddleston (A colina escarlate, Thor: Ragnarok, Os Vingadores), Samuel L. Jackson (Cell, Os Vingadores, O Lar das Crianças Peculiares), Brie Larson (vencedora do Oscar por O Quarto de Jack, Capitã Marvel, Scott Pilgrim contra o mundo), John Goodman (Rua Cloverfield 10, Os Flintstones, Speed Racer), John C. Reilly (Detona Ralph 2, Guardiões da Galáxia, Magnólia), Corey Hawkins (The Walking Dead), Jing Tian (A grande muralha, Circulo de Fogo 2), Toby Kebbell (Warcraft, Ben-Hur, Planeta dos Macacos: o confronto), entre outros. Eles interagem e conseguem uma boa química na tela, o que convence o público.

A narrativa.

Kong flui com facilidade. Essa fluência torna o filme agradável, muito devido à história. Conversei com alguns espectadores após a sessão e, quase de forma unânime, eles esperavam pouco dessa nova versão. Os motivos? Temor de uma fórmula desgastada, cenas que aparentemente seriam reprisadas e receio de que os efeitos visuais sobrepusessem o roteiro. De forma categórica, nada disso ocorreu. O que temos é um enredo ágil e muito inteligente que ganha fôlego com essa equipe excelente de atores, belas localidades, efeitos impressionantes e uma história amarrada de forma eficaz com início, meio e fim.

A trama começa em 1944, já bem próximo do fim da Segunda Guerra Mundial. Dois combatentes inimigos são abatidos e caem em uma ilha do Pacífico Sul. Mesmo isolados de seus companheiros, o ideal de vencer a guerra permanece. Eles decidem ir até o fim em uma luta mortal e, diante de um penhasco, têm sua luta interrompida por uma gigantesca criatura.

A narrativa é alterada para o ano de 1973, período em que o fim da guerra do Vietnã é anunciado pelo presidente Lindon Johnson. Bill Randa (John Goodman) busca apoio de um senador para que uma expedição até uma inexplorada ilha do Pacífico Sul aconteça. Os argumentos são suficientes e ele ganha apoio financeiro e militar para ir até lá. O prazo de exploração é pequeno e, por isso, apenas os melhores podem participar desse evento. Entre esse grupo de elite está o rastreador e ex-militar James Conrad (Tom Hiddleston), o coronel Preston Packard (Samuel L. Jackson) e sua equipe, a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson), o próprio Bill Randa e seus auxiliares da empresa Monarch, o geólogo Houston Brooks (Corey Hawkins), a bióloga San Lin (Jing Tian) e Victor Nieves (John Ortiz) que é um oficial sênior da Landsat (programa de monitoramento terrestre via satélites da NASA). As apresentações de cada personagem são feitas de forma gradual e é fácil compreender quais os papéis de cada um, outro fator visível de um bom roteiro.

Nas entrelinhas.

A presença da Monarch é indício de que há algo além do que foi dito. Nós, espectadores, já sabemos o que aguarda essa expedição, mas isso não impede que sejamos surpreendidos por cenas tensas que antecedem a chegada à ilha e, ainda mais, o primeiro encontro com Kong. A bela fotografia e os efeitos visuais são quase hipnóticos, pois prendem a atenção. Mais do que isso, as cenas no navio captadas por Mason através de sua câmera vão criando um vínculo entre o público e os personagens, algo quase documental.

O diretor teve a acertada decisão de não deixar claro quais são os perigos da ilha. Ela parece ser um local paradisíaco, mas essa beleza esconde muitas armadilhas e surpresas.

A criatura.

Kong supera seus antecessores de um jeito jamais visto. As habilidades e seu poder de destruição são evidenciados pela própria Monarch durante um briefing sobre a expedição. A presença de um navio destroçado décadas antes por algo desconhecido é apresentada em uma foto preto e branco aos componentes da expedição, o que os deixa apreensivos. Essa apreensão é descartada quando chegam ao lugar, um verdadeiro Éden, e são surpreendidos pela imponente figura de Kong. Em combate, mesmo dotados de equipamentos de guerra letais, o soldados e a equipe da Monarch e da Labsat são abatidos com rapidez e eficiência.

Kong tem o poder de destruição ampliado por sua agilidade, o uso do terreno (pedras, árvores e o que mais estiver ao alcance). Essas cenas são muito impactantes e tensas, já que presenciamos um massacre de pessoas que estávamos próximos, algo proporcionado pelos bons diálogos e por uma parcela pequena da história deles. Ponto para o roteiristas.

Homem contra a natureza.

O coronel Packard perde boa parte de sua tropa. Isso gera nele um ódio por Kong quase igual ao que Ahab  sente por Moby Dick, fato citado pelo próprio Samuel L. Jackson. Essa atitude de retaliação a todo custo irá gerar não só um conflito sem igual, mas também conduzirá o grupo para uma guerra da qual eles não têm a menor noção daquilo que os aguarda.

Alguns podem achar que o problema maior é o símio. Eles certamente estão enganados.

Criaturas letais se escondem no subsolo e se camuflam entre a vegetação. Tudo pode ser fatal nessa ilha… inclusive os próprios humanos e sua ignorância.

Trilha Sonora.

Toda a trilha sonora original está disponível no Spotify através destes links Kong: Skull Island. Original Motion Picture Soundtrack (orquestrada) e as músicas do playlist que são sensacionais e evidenciam a época em que o filme se passa Kong – Playlist. Essas músicas são responsáveis por ampliar a emoção de cada parte do filme. Até o nosso Jorge Ben Jor está presente!

As participações de Tom Hiddleston e Brie Larson foram suficientes?

Alguns questionaram se as participações da ganhadora do Oscar e do consagrado Loki eram necessárias. Alguns receios de termos outros personagens iguais ao King Kong de Peter Jackson existiram, mas estavam infundados. As atuações de Brie e Tom foram muito boas e não receberam o destaque absurdo que alguns filmes dedicam aos protagonistas, pondo para escanteio os demais personagens. Tanto Conrad quanto Mason foram incluídos para realmente interagir. Não são só um chamariz para o público.

Cabe ressaltar que Mason está a quilômetros de distância do estereótipo da mocinha frágil. Ela, inclusive, serve de gancho para algumas cenas do King Kong, mas sem o sentimentalismo que tornou os filmes anteriores menos realistas. O mesmo pode se dizer de Tom Hiddleston que é um anti-herói sem os superpoderes e a invencibilidade típicos dos “mocinhos”. Quebra do paradigma? Sim, porém muito bem vindo e coerente.

Vendetta.

Até onde um homem é capaz de ir ou sacrificar para conseguir seu objetivo? Esse questionamento está presente não só no papel dedicado ao coronel Packard, mas a outro personagem que confirma sua presença nesta expedição por simples vingança.

Novamente o ser humano sacrifica seus semelhantes por interesses mesquinhos e a sede incontrolável de retribuir à altura o que sofreu.

A persistência do homem.

O personagem de John C. Reilly, Hank Marlow, é o ponto de equilíbrio da balança para evitar que o filme ficasse sombrio demais. Seu humor é bem aplicado e ele tem boa participação no filme. Entretanto, o que marca é a sua cena final que irá emocionar muitas pessoas. Isso é fruto não só da atuação dele, como também das visões do diretor e dos roteiristas que lhe deram uma força e persistência capazes de criar uma empatia entre o público e o personagem. Go, Cubs!

Skull Crawlers.

A inclusão de seres diferentes dos pré-históricos apresentados por Peter Jackson dá base para a tese de que o subsolo terrestre esconde outras criaturas mais assustadoras e tão letais quanto o próprio Kong. Os Skull Crawlers são seres que lembram muito os kaijus de Círculo de Fogo. Isso é um fato importante e será abordado novamente nas cenas pós-créditos.

O questionamento que fica é: os testes atômicos despertaram ou libertaram essas criaturas abissais?

Cenas pós-créditos.

Elas existem e precisam ser vistas. As cenas revelam um futuro ainda mais tenebroso para a humanidade, além de destacar o poder que a Monarch tem. Repito: assistam!

Notas finais.

O filme mereceu o aplauso ao final da apresentação. Cenas marcantes, a retomada de um personagem icônico do cinema, atuações excelentes e humor em dose correta. Uma produção impecável à altura daquilo que todos os fãs de Kong esperaram por tantos anos. As caracterizações ficaram muito boas e as locações são lindas. Este é um sério candidato aos Oscars de Efeitos Visuais, Fotografia, Trilha Sonora e Edição. Eu aposto as fichas…

Curtam mais do filme acessando o site oficial: Kong: Skull Island.

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